segunda-feira, 23 de abril de 2007

Meninas casamenteiras

Do alto dos nossos 12 anos, eu e minha melhor amiga, Elisa, tínhamos imensa curiosidade em saber com quem iríamos casar. Faltava muito, era certo. Mas esse assunto não saía de nossas cabeças. Ainda mais ao se aproximar o dia de Santo Antonio, o santo casamenteiro. No ano anterior, já havíamos quebrado ovo dentro de copo d’água e até fincado facão em pé de bananeira – sem obter a tão ansiada resposta com clareza. Agora, para desvendar o mistério, minha amiga me apresentou um plano infalível:
– Ana, li numa revista uma simpatia ótima! No dia de Santo Antonio, é preciso distribuir 13 moedas, cada uma para um menino. No último, basta perguntar o nome dele. Este vai ser o nome do homem com quem a mulher vai se casar!
– Caramba, demais! Acho melhor, então, a gente dar essas moedas diante da igreja de Santo Antonio, para não ter chances de erro!
Assim, no dia 13 de junho, partimos para nossa aventura. Com os bolsos cheios de moedas, chegamos ao Largo da Carioca, grande praça do Centro da cidade que reúne engravatados, artistas de rua, pedintes e gente de todo o tipo. É lá que, no alto de um morro, se situa a tal igreja.
– Bem, a gente não precisa subir essa escadaria, né? – retrucou Elisa, preguiçosa.
– Acho que não. Daqui debaixo a gente já recebe as bênçãos de Santo Antonio.
Quando metemos as mãos nos bolsos e começamos a distribuir as moedas, que susto! De repente, se formou à nossa volta um aglomerado de meninos de rua, ávidos para garantir um trocado. Brotaram de todos os cantos da praça, como se estivessem entocados à espreita de alguma alma caridosa que lhes desse um dinheirinho ou de alguma devota distraída com sua bolsa. No caso, nós éramos as almas caridosas...
Meio que apavoradas – sei lá se iam nos confundir com alguma devota distraída! –, eu e Elisa distribuímos as ditas-cujas com uma rapidez que não estava no script de nossa simpatia. Por pouco, quase que não conseguimos perguntar o nome do 13º menino. Mas, numa manobra mais ousada, agarramos os garotos pelo braço e fizemos a pergunta que não queria calar:
– Qual o seu nome? – soltamos em uníssono.
– Wendell – respondeu um.
– Valdisnei – falou o outro a Elisa.
Nossos olhares se cruzaram, como a dizer: “Ninguém merece!”
Deixamos a praça de cabeça baixa, sem muitas palavras, arrasadas com o destino que Santo Antonio nos reservava.

Os anos se passaram. Eu me casei com um Rômulo. A Elisa já está no seu segundo casamento: primeiro, um André; agora, um Rubens. Acho que Santo Antonio estava dormindo de touca aquele dia... Ou, então, lá do céu, tirou a maior onda com a nossa cara!

2 comentários:

Maria do Carmo Braga disse...

Muito boa! Adorei! Só imagino a cena no Largo da Carioca...
Maria (do Carmo)

Patrícia Simoens disse...

Oi, Ana.
Abri uma conta de Gmail só pra poder postar comentários aki, é mole? Uma atitude Solidarie-blogger! rsrs
Recuperando o tempo perdido, hoje li seu mês de abril. Amanhã é maio, e depois já tô em dia. Coloquei tb um link no meu blog pro seu, que vou comentar amanhã, dia de Santo Antônio.
Parabéns, ler o que vc escreve é uma delícia.
Bjs e inté,
PatSi.