quarta-feira, 28 de abril de 2010

Eu e o vôlei, o vôlei e eu!



– Tia, como é que você machucou o pé?

– Jogando vôlei.

– Também, né?, tia... Isso é que dá velha querer jogar vôlei.

Tive que ouvir essa pérola de um aluno da evangelização, trabalho que faço voluntariamente, com muito amor, todos os domingos. Tanto é que estava lá a postos, mesmo trajando uma incômoda bota de gesso. A frase idiota não ficou sem resposta, claro: “Você nunca ouviu falar em time master, não, amorzinho?”, mas o fato é que eu queria ter respondido: “Velha é o caralho!”

Como alguém pode se sentir velha tendo 41 anos num mundo que não para de nos fazer rejuvenescer? Obviamente, só rejuvenesce a cada dia quem quer. Tem gente que veste a carapuça da idade e se entrega mesmo, achando que, depois dos 40, é pagar mico usar minissaia, exibir longos cabelos soltos ao vento ou, simplesmente, sair pelas ruas com a joelheira arriada no tornozelo, indo toda serelepe pra aula de vôlei. Pessoas que pensam assim não estão com 40 anos... Estão com 60! “Se sentam” na poltrona pseudoconfortável, calçam os chinelos, vestem o roupão e ficam diante da TV vendo a vida passar...

Sabe, apesar do meu pouco mais de metro e meio, eu jogava vôlei na adolescência. No início da fase adulta, já casada, voltei a jogar na ACM e, em poucos meses, já tinha levado medalha de ouro pra casa. Mas como eu estava consolidando minha vida profissional, acabei tendo que largar o vôlei e quase 20 anos se passaram até que eu voltasse a uma quadra. Agora, quatro vezes por semana, visto a camisa tricolor (que honra!) e treino o esporte que sempre amei. Jogo com três ou quatro pessoas na mesma faixa etária que a minha. O resto é tudo garotada! Mas lá na quadra não tem diferença de idade. Somos a “família vôlei”. Todos se respeitam e se gostam. É um privilégio para mim eu me permitir estar ali, mesmo sendo uma... uma... velha (velha é o caralho!).

O vôlei me devolveu a auto-estima, levou embora uma porção de quilos extras, me ajudou a superar um grave problema familiar que vivi e ainda vivo (na quadra, não penso em nada!), já me trouxe mais uma medalha, me presenteou com novos amigos, me fez sentir viva e... JOVEM! Me trouxe também a botinha de gesso, rsrsrs! Torção no tornozelo... Quando eu jogava na adolescência vivia com o tornozelo enfaixado por conta do vôlei. Agora, cheguei a tentar convencer o médico a não me engessar: “Mas, doutor, na minha adolescência era só enfaixar que quatro ou cinco dias depois eu estava boa...” Aí tive que ouvir: “Mas é que depois de uma certa idade precisa imobilizar por no mínimo duas semanas...”

Bem, abafa o caso... Como diria o meu aluno, quem manda velha querer jogar vôlei! Mas vocês sabem também o que eu responderia a ele, né? Velha é o...!!!!!!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A mulher que virou Zoto


– Oi, meu nome é Rosiane. Mas pode me chamar de Zoto – disse estendendo a mão a bela mulher de 40 anos, ao ser apresentada a um charmoso cinquentão numa festa.

– Zoto??? Que apelido esquisito... Quer dizer, diferente! O que tem a ver Zoto com Rosiane? Não seria melhor te chamarem de Rosi?

– Ahhh, é uma longa história... Ganhei esse apelido do meu marido. Ou melhor, ex-marido!!!

O cinquentão se animou quando ouviu "ex" e se aproximou mais uns centímetros de Rosiane, para poder escutar melhor aquela história.

– Ganhei esse apelido carinhoso outro dia... E estou engasgada com ele até agora. Por isso resolvi incorporá-lo ao meu nome.

– Me conta, me conta – daqui a pouco o cinquentão ia ter um troço de tanta curiosidade.

– Pois é... Fui à praia com meu filho e meu marido, errr, ex-marido, e não tinha um centavo na carteira. Sabe, sou dona de casa, a profissão mais injusta da face da Terra. Sem salário, sem horário pra entrar nem pra sair, sem folga, sem férias...

– Prossiga, prossiga – o cinquentão estava mesmo ansioso, já imaginando ter aquela mulher em seus braços naquela noite mesmo.

– Então... Eu estava doida pra fumar! Mas, como eu estava brigada com aquele energúmeno mão-de-vaca, não podia dar o braço a torcer e pedir dinheiro pro pão-duro do meu ex.

O cinquentão gostou dos elogios ao ex e se aproximou ainda mais para continuar a ouvir:

– Daí eu pedi pro meu filho pegar dinheiro com o pai, dizendo que era pra comprar um refrigerante. Ainda vi quando o pai disse pra ele: “Esse dinheiro é só seu. Não divida com ninguém.” Com certeza, o ninguém era eu. Mas fingi que nem era comigo... Quando meu filho voltou com o refrigerante numa mão, me passou com a outra disfarçadamente o maço de cigarros. E ao dar o troco ao pai, ouviu a bronca: “Mas não é possível, tem troco a menos aqui.” Meu filho, com medo, se entregou... “É que eu comprei cigarro pra mãe...” Foi então que eu ouvi o desaforo: “Mas eu não te disse que não era pra gastar dinheiro com os zoto?!?!” E foi assim que eu virei... os Zoto!

O cinquentão fez que não entendeu:

– Como assim, Zoto?

– Presta atenção... Meu marido disse pro meu filho que não era pra gastar dinheiro com os outros! Os outros, na boca do pão-duro e ignorante, virou os zoto! Agora veja só você... Eu, uma mulher prendada, ser chamada de Zoto! Foi o fim pra mim...

O cinquentão segurou o riso e se animou... Se chegou mais e mais... Se era o fim para o ex, poderia ser o início para ele. Mas tomou um baldo de água fria quando ouviu a mulher falar cabisbaixa:

– O pior é que eu ainda amo aquele zoto lá...

– Ora, faça-me o favor. O cara te xinga e você ainda gosta dele?

– Ele não me xingou... Esse é o jeitinho dele falar... Não chega a ser bonitinho? – defendeu Rosiane com outro semblante agora, toda lânguida...

– Mas o cara é o maior pão-duro. Pra que insistir no relacionamento com esse mão-de-vaca????

– Peraê!!!! Eu não falei que ele é pão-duro e mão-de-vaca... O cara só é econômico! Você não tem direito de falar assim do meu ex-marido. Quer dizer, do meu marido! E, quer saber, boa noite! Tô voltando pra casa. Vou fazer as pazes com ele – decretou, deixando o cinquentão de boca aberta. E com o desejo murchando feito flor no vaso...

E assim a mulher que virou Zoto correu para casa, para os braços de seu Zotinho... Onde está bem aconchegada até hoje. E ele, deixou de ser pão-duro? Claro que não! Mas se economiza em dinheiro, não economiza no amor que dá para sua Rosiane...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Passado, presente e futuro

Ela andava angustiada... Muitas vezes se pegava com o olhar perdido, mirando o nada. Em seus pensamentos, corriam passado, presente e futuro. No passado, lembrava da paixão que sentira anos atrás quando o encontrou. Algo tão súbito e tão intenso. Uma sensação maravilhosa de preenchimento que achava que nunca acabaria. Mas acabou e veio o presente. Um vida repleta de atribulações, de incertezas. A paixão já havia esfriado fazia tempo, dando lugar ao amor. Mas agora até o amor baqueava. Por que as gentilezas rarearam, por que a presença se tornou inconstante, por que o elogio não saía mais daquela boca, por que a admiração não estava mais em seus olhos? Por quê? Por quê? Por quê?
Eram essas perguntas que gritavam em sua consciência quando seus olhos se perdiam no horizonte. Dava vontade de entrar no túnel do tempo e consertar o exato momento em que a primeira briga aconteceu, para que não houvesse jamais qualquer desentendimento. Dava vontade de ir lá atrás e calar a boca de todas as pessoas que lhe disseram: “Paixão não dura para sempre, muito menos casamento.” Daria um soco no meio das fuças dessa gente! Elas tinham que estar erradas. O chato é que estava começando a acreditar nelas... Esse era seu presente.
E então fechava os olhos e sonhava com o futuro... Se via encontrando um novo alguém. Uma pessoa que lhe fizesse rir, com quem adorasse conversar, com quem amasse estar junto até o sol nascer e depois disso. Uma pessoa especial que a olhasse de forma às vezes até constrangedora, tamanha a admiração que sentia por ela. Uma pessoa que lhe despisse com os olhos, prometendo – sem falar – momentos inesquecíveis de paixão. Um companheiro de verdade que a buscasse na porta do trabalho de surpresa e que a levasse para caminhar no calçadão sob a luz da lua cheia em plena quarta-feira. Alguém para toda a vida.
Mas então abria os olhos e voltava ao passado. Todas essas características estiveram nele, seu parceiro atual. Perdidas lá atrás...
É... talvez não adiantasse mudar o personagem. O roteiro já estava traçado. Tudo se repetiria... Paixão, amor terno, amor morno... incertezas. Se houvesse uma pessoa a ser mudada, era ela mesma. Ser mais dócil, mais companheira, mais caliente... Tentar trazer de volta aquele homem que a havia encantado anos atrás e que, provavelmente, também devia estar andando com o olhar perdido pensando para onde seu casamento estava se encaminhando...
Seria possível se reapaixonarem? Era preciso regar o presente, para colher esse futuro. E se ainda assim a plantinha não florescesse? O jeito era replantar a raiz em outro vaso e começar tudo de novo... Mesmo sabendo do inevitável ciclo do amor, valeria a pena.