segunda-feira, 30 de junho de 2008

A decisão

Ela desligou o telefone. Já havia mandado um e-mail bem esclarecedor, mas era como se ele tivesse lido palavras sem nexo que esvaneciam em sua mente, sem atingir o coração. O coração dele, então, continuou batendo por ela. O dela, então... Também saía do compasso por conta dele. Mas uma decisão havia sido tomada: nada mais de alimentar uma história que era pura ilusão.
Mais uma vez, ela foi bastante clara. Seguiria sua vida junto ao homem que escolhera para amar e respeitar para todo o sempre, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Na terra e no mar...
O homem com quem ela conversava ao telefone não era esse homem. Havia entrado em sua vida como uma bóia salva-vidas jogada no meio do oceano de desilusões e solidão que seu casamento se tornara. À primeira vista, ela tinha que se agarrar a esta bóia. E quando suas mãos se sentiram seguras ao alcançá-la, experimentou o êxtase de ver que a bóia também a desejava. Estava sozinha, flutuando ao sabor das ondas, sem um corpo feminino a quem pudesse enlaçar.
Só que o inesperado aconteceu. Em vez de calmaria, o mar se tornou revolto. Ela, mesmo já dentro da bóia, inquietou-se com aquelas ondas traiçoeiras que vinham de todos os lados. O prazer de ter sido resgatada em alto-mar transformou-se numa ameaça ainda maior.
Foi então que ela avistou um farol. Lááááá longe... Brilhando sua luz compassadamente. Mas como chegar lá? Estava mesmo muuuuuito longe. Com a ajuda da bóia, foi nadando com pernadas lentas, mas decididas, rumo àquela luz. Custaria demais a chegar. Às vezes, ondas impiedosas a faziam recuar quilômetros... Nessas horas, tinha a sensação de que era melhor esquecer aquele farol. O seu farol! Mas tomava fôlego e seguia novamente em frente.
Até que finalmente chegou à praia. E qual não foi sua satisfação ao ver alguém tão conhecido saindo do farol. Ele... Aquele homem a quem ela havia feito sua promessa de amor eterno. Correu para ele, coração descompassado. Não sem antes tirar a bóia que envolvia seu corpo. Estava agradecida a ela por tê-la mantido viva. Por ter evitado que se afogasse em seus próprios sentimentos. Delicadamente, depositou a bóia ao sabor das ondas, para que pudesse salvar a vida de outro alguém.
Ela, então, se aninhou no abraço quente de seu amor e de lá não mais saiu.
Ao telefone, novamente, ela tentava explicar ao homem-bóia tudo isso... A importância que ele teve para salvar sua auto-estima, resgatar sua força de viver. Só que ela nunca havia pertencido a ele, nem ele a ela. Ela pertencia a um só. Alguém que ultimamente também devia estar vivendo sua tempestade em alto-mar. E agora as ondas da vida o traziam de volta para ela. Ambos haviam quase se afogado... Mas sobreviveram e se fortaleceram. Se o amor renasce das cinzas, por que não poderia renascer também das espumas do mar?
Ela desligou o telefone certa de sua decisão. Mas somente o tempo iria dizer se ela estava realmente certa.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Amor tricolor

Eu sei que prometi a ela que escreveria esta crônica sem dizer o nome da louca que, de colchão e travesseiro em punhos, passou a madrugada toda e parte da manhã dormindo na porta do Fluminense, para poder comprar seu ingresso para assistir à final da Copa Libertadores no Maraca. Sim, eu sei que te prometi, Cris! Mas, como você sempre me chamou de “bocuda”, não poderia esperar outra coisa dessa prima aqui, que há tantos anos chora (de emoção e tristeza) junto a você pelo NOSSO FLU.
Sabe o que me fez mudar de idéia? O gol do Flu, aos 11 minutos do primeiro tempo, no primeiro jogo da final lá em Quito. Não, claro que eu não estou assistindo ao jogo na TV. Senão não estaria aqui escrevendo no mesmo instante em que a redonda rola naquele gramado plantado em solo inimigo. Mas ouvi os fogos de artifício, ouvi os gritos da torcida (que saiu, definitivamente, do armário). Daí deixei o Word de lado para conferir no UOL: é Nense um a zero!!!!!!! É, prima... Tô aqui no computador, trabalhando... O Renato Gaúcho tá rico... Eu ainda não... E você, amada, está no Skina tomando todas e assistindo ao jogo, né?
Mas, inveja à parte, vamos à história da minha prima maluca...

Uma hora da manhã, Cris se despede dos amigos na Farani, após uma sexta-feira típica dos AMIGOS sertanejos. Só que, em vez de Bavária, minha prima gosta de cantar assim: Itaipava, Itaipava, Itaipava... Itaipavaaaaaaaaaa!!!!!!!! Sobe em sua Scooter e segue pra casa. Onde ela mora? Ah, mais inveja... Na rua do Fluminense! E se espanta ao ver, àquela hora, uma fila já avantajada para a venda dos ingressos para a final. A bilheteria só abriria às oito horas! Humph! Daquele jeito, ia ser difícil garantir o seu cantinho na arquibancada e reviver as emoções da semifinal com o Boca Juniores, que ela, obviamente, prestigiou.
Não seja por isso! Cris chega em casa, tranca sua scooter, sobe num pé, volta no outro. Levando debaixo do braço nada mais, nada menos, do que um colchonete e um travesseiro. Ué, qual o problema? Não tem gente que faz de tudo para ter um dia de princesa? A Cris decidiu que teria sua noite de mendiga! Tudo por amor ao Flu... Chegou na fila e pegou a senha de número 29, destinada aos sócios. Estava com sorte. Nem ligou quando uma mulherzinha (sim, muitas mulheres estavam na fila!) tentou dissuadi-la de ficar ali, alegando que a fila não tinha distinção entre sócios e não-sócios e que seu lugar era lá debaixo do viaduto, com todos os outros torcedores. Pô, aí já era demais! De colchonete, travesseiro e debaixo do viaduto?!?! Aí era só esperar a Fundação Leão XIII passar e levar minha prima pra um abrigo...
Pois a Cris fincou pé junto ao portão do clube. E, sem a menor vergonha, estendeu o colchonete, se recostou no travesseiro e... dormiu. A única pessoa – que dirá uma mulher! – a se deitar naquele chão, em meio a tantos mauricinhos sentados comodamente em suas chiques cadeiras de praia reclináveis. Dormiu e sonhou... Que estava no Maraca vendo o time desfilar com a taça nas mãos!
Às cinco da manhã, um companheiro de fila, gentilmente (tricolor é sempre gentil!), a acordou dizendo que os portões seriam abertos para que a horda de torcedores se acomodasse melhor nas arquibancas. Sonambulicamente, lá foi minha prima rumo à arquibancada. Mais uma vez, não se fez de rogada: estendeu seu colchonete e... zzzzzzzzzzzzzzzzzzzz!
Sol à pino, sete horas. Não deu mais pra Cris dormir. Quando abriu os olhos, timidamente, deu aquele pulo! A arquibancada, antes com meia dúzia de gatos pingados, estava lotada!!!!!!!! Sem saber onde enfiar a cara, perguntou para um “vizinho” se já estavam vendendo os ingressos. A resposta foi negativa. Mas ela própria teve que dizer “sim” para vários outros “vizinhos”, que começaram a perguntar: “E aí, dormiu bem?????” Ai, ai... Torcedor fanático paga cada mico...
Pouco depois das nove horas, a romaria chega ao fim. Com seu ingresso guardado a sete chaves dentro da bolsa – aquele pedaço de papel estava valendo mais do que um tesouro! –, minha prima ruma para o portão de saída. Na roleta, ouve a última de um funcionário:
– Pô, banquinho, cadeira de praia, tudo bem... Mas COLCHONETE E TRAVESSEIRO?????
Na segunda-feira, no caderno de esportes do O Globo, quem eu vejo lá! A foto de uma mulher babando no travesseiro, numa grande fila em frente ao Flu, esperando para comprar seu ingresso. Na legenda:

A QUE PONTO CHEGA O AMOR TRICOLOR...


(Pois é, prima... Estou aqui te zoando no meu blog! Você sabe que o parágrafo final é invenção minha. Mas que vc escapou por pouco de ir parar na mídia, ah, isso escapou! Pô, mas o pior vc não sabe... Acabei minha crônica agora e voltei ao UOL. O placar está 4 a 1 para o tal de LDU. Menina, será que valeu a pena tanto sacrifício?)

domingo, 22 de junho de 2008

Sombra do passado

Quando ela chegou com seu amor na cidadezinha em que ele havia sido criado, percebeu que basta uma centelha pra trazer de volta sentimentos que estavam adormecidos como um vulcão.
Ela observou o abraço demorado que seu amor deu num amor do passado. Uma mulher hoje casada e com filho, mas que ainda mantinha o viço da juventude transpirando por cada poro de sua pele morena.
Percebeu o sorriso dos dois. Percebeu a troca de olhares, retomando para o presente emoções do passado. Havia cumplicidade entre os dois. Coisa que só existe entre quem já se amou. Mesmo que cada um tenha decidido construir suas próprias histórias, há certas sombras que nunca se esvaecem. Insistem em ficar escondidas num cantinho do coração.
E naqueles dias de férias em que ela e seu amor passaram na cidadezinha onde ele se tornou homem, a sombra daquele antigo amor danou a ganhar forma de vida. Uma vida que ficou para trás, mas não se apagou.
Uma noite, seguiram todos para um barzinho. Ela e seu amor. A sombra do passado e seu novo amor. Bastaram alguns copos para a tal cumplicidade se deixar mostrar. Lembra daquilo? Lembra daquele? Lembra daquela?
A tampa de um baú de recordações se abriu, no qual ela e o novo amor da sombra não se encaixavam. Mas, movidos todos pela embriaguez, compartilharam sorrisos, risos soltos, gargalhadas. Os dois que estavam sobrando também comungaram daquelas memórias, como se as tivessem vivido.
Ainda que fosse desagradável para ela perceber que, antes de seu amor amá-la já tinha amado outro alguém, vestiu-se com sua armadura cor de rosa, pela qual nenhum dardo de ameaça feminina transporia. E muito menos demonstrações de ciúmes ela deixaria transpassar por aquela armadura. Guardaria para si, muito bem guardado.
Naquela noite, deitou a cabeça no travesseiro, mas seus pensamentos não se deitaram. Iam no passado, imaginando seu amor beijando a outra, falando suas palavras carinhosas para a outra, amando a outra da mesma maneira que fazia com ela.
Ao seu lado, seu amor caiu em sono profundo. Estava em paz em sua cidadezinha, acalentado por suas doces memórias.
Na manhã seguinte, ela acordou com nova disposição. Era o último dia naquele lugar. Arrumou as malas com alegria interior, sem deixar transparecer.
Tudo no carro, chegou a hora dos abraços finais. Do fim da rua, ela viu caminhar na direção deles a outra, o novo amor dela e o filhinho de mãos enlaçadas com eles. Viu ali uma família. Percebeu que não havia mais espaço para o seu amor naquela história. Ainda assim, respirou fundo. Precisava encarar mais essa. Viu que seu amor e a sombra do passado se abraçaram pela última vez. Segundos demorados demais para ela.
Quando chegou sua vez de abraçá-la, despiu-se de rancores, de ciúmes, de qualquer sentimento menor. Enlaçou seus braços na sombra, sabendo que seu espectro ficaria no passado. O presente era dela e de mais ninguém.
Entraram no carro e ela e seu amor rumaram para o futuro.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Faíscas

Os anos se passaram e ela nunca esqueceu aquela frase:
– De todas as mulheres que já tive, você foi a que mais me marcou na cama.
Mentira de homem? Bem possível. Mas, no fundo, ela sabia que era a mais pura verdade, porque...
– Você também. Nunca vivi com alguém a intensidade de sensações que experimentei com você.
Estas palavras foram jogadas numa mesa de bar, não após muitas rodadas de chope, como era costume entre eles. Mas num almoço. De despedida. Não havia teor etílico em nenhuma frase saída daquelas bocas de homem e mulher. Apenas sinceridade.
Eles nunca foram namorados. Amantes tão-somente. Amigos que, ao se verem, faiscavam. Para que a amizade se horizontalizasse, foram precisos muitos jogos de olhar, muita sedução, muita embriaguez.
Porque ele tinha alguém. Ela tinha alguém também. Mas, num intervalo de suas relações, a faísca virou um grande incêndio, que tomou seus corpos.
Num motel barato, deixaram vir à tona aquilo que estava submerso há tempos. Tesão. Puro tesão. Entre eles dois, havia sinal vermelho para o amor.
Uma noite inteira de entrega. Uma comunhão profana, celebrada com gemidos de prazer. Depois, o apagão sobre os lençóis, num entorpecimento de prazer.
A luz ainda fraca do sol transpassou a cortina rota do quarto. De sobressalto, ela retomou a consciência, lembrando que tinha uma reunião importante às dez. E, fitando o corpo nu que ainda dormia, escreveu no espelho com batom, dentro de um grande coração: “Foi maravilhoso!”
Flutuou pelas ruas rumo à sua casa. Engraçado... Nem mesmo com os homens com quem havia namorado, e supostamente tinha amado, se sentira assim. Não dormiu mais. Não havia sono. Estava completamente energizada pela força mais primitiva da natureza.
Chegou na reunião e não parava de sorrir. Uma colega notou algo diferente: “Nossa, como você está bonita, radiante...” Por cada poro de seu corpo, os vestígios da paixão exalavam satisfação. E ela passou o resto do dia com aquele sorriso bobo no rosto.
Não houve telefonema no dia seguinte. Nem no seguinte, nem no seguinte, nem no seguinte. Ela não se importava. Sabia que isso fazia parte daquele jogo que estava adorando participar.
Ela voltou para seu alguém. Ele começou com um novo alguém. Mas a cada briga de namorados, a cada fim de relacionamento, as estradas da vida os uniam novamente. E novas noites intensas vieram. Não em quantidade, mas em qualidade.
Até aquela tarde... Na mesa do bar, durante o almoço, se despediam.
– Encontrei alguém maravilhoso, com quem vou casar – disse ele.
– Nossa, que coincidência, eu também.
– Mas tem uma coisa que eu precisava te dizer. De todas as mulheres que já tive, você foi a que mais me marcou na cama.
Apesar da confirmação dela de que seu sentimento era recíproco, nada mais se podia fazer. Não cabia mais, para eles dois, a entrega de carnes, já que lhes faltava a entrega de almas. Só lhes restou dizer adeus.
O amor entre eles não estava nos planos.
Mas, sempre que se encontram, cada qual com seu amor ao lado, o melhor a fazer é evitar o olhar dentro do olhar. Algo lá dentro ainda faísca...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A jardineira

Um belo dia, ela acordou, virou-se na cama e se sentiu estranha. Quem era aquele homem ali, deitado ao seu lado? Decerto não era sua paixão. Aquele homem que a surpreendia no meio da tarde com um telefonema cheio de saudades, que virava o volante do carro repentinamente mudando o rumo para dentro de um motel, que dizia o quanto a amava não apenas na hora do sexo, mas a cada olhar que lhe lançava nos momentos menos charmosos do dia. Enquanto escovava os dentes, enquanto mexia a panela do brigadeiro que se lambuzariam, enquanto vestia a lingerie nem tão sexy assim para sair pra trabalhar...
Quem era aquele homem ali? Assustou-se! Há tão pouco tempo só pensava nele, só tinha olhos pra ele. E agora, com a luz do sol rasgando a persiana escolhida com tanto carinho anos atrás, perdia-se em cada detalhe daquele corpo seminu ainda reconhecendo sua beleza, mas sem sentir o arrepio de sempre. O sempre virou outrora... Virou lembrança. Virou desejo de voltar a desejar alguém tão intensamente.
Num movimento lento, o então estranho acordou. Espreguiçou. Olhou para ela. Sorriu. Um lindo sorriso vindo de dentes tão brancos, de uma boca tão linda. Sem nada dizer, ela se aconchegou em seu peito e foi envolvida por braços fortes. Tão másculos. Quem olhasse a cena de fora, diria que não poderia haver momento mais perfeito do que aquele. Mas ela não se sentia mais segura naquele abraço. Aproveitou para se aninhar naqueles pêlos tantas vezes explorados com a ponta de suas unhas longas, escondendo seu rosto ali, em fuga. Queria evitar que os olhos dele cruzassem com os dela e lessem o que era tão óbvio: ela não o amava mais.
Como isso foi acontecer? Não sabia ao certo. Assim como a semente do amor cresce ao ser regada com o carinho, com a atenção, com o companheirismo, a semente do desamor também foi brotando cada vez que ela se via sozinha em casa, cada vez que ele não dizia ‘eu te amo’ nos momentos banais, cada vez que ele preferia, ao voltar pra casa à noite, dividir as novidades do seu dia com a tela da TV.
Aquele estranho, de repente, carinhou os cabelos cacheados dela com extrema delicadeza. E percorreu a outra mão por suas costas nuas. De sua boca, saiu um inesperado ‘adoro acordar com você’. Ela estremeceu. Entendeu aquilo como um ‘eu te amo’ dito com outras palavras. Seria ainda possível? Ergueu a cabeça de seu esconderijo e mirou bem dentro dos olhos dele. Pretos como jabuticabas. Entrou em cheio naquele olhar e mergulhou fundo no interior do desconhecido. Passou por trás de seu nariz, de sua boca... Atravessou a garganta e invadiu o esterno. Estacionou no coração. E que surpresa... Em letras garrafais, lá estava escrito o nome dela. Aquele homem ainda a amava! Não expressava seus sentimentos como antes, mas ainda a amava.
Envergonhada, refez o caminho e tornou a pousar seus olhos sobre os dele. Deu um longo suspiro e sorriu. E o beijou suavemente.
Levantou-se de súbito, foi até a varanda e pegou a grande tesoura com que podava suas plantas. Voltou ao quarto e começou a cortar todas as ervas daninhas que estavam crescendo em seu casamento. Muitas delas, ponderou, haviam sido plantadas por ela mesma. Ao final, regou a grande planta do amor, que crescera ao longo de tantos anos, mas que andava tão sem vida. E ela recuperou seu viço. E ela voltou pra cama. Abraçou o ex-estranho e, dessa vez, não se escondeu mais.

sábado, 7 de junho de 2008

Efeito colateral

Chegou em casa com o sêmen ainda quente dentro dela. Afundou pensativa no sofá. Não havia como negar que tinha sido bom. Mas também não tinha sido uma maravilha. Apenas mais uma vez. Seu corpo estava acostumado há anos com o mesmo sêmen. Qualquer novidade, agora, gerava estranheza. Mas seu corpo haveria de se acostumar, até que ela encontrasse alguém que se tornasse costume dentro de si novamente.
O telefone toca. A essa hora? Com o coração iniciando descompasso, ela atende.
– Estou na porta da sua casa. Desce. Quero te ver.
Era ele. O dono do sêmen que seu corpo gostava.
– Não vou.
– Vem.
– Não vou.
– Vem.
Ela foi.
Entrou no carro. Ele disse estar com saudades. Apesar das incompatibilidades, algo no corpo dele ainda era extremamente compatível ao dela. Difícil apagar os anos passados juntos.
O carro começou a andar, como se sozinho. Já sabia o caminho de cor. Embicou na entrada do motel de sempre, mas ela disse “pára”.
Lembrou que, no cerne de seu corpo, havia algo ainda amornando. Estivera com um homem menos de uma hora antes. Não seria capaz. Leviandade, passou por sua cabeça.
Mas quando a cabeça de quem ama pensa, o coração faz questão de gritar o oposto. E ainda havia sentimentos ali que não a deixavam pensar. Os sentimentos eram confusos. Mas eram sentimentos.
Mandou que ele prosseguisse.
E que feliz seu corpo ficou ao sentir o sêmen amado! Recebeu-o com regozijo. Pediu mais. Teve mais. Embriagou-se.
E foi com ressaca que ela acordou no dia seguinte... Algo naquela mistura de líquidos seminais causou um rebuliço interno, com sérios efeitos colaterais.
O sêmen, ao encontrar outro em seu local de abrigo, encheu-se de ciúmes. Assim como o ácido corrói o alimento, ele começou a corroer os sentimentos que ainda restavam.
Não sobrou mais nada.
A partir daquele momento, ela estava, finalmente, liberta.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Tricolores saem do armário

05/06/08

Sou tricolor de coração. Mesmo quando ele esteve na terceira divisão. A rima é pobre, mas é verdadeira! Nunca abandonei a minha paixão pelo Fluzão (sim, no superlativo!), nem mesmo quando ele esteve pra lá do pior. Sou fiel!!! E fico muito embasbacada, mas muito mesmo, quando vejo alguém que é de um time mudar para outro. Acho uma fraqueza de caráter! E se tem algo que admiro em mim mesma é o meu caráter. Portanto, uma vez Fluminense, Fluminense até morrer (e que me perdoem os flamenguistas pelo plágio).
Pelas minhas veias, não corre apenas um sangue vermelho, mas também branco e verde. E ontem minhas veias tricolores bombearam sangue mais fortemente para meu coração. Ainda que não tenha ido ao Maraca, era como se estivesse lá. Que vibração! Que energia! Grudei os olhos na telinha a cada lance e tive orgasmos múltiplos (digo, triplos!). Três a um!!! Tudo bem, o ‘parceiro’ também teve sua chance de gozar. Mas então do riso fez-se pranto (permita-me roubar seus versos, meu querido Poetinha botafoguense – única falha que você teve...) quando o Flu meteu mais dois. Aí foi o êxtase...
O jogo acabou, a euforia ficou. Foi difícil pegar no sono. Uns 20 minutos depois, começou o buzinaço nas ruas próximas de onde moro. Uma horda de tricolores voltava pra casa e era um tal de apertar buzina, gritar Nense, e por aí vai... Acabei dormindo embalada por aquele hino: a alegria de ser tricolor! (Que mané rubro-negro!)
Num estado meio em alfa, me senti em plena Laranjeiras, onde tantas vezes comemorei a vitória do meu Flu embriagada de alegria. Fiquei admirada ao ver como tantos tricolores resolveram sair do armário. Onde eles se escondiam? Porque eu sempre estive aqui, perdida num bucólico bairro da Zona Oeste, gritando a plenos pulmões pela varanda de minha casa: NEEEEEEENSE!!!!!!!!!! Mas muitas vezes me sentia uma voz única. Seria preciso a vitória sobre um time argentino para fazer com que tantos tricolores se orgulhassem de ser o que são, mostrando a todos que não há coisa melhor no mundo do que ser Fluminense?
Sabe, sou do tempo (caraca, essa é péssima!) em que o ápice no Maraca era assistir ao Fla X Flu. Hoje, fico boba ao ver que o apogeu se encontra num clássico (irc! clássico pra quem, cara pálida?) Vasco X Flamengo. Então, a reação da torcida ontem diante da vitória sobre o Boca Juniors, que conduziu o meu Timão (com licença, corinthianos) à final da Taça Libertadores da América, me fez acreditar que há luz no fim do túnel: o Flu voltará a se sagrar entre os clássicos. Porque, ontem, vi pela tevê e nas ruas do meu bairro reações da torcida como se fosse final de Copa do Mundo. E se tem algo melhor que vitória da seleção brasileira na Copa, somente a vitória da SELEÇÃO TRICOLOR!

OBS – Queridos amigos flamenguistas, vascaínos, botafoguenses e até ‘americanos’ que me leram até aqui, por favor, não fiquem bravos comigo. Basta trocar as palavras ‘Flu, Flusão, Nense, Fluminense’ por todos os nomes que seus times são chamados. Porque futebol é uma paixão sem explicação: cada um ama um time, sabe-se lá o motivo. E tenho certeza de que você ama o seu igualmente como eu amo o meu. Cada um na sua! Mas, como esse é o MEU blog, segura mais uma vez: NEEEEEEEEENSE!!!!!!!!!!!