quinta-feira, 24 de julho de 2008

Os homens preferem as encaracoladas

As lisas que me desculpem, mas cachos são fundamentais! Confesso que eu própria jamais ousaria aceitar uma verdade dessas. Mas fatos reais (que relato mais adiante) têm me provado que a cada dia cresce mais e mais o eleitorado masculino que deposita nas urnas o ‘sim’ para mulheres de cabelos cacheados. Ao passo que, neste plebiscito, a mulherada vota no “não”! Bem, vamos tentar entender este fenômeno nas linhas que seguem...
Os cachos fazem parte da minha vida desde antes de eu me entender por gente. São as fotos que denunciam: bastaram meus ralos fios de bebê crescerem para já começarem a encaracolar. Com uns cinco anos, eu tinha cabelos longos, ondulados, sem volume... Lindos! Mas quem disse que eu gostava? Lembro que eu ficava no jardim da infância admirando os cabelos da Vivi (não esqueço o nome, muito menos os cabelos!). Pela ordem de tamanho, era sempre ela quem vinha na minha frente no ‘trenzinho’ que conduzia do pátio da escola até a sala de aula. Eu grudava os olhos naqueles fios pretos, lisos, sedosos, quase japoneses, como se fossem um tremendo sorvete de chocolate pronto para ser abocanhado. Eu queria tocá-los, sentir sua maciez... Eu os queria para mim!!!!!
Mas a natureza só me dizia não! Aos 11 anos, quando menstruei, a mãe natureza foi ainda mais dura comigo: cismou em aumentar a espessura dos meus fios em alguns pontos. Vários pontos talvez. E sem falar no volume! Ó pai do céu! Quando eu me lembro do efeito Gal dos meus cabelos adolescentes, tenho até dó de mim. Se existisse o Oscar do melhor cosmético inventado, certamente quem o ganharia seria o criador dos cremes leave-in. Aqueles que você emplastra nos fios após o banho, penteia e não precisa fazer mais nada. Os cabelos secam como se houvesse uma camada de gumex ultramoderno ali e, num passe de mágica, permanecem domados, com pouco volume e cachinhos definidos. O chato é que, até que essa invenção viesse à luz dos seres humanos, tive que penar muito. E na pior fase: a adolescência.
Gente, eu dormia de touca... Não, não! Nada a ver com a antiga gíria “dormir de touca”, que significa “se deixar enganar”. Para quem não lembra ou não teve o desprazer de viver esta fase pré-leave-in, fazer uma touca era a solução anos 80 para alisar os fios indomáveis. Uma técnica complicada: com os fios molhados, era preciso escová-los completamente para um lado só, esticaaaaaaaaando bem e prendendo os pobrezinhos com um milhão de grampos. Depois é que entrava a tal da touca, que na verdade não era touca coisa nenhuma: amarrava-se um lenço ao redor da cabeça, para manter os fios bem presos, amassados e abafados. Meu Deus, eu dormia assim... QUE MICO!!!! O certo era passar a mesma quantidade de horas com os cabelos escovados e presos para um lado, depois soltar tudo e repetir a técnica para o outro lado, permanecendo o mesmo tempo. Como eu acordava supercedo para ir à escola, o jeito era soltar minha touca correndo de manhã, feita para um lado só mesmo, e sair correndo pelas ruas com a sensação de que a juba estava domada... Pena que era só sensação...
O fato é que eu sempre lutei contra meus cabelos ondulados e cacheados. Achava-os uma injustiça de Deus, uma vez que minha irmã tinha nascido com cabelos lisos! Por que eu tinha que padecer com minha piaçava, Senhor??? Tá certo que o Senhor não havia sido tão ruim assim e me dera um corpo de violão (coisa que minha irmã não tinha). Mas já imaginou que arraso seria eu se pudesse andar pelas ruas exibindo meu corpaço e, ainda por cima, com um cabelo balançando sobre as minhas costas, como um anúncio de xampu? Era o meu sonho! E eu não estou falando em conseguir este objetivo fazendo escova, técnica muito artificial, totalmente indefesa a gotas d´água. Até porque eu vivia a lei de Murphy: se fizesse uma escova, era chuva na certa!
Tive que esperar ter mais de 30 anos para meu sonho se realizar. Comecei a escutar um zunzunzum no meio feminino, dizendo que formol fazia mágica nos cabelos pixaim, o que dirá nos meus ondulados e cacheados! Mas era coisa do submundo estético... Ninguém sabia ao certo os efeitos colaterais do formol na saúde da mulherada. E quem disse que liguei pra isso? Tratei de marcar minha escova progressiva. Fiquei viciada!!!! Após três dias da aplicação, quando lavava os cabelos, meu pai do Céu! Milagre!!!! Lá estavam meus fios com efeito liso, duradouro, natural!
Lembro bem da primeira vez que fiz e saí do salão toda lânguida, com cabelos no meio das costas, esticados não apenas com o formol, mas também com muita chapinha. Eu andava pelas ruas linda e morena, balançando longos cabelos maravilhosamente lisos. Mais lisos do que os da Vivi, do meu jardim de infância. Não esqueço os olhares dos homens, me desejando! Também não esqueço os olhares das mulheres, desejando um cabelo igual! Era o início da era da escova progressiva e quem visse meus cabelos lisos jamais imaginaria que eram fake. E se alguém ousasse levantar suspeitas contra o meu DNA, eu mentiria: eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim! Lisa, leve e solta.
Pois bem, virei adepta da progressiva. E quanto mais eu fazia, como bem diz o nome, mais progressivamente meu cabelo ia ganhando um ar liso e natural. Foi então que caí do cavalo. Meu marido franzia o rosto cada vez que eu voltava do salão com cara de japonesa. Vivia chorando pelos cantos: “Que saudades dos seus cachinhos...” Eu retrucava: “É porque não é você quem acorda com os cachinhos transformados nos cabelos da Vanessa da Matta! Não é você quem tem que molhar ou lavar os cabelos todos os dias pela manhã pra que eles voltem pro lugar! Não é você quem tem que aplicar produto leave-in todo dia e nem sequer pensar em encostar a escova nos fios secos.”
Ah, só um parênteses... Quer ver o orgasmo da mulher de cabelos cacheados? É passar escova nos cabelos secos!!!! Mas isso só é possível quando ela está com escova progressiva. Senão, meu amigo, sai da frente! Em cabelo cacheado seco não entra pente. Muito menos escova. Quem se arrisca a fazer isso, sabe bem das conseqüências: transforma os cachos numa bela juba do urso do cabelo duro! No way, man!
Bem, voltando à minha queda do cavalo... À medida que meus cabelos iam ficando mais lisos, mais o universo masculino de fãs e amigos à minha volta começava a protestar. No meu aniversário, por exemplo, lembro bem da mensagem que meu querido amigo Pedro Scliar (um dos arautos da campanha “a volta dos cacheados da Ana Prôa”) escreveu no meu Orkut: “Aninha, minha querida amiga, meus parabéns. Que permaneça feliz, com esse sorriso maravilhoso, com os cabelos cacheados e não esticados, crescendo cada dia mais!” Ai, meu Pai, só o maluco do Pedro para escrever um negócio desses...
Mas ele não foi o único amigo que fez este tipo de comentário. Recentemente, uma figura que andou arrastando asa pro meu lado (sem sucesso, é claro) cansou de me dizer o quanto prefere as encaracoladas. Que mulher de cabelo cacheado é isso, que mulher de cabelo cacheado é aquilo... Uma série de vantagens que eu nunca havia observado. Resolvi, então, ceder aos apelos do meu marido e de toda a torcida masculina do Flamengo (eca!) que estavam ansiando pela volta dos meus cachinhos. E assim o fiz. Muito a contragosto, andei os últimos dois ou três anos ‘ao natural’.
Esta minha decisão muito se deveu, também, à análise de uma ‘tendência de mercado’. Passei a reparar no meu entorno, no sucesso de outras cacheadas. Minha prima Cris, por exemplo, dona de lindas madeixas encaracoladas (e ex-adepta da progressiva), vive sendo elogiada por conta de seus cabelos. Outro dia, na minha cara, meu marido teve a coragem de pegar nos cabelos dela e falar: “Poxa, sou amarradão no cabelo de vocês. Não sei por que cismam em alisar...” Quase esbofeteamos o Rômulo! E na minha casa, recentemente, eu e minha afilhada (viciada em chapinha) víamos fotos antigas, nas quais ela aparecia com seu belíssimo espécime de ondulados e cacheados. O namorado dela disparou: “Carol, gosto muito mais dos seus cabelos assim, cacheados!” Por pouco não o fuzilamos! Ó, Senhor, perdoai esses homens... Eles não sabem o que dizem...
E quanto às minhas amigas do sexo feminino? E quanto aos meus amigos gays? O que eles acham dessa história toda? Ah... É óbvio que me preferem de cabelos lisos! Tem coisa mais chique do que fios lisos, gente? Não é à toa que, na semana passada, resolvi desafiar a cara feia do maridão e fui experimentar uma novidade dos salões: a escova marroquina, que usa menos formol. D-I-V-I-N-A! Saí do salão com os cabelos balançando mais do que mulata em ensaio de escola de samba. E depois que lavei, que delícia... Cabelos tratados, macios, domados, sem volume. Do que preciso mais pra ser feliz????
Os homens que me desculpem... Eles podem até preferir as encaracoladas, mas nós, as encaracoladas, nos preferimos lisas! E não se fala mais nisso.

OU MELHOR, VAMOS FALAR MAIS NISSO SIM! Porque confesso que ainda não entendi qual a graça que os homens vêem nos cachos. Será algum fetiche? Me ajude a entender este fenômeno fazendo seus comentários e respondendo à minha enquete: POR QUE SERÁ QUE OS HOMENS PREFEREM AS ENCARACOLADAS? Aguardo suas respostas!

Carol, eu e Cris no auge da progressiva!


Eu com os cabelos encaracolados, clicados por um fã dos meus cachos: o querido amigo Pedro Scliar!