sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Papo de maluco

Adoro andar de táxi, isso não é mistério pra ninguém – muito menos para o meu marido, que acha um absurdo eu gastar esse dinheiro tendo carteira de motorista renovadíssima na bolsa. Quando estou de bom humor e o papo do motorista é interessante, acabo dando corda à conversa. Hoje foi um desses dias. Mal entrei no táxi, um senhorzinho (ou seria um sinhôzinho? Você vai me entender...) de pele branca, rosto enrugado com barba por fazer e, na cabeça brilhante, últimos fios brancos espetados indicando que ali, algum dia, houve uma cabeleira lisa – e talvez loura – iniciou o diálogo da maneira mais tradicional possível:
– Quer que eu ligue o ar?
– Olha, tá meio abafado, mas pode deixar as janelas abertas mesmo... – respondi, completando com outro clichê: – Certamente vai chover mais tarde...
– Vai chover hoje, sábado, domingo e feriado!
– Feriado? Quando? – Me empolguei.
– Tô brincando com a senhora... Modo de dizer...
– Ah, tá.. Porque feriado de Zumbi só no final do mês – completei, desapontada.
Logo em seguida, me desapontei mais ainda. Fugindo completamente de qualquer frase feita, o taxista me dardejou:
– Sou contra o feriado de Zumbi. Pra que homenagear os negros? Olha, vou confessar, sou racista mesmo. Não gosto de crioulo!
Respirei fundo. Procurei não esboçar qualquer alteração no meu semblante. Eu estava de bom humor, lembra? Não seria um mané que iria alterar meus ânimos...
– É mesmo? Que interessante o senhor assumir isso... Está cheio de racistas por aí que fingem que não são, mas, pelas costas, metem o malho nos negros...
– Ah, é... Eu assumo que sou racista mesmo! Já até respondi processo por conta disso. Mas não posso mudar meu jeito de ser.
E daí ele desatou numa verborragia, essa sim cheia de clichês politicamente incorretos: “crioulo é que é racista... crioulo que chega ao poder só faz merda... basta um crioulo se dar bem na vida que já quer se casar com uma loura pra apresentar pros outros como um troféu...”
Daí interrompi:
– Êpa, mas e o Obama? Ele é casado com uma negra!
– Mas não demora muito ele vai largar ela e trocar por uma loura, você vai ver só!
A essa altura, eu já estava rindo. Achando tudo aquilo uma grande piada.
– Mas o senhor acha que ele vai fazer um mau governo só porque ele é negro?
– Olha, esse aí parece ser uma exceção... Acho que ele vai fazer algo bom sim. Mas escreve o que estou te dizendo: em breve, a primeira dama dos Estados Unidos vai ser uma louraça!
Ainda bem que a corrida era curta. Um minuto a mais, não sei se a minha paciência agüentaria. Desci do táxi parabenizando o velhinho com ares neonazistas por sua sinceridade.
– A melhor coisa do mundo são as pessoas sinceras...
Pena que eu não fui sincera com ele
.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Ficção científica ou realidade?

Estávamos, eu e um grupo de pessoas, fugindo desesperadamente de homens que nos perseguiam. Era uma sensação de angústia muito grande. Embrenhávamos pelo verde muito bonito das montanhas, mas tinha aquele cinza no ar de quem tem medo. No momento eu que eu corria sobre uma frágil ponte feita de bambus, tendo ao meu encalço um chinês fardado aterrorizante, vi aquela onda imensa surgindo por trás de uma montanha. Volumosa, barrenta, escurecendo o dia... Eu e o chinês corremos para dentro de um casebre à nossa frente, onde já se escondiam outras pessoas. Todos se agacharam e ficaram encolhidos, esperando, sem direito à defesa, o destino final. Mas a água não nos cobriu. E o som ensurdecedor da big hola parou.

Eu fui a primeira a me levantar. Coloquei uma das mãos pela janela, sem coragem de olhar o que havia lá fora, e senti meus dedos transpassando uma água não fluida, mas pegajosa, oleosa... Tomei fôlego e olhei: a extensão da onda havia chegado apenas à altura da casa em que nos abrigáramos. Agora, podíamos abrir a porta e ter um mar aos nossos pés. O que antes era montanha havia virado praia.

Gritei de felicidade: “Estamos salvos! A onda não nos atingiu!” Todos – perseguidos e perseguidores – vibraram e se abraçaram. Começaram a trocar sorrisos, carinhos e até presentes. A dor do medo havia unido a todos nós. Não havia mais ódios, nem guerras. Apenas a felicidade diante do fato de que tínhamos sobrevivido àquela revolta da natureza. Apenas a certeza de que nossa fé havia nos salvado. Porque, agachada, lembro que rezei pedindo a Deus que me ajudasse...

Saí da casa e vi a montanha agora envolta pelo mar. Mas a água não era mais a mesma... Havia realmente óleo nela. Teria sido uma catástrofe ecológica? Algo relativo à ganância dos homens em explorar petróleo nas camadas mais profundas da Mãe Natureza? Vi, ao longe (mas perto o suficiente para meus olhos e meu coração entenderem tudo), pessoas felizes nadando naquela água. Elas haviam descido de uma embarcação muito estranha, semelhante a um disco voador, que sugava todo aquele óleo com grandes aspiradores.

Sem que eu saísse de onde estava, um dos tripulantes dessa nave-embarcação me enviou a mensagem telepática de que estava ali em paz, para aproveitar todo aquele óleo tão vital para seu planeta, uma vez que agora não precisaríamos mais dele. Disse, também, que nos resgataria, para que pudéssemos ficar em seu planeta enquanto a Terra se reconstituiria da catástrofe sofrida.

E acordei...

Sim, isso foi um sonho. Tão real quanto a maioria dos sonhos que tenho. Tão cheio de simbolismos e mensagens. Será preciso que aconteça uma grande catástrofe natural para que os homens parem de guerrear e se unam fraternalmente? Será preciso que seres mais evoluídos de outros orbes resgatem os poucos sobreviventes para que a Terra se recomponha e, mais tarde, possamos voltar a habitá-la?

Dizem que, no estágio em que nos encontramos, o homem aprende pela dor, não pelo amor. Esse sonho reflete bem isso... Gostaria que nenhuma catástrofe fosse necessária para que todos nós aprendêssemos que, para melhorar o nosso planeta, basta nos amarmos, nos aceitarmos... Basta termos coragem de perdoar... Basta sermos mais solidários... Basta que deixemos de lado o egoísmo, a ganância... Basta que cada um faça a sua parte, para que o todo se transforme.

Mas, em vez disso, esperamos estaticamente pela grande onda que se aproxima...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Cheiro de cocô é f...

Amo tanto o meu Rio de Janeiro... Amo mais ainda a Zona Sul, onde nasci e vivi até os 34 anos. Foi exatamente no dia 20 de julho de 2003 que desci de uma caravela em meio a um bairro sem mar, mas com uma bela mata (quase) virgem: Jacarepaguá. Até hoje conto os segundos, minutos, horas, dias em que poderei voltar ao meu habitat natural: Laranjeiras, Cosme Velho, Flamengo, Botafogo... Olha que nem quero tanto... Quereria mais se estivesse me referindo a Ipanema, ao Leblon!

Bem, mas o fato é que estou começando a repensar esse meu retorno às origens. Hoje fui de ônibus da Praia Vermelha até a Lapa e tomei um baita susto olfativo... Passando em frente àquela praça que tem um índio asteca no aterro do Flamengo, subitamente um cheiro de cocô humano invadiu o ônibus. Fiquei constrangida, mas foi tudo muito rápido, porque ali o ônibus corre mesmo... Porém, uns dois minutos depois, ao chegarmos em frente à praça Paris, o cheiro - ainda mais forte, insuportável pra ser sincera - invadiu novamente. E o pior: o sinal fechou, o ônibus parou.

Pude observar a maravilha de cenário que se transformou a praça Paris. Mendigo pra tudo quanto é lado... Pessoas fazendo caminhada na praça não se incomodavam. Interagiam numa boa. E no ar aquele cheiro INSUPORTÁVEL de cocô... Enquanto o ônibus ficou parado, permaneci com os dedos tapando meu nariz. E reparei que ninguém
se importava. Todos os outros passageiros pareciam estar acostumados com aquela fedentina. Quase tive um orgasmo quando o sinal abriu e saímos daquele Vietnã olfativo...

Fiquei pensando num turista passando por aquela praça, ainda engraçadinha, ou pelo lindíssimo aterro do Flamengo... Que Rio é esse que temos a oferecer? Além de violento, também fétido?

É por essa e outras que gosto cada vez mais do meu atual bairro da Freguesia. Sem mendigos, sem mau cheiro, muito bom pra se viver. Pena que tão longe de tudo... Longe da praia de Ipanema, longe do parque dos Patins, longe das Paineiras, longe da pista Claudio Coutinho, longe da banana split saboreada nas muradas da Urca... Mas longe, também, do cheiro de cocô humano!

Vanessa tem cortado meu coração...

Vanessa da Matta já havia sido citada no me blog. Mas não pela sua música. Por seus cabelos! E que cabelos! Tem que ter uma auto-estima lá em cima pra exibir aquela cabeleira... Agora vou falar rapinho sobre sua música. Gosto de muitas canções dela. Tomar um banho de chuva, banho de chuva... É A MINHA CARA! Ninguém me entendeu tão bem quanto ao MEU PRAZER de ir pra rua sem guarda-chuva em dia de chuva. AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AI, AIIIIIIII! Bom demais!
Há algum tempo, ela cantava "Ainda bem que vc vive comigo, por que senão o que seria da vida, sei lá, sei lá...". Também fazia muita a minha cabeça e a do meu marido. ERA A NOSSA CARA! Agora, essa danada cabeluda, de voz tanto eufórica quanto aveludada, está fazendo picadinho do meu coração com a música "Amado". Fala sobre alguém que gosta de alguém que não devia e pede a Deus pra esquecer essa pessoa. Se isso fosse possível.
Olha, eu sou amada, eu tenho a meu lado quem eu amo. Mas, por motivos que só Freud explica, essa música me toca. Letra linda, arranjo lindo... Me faz achar que eu amo alguém que não me pertence, embora não seja bem assim. Acho que essa é magia de uma boa canção...
Vamos a ela?
Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr do Sol, postal, mais ninguém
Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus
Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais
É tanta graça
lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Sinto absoluto o dom de existir,
não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina
É tanta graça
lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você

MAGOEI! EU QUE QUERIA TER ESCRITO ESSA LETRA!!! (rsrsrs!) Mas foi a própria Vanessa, acredita? Além de cantar bem, escreve bem também! Ô inveja boa!!!!!! Deus abençoe o talento de Vanessinha Cabeluda da Matta!

domingo, 10 de agosto de 2008

O beijo que ela não deu

Ela fechou a porta de casa ainda sem saber se havia feito o certo. Foi para a cama, tirou sua roupa toda e sentiu o lençol carinhando sua pele. Apenas o lençol... Ficou lembrando das últimas horas passadas junto àquela pessoa que mexia tanto com suas emoções. Numa mesa de bar. Conversas jogadas ao vento. Uma banda começou a tocar músicas que remetiam à adolescência deles, agora quarentões. Levantaram, dançaram. Evitaram trocar olhares. Melhor assim.

Ambos tinham ‘donos’. Usavam uma coleira invisível com o nome de pessoas que já estavam na estrada com eles há anos. A estrada andava empoeirada, é bem verdade. Mas ainda existia. Naquela noite, estavam sós. Encontraram-se ao acaso, se é que o acaso existe. E por que não tomar um chope, bater um papo? Mal algum... Quase nenhum... O problema era esse ‘quase’.

Já fazia um tempo que se sentiam atraídos. Um sentimento abrasivo, inquietante, de tirar o prumo. Mas a bússola da razão os colocava na direção exata que tinham que seguir. Um caminhar reto, sem olhar para o lado. Só que ali, naquele instante, eles não tinham outro lado a olhar que não eles mesmos. Sem um toque sequer, sem uma troca profunda de olhares, conseguiam o inacreditável: olhar profundamente no íntimo de cada um...

Na pista de dança, cada letra de música transmitia um recado:

‘I wanna hold your hand…’

‘Eu te abraçava do you wanna dance…’

Mas ele não pegou nas mãos dela. E o abraço entre os dois não veio. As bocas ficaram sedentas por um beijo.

A sede foi morta em mais uma rodada de chope. Desceu quadrado. Se as suas línguas tivessem se conhecido, o chope escorreria garganta abaixo levando com ele o sabor gostoso do proibido.

A falta de coragem foi um tempero ruim para o fim de noite. Melhor voltar pra casa. A graça daquele encontro casual ficou perdida entre um passo de dança e outro. Formavam um casal que não era casal, embora, se fosse, talvez fosse um casal e tanto.

Com a pele roçando nos lençóis, agora frios, ela questionava-se qual o sabor que aquele beijo teria. Doce... Voluptuoso... Enérgico... Molhado... Transcendental... Normal... Apenas conjecturas.

Adormeceu. E foi então que teve a resposta. Suas almas se encontraram e se beijaram. Sentiu o calor quente subir por sua espinha, como se acordada estivesse. E então constatou. Bom, muito bom... Bom demais. Melhor ainda por fazer parte dos sonhos. Sem pecado, sem juízo alheio.

Acordou sem dor de cabeça. E seguiu sua vida.


sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Os homens preferem as carecas

Definitivamente, a antiga marchinha “É dos carecas que elas gostam mais” está completamente desatualizada! Agora, isso se inverteu: é das carecas que eles gostam mais! Não, não pense que estou falando do couro cabeludo feminino. Desce mais um pouco. Mais um pouco. Achou! Eu me refiro justamente à parte do corpo da mulher chamada de região pubiana ou púbis. E onde, nela, nascem os tais pêlos púbicos, mais conhecidos como... Bom, deixa pra lá. O nome é feio demais!
Eu me recordo bem de quando, criança inocente, espiei pela primeira vez (por um buraquinho que meus irmãos haviam feito na porta do banheiro de serviço) a ‘secretária’ lá de casa e sua filha adolescente tomando banho. Nossa, o que era aquele matagal na perereca delas??? (Naquela época, eu chamava a dita-cuja de perereca...) Não podia acreditar que eram pêlos. Mas eram, meus irmãos me garantiram! Passei a achar que, como elas eram de Minas Gerais, apenas as mineiras tinham pêlos na perereca. Minha mãe e minha irmã mais velha – cariocas – nunca haviam ficado nuas na minha frente (coisa de uma outra geração, que não existe mais...). Então, só podia ser coisa de mineira! Carioca que se preze jamais teria aquela deformidade no corpo! O tempo passou, minhas amigas da escola me explicaram que era assim mesmo e que não demoraria eu teria os meus próprios pêlos pubianos. E não demorou mesmo...
Quando eu já era casada, eu e meu marido pegamos um filme pornô dos anos 20 chamado Aurora. O escolhemos porque achamos engraçado desde a capa até o título (nome da minha falecida avó!). E realmente caímos na gargalhada quando vimos a protagonista nua, exibindo uma verdadeira Mata Atlântica sobre a delicada pele pubiana. Isso aconteceu em 1994. Eu, como mulher, já havia passado pela tendência dos anos 80 – fartos, mas sem exageros (o exagero havia feito parte da geração anterior, as hippies, com exceção da Claudia Ohana, que insistiu em mostrar seu matagal démodé na Playboy de 1985) – e, já no final desta década, adotara a boa cera depilatória para reduzir a abrangência lateral dos pêlos e a boa e velha tesoura para podar aqueles que insistissem em crescer mais do que cinco centímetros. Não foi à toa, portanto, que eu e Rômulo demos sonoras gargalhadas ao ver a Aurora, toda fogosa, exibindo sua peruca púbica. E o pior: deixando seu parceiro enlouquecido de tesão. Nós, telespectadores, apenas rimos...
Década de 90 adentro, a cera foi ficando mais ousada... Surgia o tal bigodinho de Hitler. Confesso que não aderi a essa moda. Pra que tanto? Quem se revoltou contra isso foi Vera Fischer, que não temeu bombardeios masculinos ao aparecer na Playboy, em janeiro de 2000, já com tenra idade e exibindo uma vasta cabeleira pubiana. Ela disse algo assim: “Sou contra a ditadura do bigodinho de Hitler!” Os homens babaram, as mulheres aplaudiram e caiu por terra o nazismo na Zona Sul feminina! Mas a cera continuou fazendo das suas. Tornou-se arte. A mulherada ia pro salão querendo depilar corações, raios, setas indicando o caminho do amor, a letra inicial do nome do amado, etc. Passei batida por essa moda (que tem muitas adeptas até hoje), porque não estou aqui pra fazer da minha região pubiana um Picasso (desculpem o trocadilho...).
Agora, meus queridos leitores, eis que a ditadura da cera decidiu ir mais longe... Desde o ano passado que mal posso crer no que tenho ouvido e visto. Primeiro ouvi: AIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!! Era minha cunhada Paulinha, na casa da minha sogra, passando pelo quarto da tortura com a nossa amiga e depiladora Cacau. Ao final, Paulinha veio toda orgulhosa me mostrar sua obra-prima: a ‘perseguida’ igualzinha como veio ao mundo. Sem pêlo algum! Dias depois, ela me contou que seu marido havia ficado enfeitiçado pela novidade. “Doeu como nunca, mas valeu a pena!”
Desde então, passei a observar que esta é mesmo a nova ‘tendência de mercado’ no campo dos delírios sexuais. Na Playboy, o que se vê agora é ex-BBB nuinha em pêlo – literalmente! Sem pêlo algum!!!!!! E a maioria das adolescentes estão aderindo em massa, talvez numa nova versão do complexo de Peter Pan: preferem se manter com corpo de criança, embora suas mentes... ai, meu Deus... melhor nem comentar!
Eu tenho um amigo de 44 anos – mas com corpinho de 22 – que está namorando com uma mulher de 19 anos. Como ele mesmo diz, voltou à adolescência. E não é que foi mesmo? Qual não foi sua surpresa ao transar pela primeira vez com a moça e constatar que, em lugar dos habituais pêlos das mulheres mais velhas com quem ele estava acostumado a se relacionar, só encontrou uma pele lisinha, macia, extremamente aconchegante. Ficou pirado! Extremamente excitado! Gostou tanto da novidade que quase quis fazer o mesmo com seus próprios pêlos... Mas pensou duas vezes e apenas os aparou. Melhor assim, né? Porque esse papo de que são dos carecas que elas gostam mais não se aplica muito nesse quesito...
Um outro amigo meu, de 37 anos, disse que nunca deu de cara com a dita-cuja pelada, mas que, se desse, não ia gostar não... “Parece coisa de pedófilo! Tô fora! Ia brochar na hora...” Na minha enquete masculina, esse amigo parece ser uma exceção à regra. Embora seu comentário faça enorme sentido, o fato é que mais e mais homens estão curtindo a novidade. A Playboy da Natália está vendendo a rodo. As clinicas de depilação estão com a agenda cheia para a ‘extirpação radical’. Desse jeito, daqui a pouco, a menina quando entrar na puberdade já vai fazer aplicação de laser pra nunca mais ter pêlos nessa região. Ai, se essa moda pega!!!! Meus futuros netos, quando me virem pelada, vão cair na gargalhada...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Os homens preferem as encaracoladas

As lisas que me desculpem, mas cachos são fundamentais! Confesso que eu própria jamais ousaria aceitar uma verdade dessas. Mas fatos reais (que relato mais adiante) têm me provado que a cada dia cresce mais e mais o eleitorado masculino que deposita nas urnas o ‘sim’ para mulheres de cabelos cacheados. Ao passo que, neste plebiscito, a mulherada vota no “não”! Bem, vamos tentar entender este fenômeno nas linhas que seguem...
Os cachos fazem parte da minha vida desde antes de eu me entender por gente. São as fotos que denunciam: bastaram meus ralos fios de bebê crescerem para já começarem a encaracolar. Com uns cinco anos, eu tinha cabelos longos, ondulados, sem volume... Lindos! Mas quem disse que eu gostava? Lembro que eu ficava no jardim da infância admirando os cabelos da Vivi (não esqueço o nome, muito menos os cabelos!). Pela ordem de tamanho, era sempre ela quem vinha na minha frente no ‘trenzinho’ que conduzia do pátio da escola até a sala de aula. Eu grudava os olhos naqueles fios pretos, lisos, sedosos, quase japoneses, como se fossem um tremendo sorvete de chocolate pronto para ser abocanhado. Eu queria tocá-los, sentir sua maciez... Eu os queria para mim!!!!!
Mas a natureza só me dizia não! Aos 11 anos, quando menstruei, a mãe natureza foi ainda mais dura comigo: cismou em aumentar a espessura dos meus fios em alguns pontos. Vários pontos talvez. E sem falar no volume! Ó pai do céu! Quando eu me lembro do efeito Gal dos meus cabelos adolescentes, tenho até dó de mim. Se existisse o Oscar do melhor cosmético inventado, certamente quem o ganharia seria o criador dos cremes leave-in. Aqueles que você emplastra nos fios após o banho, penteia e não precisa fazer mais nada. Os cabelos secam como se houvesse uma camada de gumex ultramoderno ali e, num passe de mágica, permanecem domados, com pouco volume e cachinhos definidos. O chato é que, até que essa invenção viesse à luz dos seres humanos, tive que penar muito. E na pior fase: a adolescência.
Gente, eu dormia de touca... Não, não! Nada a ver com a antiga gíria “dormir de touca”, que significa “se deixar enganar”. Para quem não lembra ou não teve o desprazer de viver esta fase pré-leave-in, fazer uma touca era a solução anos 80 para alisar os fios indomáveis. Uma técnica complicada: com os fios molhados, era preciso escová-los completamente para um lado só, esticaaaaaaaaando bem e prendendo os pobrezinhos com um milhão de grampos. Depois é que entrava a tal da touca, que na verdade não era touca coisa nenhuma: amarrava-se um lenço ao redor da cabeça, para manter os fios bem presos, amassados e abafados. Meu Deus, eu dormia assim... QUE MICO!!!! O certo era passar a mesma quantidade de horas com os cabelos escovados e presos para um lado, depois soltar tudo e repetir a técnica para o outro lado, permanecendo o mesmo tempo. Como eu acordava supercedo para ir à escola, o jeito era soltar minha touca correndo de manhã, feita para um lado só mesmo, e sair correndo pelas ruas com a sensação de que a juba estava domada... Pena que era só sensação...
O fato é que eu sempre lutei contra meus cabelos ondulados e cacheados. Achava-os uma injustiça de Deus, uma vez que minha irmã tinha nascido com cabelos lisos! Por que eu tinha que padecer com minha piaçava, Senhor??? Tá certo que o Senhor não havia sido tão ruim assim e me dera um corpo de violão (coisa que minha irmã não tinha). Mas já imaginou que arraso seria eu se pudesse andar pelas ruas exibindo meu corpaço e, ainda por cima, com um cabelo balançando sobre as minhas costas, como um anúncio de xampu? Era o meu sonho! E eu não estou falando em conseguir este objetivo fazendo escova, técnica muito artificial, totalmente indefesa a gotas d´água. Até porque eu vivia a lei de Murphy: se fizesse uma escova, era chuva na certa!
Tive que esperar ter mais de 30 anos para meu sonho se realizar. Comecei a escutar um zunzunzum no meio feminino, dizendo que formol fazia mágica nos cabelos pixaim, o que dirá nos meus ondulados e cacheados! Mas era coisa do submundo estético... Ninguém sabia ao certo os efeitos colaterais do formol na saúde da mulherada. E quem disse que liguei pra isso? Tratei de marcar minha escova progressiva. Fiquei viciada!!!! Após três dias da aplicação, quando lavava os cabelos, meu pai do Céu! Milagre!!!! Lá estavam meus fios com efeito liso, duradouro, natural!
Lembro bem da primeira vez que fiz e saí do salão toda lânguida, com cabelos no meio das costas, esticados não apenas com o formol, mas também com muita chapinha. Eu andava pelas ruas linda e morena, balançando longos cabelos maravilhosamente lisos. Mais lisos do que os da Vivi, do meu jardim de infância. Não esqueço os olhares dos homens, me desejando! Também não esqueço os olhares das mulheres, desejando um cabelo igual! Era o início da era da escova progressiva e quem visse meus cabelos lisos jamais imaginaria que eram fake. E se alguém ousasse levantar suspeitas contra o meu DNA, eu mentiria: eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim! Lisa, leve e solta.
Pois bem, virei adepta da progressiva. E quanto mais eu fazia, como bem diz o nome, mais progressivamente meu cabelo ia ganhando um ar liso e natural. Foi então que caí do cavalo. Meu marido franzia o rosto cada vez que eu voltava do salão com cara de japonesa. Vivia chorando pelos cantos: “Que saudades dos seus cachinhos...” Eu retrucava: “É porque não é você quem acorda com os cachinhos transformados nos cabelos da Vanessa da Matta! Não é você quem tem que molhar ou lavar os cabelos todos os dias pela manhã pra que eles voltem pro lugar! Não é você quem tem que aplicar produto leave-in todo dia e nem sequer pensar em encostar a escova nos fios secos.”
Ah, só um parênteses... Quer ver o orgasmo da mulher de cabelos cacheados? É passar escova nos cabelos secos!!!! Mas isso só é possível quando ela está com escova progressiva. Senão, meu amigo, sai da frente! Em cabelo cacheado seco não entra pente. Muito menos escova. Quem se arrisca a fazer isso, sabe bem das conseqüências: transforma os cachos numa bela juba do urso do cabelo duro! No way, man!
Bem, voltando à minha queda do cavalo... À medida que meus cabelos iam ficando mais lisos, mais o universo masculino de fãs e amigos à minha volta começava a protestar. No meu aniversário, por exemplo, lembro bem da mensagem que meu querido amigo Pedro Scliar (um dos arautos da campanha “a volta dos cacheados da Ana Prôa”) escreveu no meu Orkut: “Aninha, minha querida amiga, meus parabéns. Que permaneça feliz, com esse sorriso maravilhoso, com os cabelos cacheados e não esticados, crescendo cada dia mais!” Ai, meu Pai, só o maluco do Pedro para escrever um negócio desses...
Mas ele não foi o único amigo que fez este tipo de comentário. Recentemente, uma figura que andou arrastando asa pro meu lado (sem sucesso, é claro) cansou de me dizer o quanto prefere as encaracoladas. Que mulher de cabelo cacheado é isso, que mulher de cabelo cacheado é aquilo... Uma série de vantagens que eu nunca havia observado. Resolvi, então, ceder aos apelos do meu marido e de toda a torcida masculina do Flamengo (eca!) que estavam ansiando pela volta dos meus cachinhos. E assim o fiz. Muito a contragosto, andei os últimos dois ou três anos ‘ao natural’.
Esta minha decisão muito se deveu, também, à análise de uma ‘tendência de mercado’. Passei a reparar no meu entorno, no sucesso de outras cacheadas. Minha prima Cris, por exemplo, dona de lindas madeixas encaracoladas (e ex-adepta da progressiva), vive sendo elogiada por conta de seus cabelos. Outro dia, na minha cara, meu marido teve a coragem de pegar nos cabelos dela e falar: “Poxa, sou amarradão no cabelo de vocês. Não sei por que cismam em alisar...” Quase esbofeteamos o Rômulo! E na minha casa, recentemente, eu e minha afilhada (viciada em chapinha) víamos fotos antigas, nas quais ela aparecia com seu belíssimo espécime de ondulados e cacheados. O namorado dela disparou: “Carol, gosto muito mais dos seus cabelos assim, cacheados!” Por pouco não o fuzilamos! Ó, Senhor, perdoai esses homens... Eles não sabem o que dizem...
E quanto às minhas amigas do sexo feminino? E quanto aos meus amigos gays? O que eles acham dessa história toda? Ah... É óbvio que me preferem de cabelos lisos! Tem coisa mais chique do que fios lisos, gente? Não é à toa que, na semana passada, resolvi desafiar a cara feia do maridão e fui experimentar uma novidade dos salões: a escova marroquina, que usa menos formol. D-I-V-I-N-A! Saí do salão com os cabelos balançando mais do que mulata em ensaio de escola de samba. E depois que lavei, que delícia... Cabelos tratados, macios, domados, sem volume. Do que preciso mais pra ser feliz????
Os homens que me desculpem... Eles podem até preferir as encaracoladas, mas nós, as encaracoladas, nos preferimos lisas! E não se fala mais nisso.

OU MELHOR, VAMOS FALAR MAIS NISSO SIM! Porque confesso que ainda não entendi qual a graça que os homens vêem nos cachos. Será algum fetiche? Me ajude a entender este fenômeno fazendo seus comentários e respondendo à minha enquete: POR QUE SERÁ QUE OS HOMENS PREFEREM AS ENCARACOLADAS? Aguardo suas respostas!

Carol, eu e Cris no auge da progressiva!


Eu com os cabelos encaracolados, clicados por um fã dos meus cachos: o querido amigo Pedro Scliar!

segunda-feira, 30 de junho de 2008

A decisão

Ela desligou o telefone. Já havia mandado um e-mail bem esclarecedor, mas era como se ele tivesse lido palavras sem nexo que esvaneciam em sua mente, sem atingir o coração. O coração dele, então, continuou batendo por ela. O dela, então... Também saía do compasso por conta dele. Mas uma decisão havia sido tomada: nada mais de alimentar uma história que era pura ilusão.
Mais uma vez, ela foi bastante clara. Seguiria sua vida junto ao homem que escolhera para amar e respeitar para todo o sempre, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Na terra e no mar...
O homem com quem ela conversava ao telefone não era esse homem. Havia entrado em sua vida como uma bóia salva-vidas jogada no meio do oceano de desilusões e solidão que seu casamento se tornara. À primeira vista, ela tinha que se agarrar a esta bóia. E quando suas mãos se sentiram seguras ao alcançá-la, experimentou o êxtase de ver que a bóia também a desejava. Estava sozinha, flutuando ao sabor das ondas, sem um corpo feminino a quem pudesse enlaçar.
Só que o inesperado aconteceu. Em vez de calmaria, o mar se tornou revolto. Ela, mesmo já dentro da bóia, inquietou-se com aquelas ondas traiçoeiras que vinham de todos os lados. O prazer de ter sido resgatada em alto-mar transformou-se numa ameaça ainda maior.
Foi então que ela avistou um farol. Lááááá longe... Brilhando sua luz compassadamente. Mas como chegar lá? Estava mesmo muuuuuito longe. Com a ajuda da bóia, foi nadando com pernadas lentas, mas decididas, rumo àquela luz. Custaria demais a chegar. Às vezes, ondas impiedosas a faziam recuar quilômetros... Nessas horas, tinha a sensação de que era melhor esquecer aquele farol. O seu farol! Mas tomava fôlego e seguia novamente em frente.
Até que finalmente chegou à praia. E qual não foi sua satisfação ao ver alguém tão conhecido saindo do farol. Ele... Aquele homem a quem ela havia feito sua promessa de amor eterno. Correu para ele, coração descompassado. Não sem antes tirar a bóia que envolvia seu corpo. Estava agradecida a ela por tê-la mantido viva. Por ter evitado que se afogasse em seus próprios sentimentos. Delicadamente, depositou a bóia ao sabor das ondas, para que pudesse salvar a vida de outro alguém.
Ela, então, se aninhou no abraço quente de seu amor e de lá não mais saiu.
Ao telefone, novamente, ela tentava explicar ao homem-bóia tudo isso... A importância que ele teve para salvar sua auto-estima, resgatar sua força de viver. Só que ela nunca havia pertencido a ele, nem ele a ela. Ela pertencia a um só. Alguém que ultimamente também devia estar vivendo sua tempestade em alto-mar. E agora as ondas da vida o traziam de volta para ela. Ambos haviam quase se afogado... Mas sobreviveram e se fortaleceram. Se o amor renasce das cinzas, por que não poderia renascer também das espumas do mar?
Ela desligou o telefone certa de sua decisão. Mas somente o tempo iria dizer se ela estava realmente certa.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Amor tricolor

Eu sei que prometi a ela que escreveria esta crônica sem dizer o nome da louca que, de colchão e travesseiro em punhos, passou a madrugada toda e parte da manhã dormindo na porta do Fluminense, para poder comprar seu ingresso para assistir à final da Copa Libertadores no Maraca. Sim, eu sei que te prometi, Cris! Mas, como você sempre me chamou de “bocuda”, não poderia esperar outra coisa dessa prima aqui, que há tantos anos chora (de emoção e tristeza) junto a você pelo NOSSO FLU.
Sabe o que me fez mudar de idéia? O gol do Flu, aos 11 minutos do primeiro tempo, no primeiro jogo da final lá em Quito. Não, claro que eu não estou assistindo ao jogo na TV. Senão não estaria aqui escrevendo no mesmo instante em que a redonda rola naquele gramado plantado em solo inimigo. Mas ouvi os fogos de artifício, ouvi os gritos da torcida (que saiu, definitivamente, do armário). Daí deixei o Word de lado para conferir no UOL: é Nense um a zero!!!!!!! É, prima... Tô aqui no computador, trabalhando... O Renato Gaúcho tá rico... Eu ainda não... E você, amada, está no Skina tomando todas e assistindo ao jogo, né?
Mas, inveja à parte, vamos à história da minha prima maluca...

Uma hora da manhã, Cris se despede dos amigos na Farani, após uma sexta-feira típica dos AMIGOS sertanejos. Só que, em vez de Bavária, minha prima gosta de cantar assim: Itaipava, Itaipava, Itaipava... Itaipavaaaaaaaaaa!!!!!!!! Sobe em sua Scooter e segue pra casa. Onde ela mora? Ah, mais inveja... Na rua do Fluminense! E se espanta ao ver, àquela hora, uma fila já avantajada para a venda dos ingressos para a final. A bilheteria só abriria às oito horas! Humph! Daquele jeito, ia ser difícil garantir o seu cantinho na arquibancada e reviver as emoções da semifinal com o Boca Juniores, que ela, obviamente, prestigiou.
Não seja por isso! Cris chega em casa, tranca sua scooter, sobe num pé, volta no outro. Levando debaixo do braço nada mais, nada menos, do que um colchonete e um travesseiro. Ué, qual o problema? Não tem gente que faz de tudo para ter um dia de princesa? A Cris decidiu que teria sua noite de mendiga! Tudo por amor ao Flu... Chegou na fila e pegou a senha de número 29, destinada aos sócios. Estava com sorte. Nem ligou quando uma mulherzinha (sim, muitas mulheres estavam na fila!) tentou dissuadi-la de ficar ali, alegando que a fila não tinha distinção entre sócios e não-sócios e que seu lugar era lá debaixo do viaduto, com todos os outros torcedores. Pô, aí já era demais! De colchonete, travesseiro e debaixo do viaduto?!?! Aí era só esperar a Fundação Leão XIII passar e levar minha prima pra um abrigo...
Pois a Cris fincou pé junto ao portão do clube. E, sem a menor vergonha, estendeu o colchonete, se recostou no travesseiro e... dormiu. A única pessoa – que dirá uma mulher! – a se deitar naquele chão, em meio a tantos mauricinhos sentados comodamente em suas chiques cadeiras de praia reclináveis. Dormiu e sonhou... Que estava no Maraca vendo o time desfilar com a taça nas mãos!
Às cinco da manhã, um companheiro de fila, gentilmente (tricolor é sempre gentil!), a acordou dizendo que os portões seriam abertos para que a horda de torcedores se acomodasse melhor nas arquibancas. Sonambulicamente, lá foi minha prima rumo à arquibancada. Mais uma vez, não se fez de rogada: estendeu seu colchonete e... zzzzzzzzzzzzzzzzzzzz!
Sol à pino, sete horas. Não deu mais pra Cris dormir. Quando abriu os olhos, timidamente, deu aquele pulo! A arquibancada, antes com meia dúzia de gatos pingados, estava lotada!!!!!!!! Sem saber onde enfiar a cara, perguntou para um “vizinho” se já estavam vendendo os ingressos. A resposta foi negativa. Mas ela própria teve que dizer “sim” para vários outros “vizinhos”, que começaram a perguntar: “E aí, dormiu bem?????” Ai, ai... Torcedor fanático paga cada mico...
Pouco depois das nove horas, a romaria chega ao fim. Com seu ingresso guardado a sete chaves dentro da bolsa – aquele pedaço de papel estava valendo mais do que um tesouro! –, minha prima ruma para o portão de saída. Na roleta, ouve a última de um funcionário:
– Pô, banquinho, cadeira de praia, tudo bem... Mas COLCHONETE E TRAVESSEIRO?????
Na segunda-feira, no caderno de esportes do O Globo, quem eu vejo lá! A foto de uma mulher babando no travesseiro, numa grande fila em frente ao Flu, esperando para comprar seu ingresso. Na legenda:

A QUE PONTO CHEGA O AMOR TRICOLOR...


(Pois é, prima... Estou aqui te zoando no meu blog! Você sabe que o parágrafo final é invenção minha. Mas que vc escapou por pouco de ir parar na mídia, ah, isso escapou! Pô, mas o pior vc não sabe... Acabei minha crônica agora e voltei ao UOL. O placar está 4 a 1 para o tal de LDU. Menina, será que valeu a pena tanto sacrifício?)

domingo, 22 de junho de 2008

Sombra do passado

Quando ela chegou com seu amor na cidadezinha em que ele havia sido criado, percebeu que basta uma centelha pra trazer de volta sentimentos que estavam adormecidos como um vulcão.
Ela observou o abraço demorado que seu amor deu num amor do passado. Uma mulher hoje casada e com filho, mas que ainda mantinha o viço da juventude transpirando por cada poro de sua pele morena.
Percebeu o sorriso dos dois. Percebeu a troca de olhares, retomando para o presente emoções do passado. Havia cumplicidade entre os dois. Coisa que só existe entre quem já se amou. Mesmo que cada um tenha decidido construir suas próprias histórias, há certas sombras que nunca se esvaecem. Insistem em ficar escondidas num cantinho do coração.
E naqueles dias de férias em que ela e seu amor passaram na cidadezinha onde ele se tornou homem, a sombra daquele antigo amor danou a ganhar forma de vida. Uma vida que ficou para trás, mas não se apagou.
Uma noite, seguiram todos para um barzinho. Ela e seu amor. A sombra do passado e seu novo amor. Bastaram alguns copos para a tal cumplicidade se deixar mostrar. Lembra daquilo? Lembra daquele? Lembra daquela?
A tampa de um baú de recordações se abriu, no qual ela e o novo amor da sombra não se encaixavam. Mas, movidos todos pela embriaguez, compartilharam sorrisos, risos soltos, gargalhadas. Os dois que estavam sobrando também comungaram daquelas memórias, como se as tivessem vivido.
Ainda que fosse desagradável para ela perceber que, antes de seu amor amá-la já tinha amado outro alguém, vestiu-se com sua armadura cor de rosa, pela qual nenhum dardo de ameaça feminina transporia. E muito menos demonstrações de ciúmes ela deixaria transpassar por aquela armadura. Guardaria para si, muito bem guardado.
Naquela noite, deitou a cabeça no travesseiro, mas seus pensamentos não se deitaram. Iam no passado, imaginando seu amor beijando a outra, falando suas palavras carinhosas para a outra, amando a outra da mesma maneira que fazia com ela.
Ao seu lado, seu amor caiu em sono profundo. Estava em paz em sua cidadezinha, acalentado por suas doces memórias.
Na manhã seguinte, ela acordou com nova disposição. Era o último dia naquele lugar. Arrumou as malas com alegria interior, sem deixar transparecer.
Tudo no carro, chegou a hora dos abraços finais. Do fim da rua, ela viu caminhar na direção deles a outra, o novo amor dela e o filhinho de mãos enlaçadas com eles. Viu ali uma família. Percebeu que não havia mais espaço para o seu amor naquela história. Ainda assim, respirou fundo. Precisava encarar mais essa. Viu que seu amor e a sombra do passado se abraçaram pela última vez. Segundos demorados demais para ela.
Quando chegou sua vez de abraçá-la, despiu-se de rancores, de ciúmes, de qualquer sentimento menor. Enlaçou seus braços na sombra, sabendo que seu espectro ficaria no passado. O presente era dela e de mais ninguém.
Entraram no carro e ela e seu amor rumaram para o futuro.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Faíscas

Os anos se passaram e ela nunca esqueceu aquela frase:
– De todas as mulheres que já tive, você foi a que mais me marcou na cama.
Mentira de homem? Bem possível. Mas, no fundo, ela sabia que era a mais pura verdade, porque...
– Você também. Nunca vivi com alguém a intensidade de sensações que experimentei com você.
Estas palavras foram jogadas numa mesa de bar, não após muitas rodadas de chope, como era costume entre eles. Mas num almoço. De despedida. Não havia teor etílico em nenhuma frase saída daquelas bocas de homem e mulher. Apenas sinceridade.
Eles nunca foram namorados. Amantes tão-somente. Amigos que, ao se verem, faiscavam. Para que a amizade se horizontalizasse, foram precisos muitos jogos de olhar, muita sedução, muita embriaguez.
Porque ele tinha alguém. Ela tinha alguém também. Mas, num intervalo de suas relações, a faísca virou um grande incêndio, que tomou seus corpos.
Num motel barato, deixaram vir à tona aquilo que estava submerso há tempos. Tesão. Puro tesão. Entre eles dois, havia sinal vermelho para o amor.
Uma noite inteira de entrega. Uma comunhão profana, celebrada com gemidos de prazer. Depois, o apagão sobre os lençóis, num entorpecimento de prazer.
A luz ainda fraca do sol transpassou a cortina rota do quarto. De sobressalto, ela retomou a consciência, lembrando que tinha uma reunião importante às dez. E, fitando o corpo nu que ainda dormia, escreveu no espelho com batom, dentro de um grande coração: “Foi maravilhoso!”
Flutuou pelas ruas rumo à sua casa. Engraçado... Nem mesmo com os homens com quem havia namorado, e supostamente tinha amado, se sentira assim. Não dormiu mais. Não havia sono. Estava completamente energizada pela força mais primitiva da natureza.
Chegou na reunião e não parava de sorrir. Uma colega notou algo diferente: “Nossa, como você está bonita, radiante...” Por cada poro de seu corpo, os vestígios da paixão exalavam satisfação. E ela passou o resto do dia com aquele sorriso bobo no rosto.
Não houve telefonema no dia seguinte. Nem no seguinte, nem no seguinte, nem no seguinte. Ela não se importava. Sabia que isso fazia parte daquele jogo que estava adorando participar.
Ela voltou para seu alguém. Ele começou com um novo alguém. Mas a cada briga de namorados, a cada fim de relacionamento, as estradas da vida os uniam novamente. E novas noites intensas vieram. Não em quantidade, mas em qualidade.
Até aquela tarde... Na mesa do bar, durante o almoço, se despediam.
– Encontrei alguém maravilhoso, com quem vou casar – disse ele.
– Nossa, que coincidência, eu também.
– Mas tem uma coisa que eu precisava te dizer. De todas as mulheres que já tive, você foi a que mais me marcou na cama.
Apesar da confirmação dela de que seu sentimento era recíproco, nada mais se podia fazer. Não cabia mais, para eles dois, a entrega de carnes, já que lhes faltava a entrega de almas. Só lhes restou dizer adeus.
O amor entre eles não estava nos planos.
Mas, sempre que se encontram, cada qual com seu amor ao lado, o melhor a fazer é evitar o olhar dentro do olhar. Algo lá dentro ainda faísca...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A jardineira

Um belo dia, ela acordou, virou-se na cama e se sentiu estranha. Quem era aquele homem ali, deitado ao seu lado? Decerto não era sua paixão. Aquele homem que a surpreendia no meio da tarde com um telefonema cheio de saudades, que virava o volante do carro repentinamente mudando o rumo para dentro de um motel, que dizia o quanto a amava não apenas na hora do sexo, mas a cada olhar que lhe lançava nos momentos menos charmosos do dia. Enquanto escovava os dentes, enquanto mexia a panela do brigadeiro que se lambuzariam, enquanto vestia a lingerie nem tão sexy assim para sair pra trabalhar...
Quem era aquele homem ali? Assustou-se! Há tão pouco tempo só pensava nele, só tinha olhos pra ele. E agora, com a luz do sol rasgando a persiana escolhida com tanto carinho anos atrás, perdia-se em cada detalhe daquele corpo seminu ainda reconhecendo sua beleza, mas sem sentir o arrepio de sempre. O sempre virou outrora... Virou lembrança. Virou desejo de voltar a desejar alguém tão intensamente.
Num movimento lento, o então estranho acordou. Espreguiçou. Olhou para ela. Sorriu. Um lindo sorriso vindo de dentes tão brancos, de uma boca tão linda. Sem nada dizer, ela se aconchegou em seu peito e foi envolvida por braços fortes. Tão másculos. Quem olhasse a cena de fora, diria que não poderia haver momento mais perfeito do que aquele. Mas ela não se sentia mais segura naquele abraço. Aproveitou para se aninhar naqueles pêlos tantas vezes explorados com a ponta de suas unhas longas, escondendo seu rosto ali, em fuga. Queria evitar que os olhos dele cruzassem com os dela e lessem o que era tão óbvio: ela não o amava mais.
Como isso foi acontecer? Não sabia ao certo. Assim como a semente do amor cresce ao ser regada com o carinho, com a atenção, com o companheirismo, a semente do desamor também foi brotando cada vez que ela se via sozinha em casa, cada vez que ele não dizia ‘eu te amo’ nos momentos banais, cada vez que ele preferia, ao voltar pra casa à noite, dividir as novidades do seu dia com a tela da TV.
Aquele estranho, de repente, carinhou os cabelos cacheados dela com extrema delicadeza. E percorreu a outra mão por suas costas nuas. De sua boca, saiu um inesperado ‘adoro acordar com você’. Ela estremeceu. Entendeu aquilo como um ‘eu te amo’ dito com outras palavras. Seria ainda possível? Ergueu a cabeça de seu esconderijo e mirou bem dentro dos olhos dele. Pretos como jabuticabas. Entrou em cheio naquele olhar e mergulhou fundo no interior do desconhecido. Passou por trás de seu nariz, de sua boca... Atravessou a garganta e invadiu o esterno. Estacionou no coração. E que surpresa... Em letras garrafais, lá estava escrito o nome dela. Aquele homem ainda a amava! Não expressava seus sentimentos como antes, mas ainda a amava.
Envergonhada, refez o caminho e tornou a pousar seus olhos sobre os dele. Deu um longo suspiro e sorriu. E o beijou suavemente.
Levantou-se de súbito, foi até a varanda e pegou a grande tesoura com que podava suas plantas. Voltou ao quarto e começou a cortar todas as ervas daninhas que estavam crescendo em seu casamento. Muitas delas, ponderou, haviam sido plantadas por ela mesma. Ao final, regou a grande planta do amor, que crescera ao longo de tantos anos, mas que andava tão sem vida. E ela recuperou seu viço. E ela voltou pra cama. Abraçou o ex-estranho e, dessa vez, não se escondeu mais.

sábado, 7 de junho de 2008

Efeito colateral

Chegou em casa com o sêmen ainda quente dentro dela. Afundou pensativa no sofá. Não havia como negar que tinha sido bom. Mas também não tinha sido uma maravilha. Apenas mais uma vez. Seu corpo estava acostumado há anos com o mesmo sêmen. Qualquer novidade, agora, gerava estranheza. Mas seu corpo haveria de se acostumar, até que ela encontrasse alguém que se tornasse costume dentro de si novamente.
O telefone toca. A essa hora? Com o coração iniciando descompasso, ela atende.
– Estou na porta da sua casa. Desce. Quero te ver.
Era ele. O dono do sêmen que seu corpo gostava.
– Não vou.
– Vem.
– Não vou.
– Vem.
Ela foi.
Entrou no carro. Ele disse estar com saudades. Apesar das incompatibilidades, algo no corpo dele ainda era extremamente compatível ao dela. Difícil apagar os anos passados juntos.
O carro começou a andar, como se sozinho. Já sabia o caminho de cor. Embicou na entrada do motel de sempre, mas ela disse “pára”.
Lembrou que, no cerne de seu corpo, havia algo ainda amornando. Estivera com um homem menos de uma hora antes. Não seria capaz. Leviandade, passou por sua cabeça.
Mas quando a cabeça de quem ama pensa, o coração faz questão de gritar o oposto. E ainda havia sentimentos ali que não a deixavam pensar. Os sentimentos eram confusos. Mas eram sentimentos.
Mandou que ele prosseguisse.
E que feliz seu corpo ficou ao sentir o sêmen amado! Recebeu-o com regozijo. Pediu mais. Teve mais. Embriagou-se.
E foi com ressaca que ela acordou no dia seguinte... Algo naquela mistura de líquidos seminais causou um rebuliço interno, com sérios efeitos colaterais.
O sêmen, ao encontrar outro em seu local de abrigo, encheu-se de ciúmes. Assim como o ácido corrói o alimento, ele começou a corroer os sentimentos que ainda restavam.
Não sobrou mais nada.
A partir daquele momento, ela estava, finalmente, liberta.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Tricolores saem do armário

05/06/08

Sou tricolor de coração. Mesmo quando ele esteve na terceira divisão. A rima é pobre, mas é verdadeira! Nunca abandonei a minha paixão pelo Fluzão (sim, no superlativo!), nem mesmo quando ele esteve pra lá do pior. Sou fiel!!! E fico muito embasbacada, mas muito mesmo, quando vejo alguém que é de um time mudar para outro. Acho uma fraqueza de caráter! E se tem algo que admiro em mim mesma é o meu caráter. Portanto, uma vez Fluminense, Fluminense até morrer (e que me perdoem os flamenguistas pelo plágio).
Pelas minhas veias, não corre apenas um sangue vermelho, mas também branco e verde. E ontem minhas veias tricolores bombearam sangue mais fortemente para meu coração. Ainda que não tenha ido ao Maraca, era como se estivesse lá. Que vibração! Que energia! Grudei os olhos na telinha a cada lance e tive orgasmos múltiplos (digo, triplos!). Três a um!!! Tudo bem, o ‘parceiro’ também teve sua chance de gozar. Mas então do riso fez-se pranto (permita-me roubar seus versos, meu querido Poetinha botafoguense – única falha que você teve...) quando o Flu meteu mais dois. Aí foi o êxtase...
O jogo acabou, a euforia ficou. Foi difícil pegar no sono. Uns 20 minutos depois, começou o buzinaço nas ruas próximas de onde moro. Uma horda de tricolores voltava pra casa e era um tal de apertar buzina, gritar Nense, e por aí vai... Acabei dormindo embalada por aquele hino: a alegria de ser tricolor! (Que mané rubro-negro!)
Num estado meio em alfa, me senti em plena Laranjeiras, onde tantas vezes comemorei a vitória do meu Flu embriagada de alegria. Fiquei admirada ao ver como tantos tricolores resolveram sair do armário. Onde eles se escondiam? Porque eu sempre estive aqui, perdida num bucólico bairro da Zona Oeste, gritando a plenos pulmões pela varanda de minha casa: NEEEEEEENSE!!!!!!!!!! Mas muitas vezes me sentia uma voz única. Seria preciso a vitória sobre um time argentino para fazer com que tantos tricolores se orgulhassem de ser o que são, mostrando a todos que não há coisa melhor no mundo do que ser Fluminense?
Sabe, sou do tempo (caraca, essa é péssima!) em que o ápice no Maraca era assistir ao Fla X Flu. Hoje, fico boba ao ver que o apogeu se encontra num clássico (irc! clássico pra quem, cara pálida?) Vasco X Flamengo. Então, a reação da torcida ontem diante da vitória sobre o Boca Juniors, que conduziu o meu Timão (com licença, corinthianos) à final da Taça Libertadores da América, me fez acreditar que há luz no fim do túnel: o Flu voltará a se sagrar entre os clássicos. Porque, ontem, vi pela tevê e nas ruas do meu bairro reações da torcida como se fosse final de Copa do Mundo. E se tem algo melhor que vitória da seleção brasileira na Copa, somente a vitória da SELEÇÃO TRICOLOR!

OBS – Queridos amigos flamenguistas, vascaínos, botafoguenses e até ‘americanos’ que me leram até aqui, por favor, não fiquem bravos comigo. Basta trocar as palavras ‘Flu, Flusão, Nense, Fluminense’ por todos os nomes que seus times são chamados. Porque futebol é uma paixão sem explicação: cada um ama um time, sabe-se lá o motivo. E tenho certeza de que você ama o seu igualmente como eu amo o meu. Cada um na sua! Mas, como esse é o MEU blog, segura mais uma vez: NEEEEEEEEENSE!!!!!!!!!!!

domingo, 25 de maio de 2008

A marca

Foi difícil tomar aquela atitude. Mas, um dia, encheu-se de coragem e arrancou de seu dedo a aliança que insistia em lembrá-la dos muitos e muitos anos em que se dedicara a um só. Ela estava lá em seu dedo apenas como enfeite fazia uns seis, sete, oito meses... Perdera as contas. Seu homem saíra de casa cansado da rotina, foi o que disse. E ela achou que seria passageiro. Pra que tirar a aliança então? Ele vai voltar.
O aro dourado em seu anelar era o símbolo da esperança. Olhava-o sempre com a certeza do retorno daquele a quem amava. Ou a quem se acostumara.
Não demorou muito para vê-lo desfilando com uma outra. Tipinho interessante, tão diferente dela. Tão cheia de vida! E ela ali... Como vela apagada com cera seca escorrida.
Ainda assim, não tirou a aliança. Fazia parte de seu corpo. Retirá-la seria tão violento quanto uma amputação. Não se sabia mais onde acabava a aliança e onde começava a pele. Era tudo uma coisa só.
Numa manhã, abriu os olhos e a primeira coisa que viu, pousada sobre seu travesseiro, foi a aliança-dedo. Esticou ainda mais o olhar e viu o travesseiro dele vazio. Por que ainda teimava em colocá-lo na cama? Sentiu náuseas. Levantou-se e o enjôo só fez piorar. Pensou em tomar um remédio, mas, a cada vez que olhava para sua mão esquerda, seu mal-estar se acentuava. Não era caso de remédio...
Foi aí que a coragem lhe subiu à cabeça, pegando um atalho pelo lado direito do peito, para não esbarrar no coração. Havia chegado a hora. Com os dedos da outra mão, começou a puxar aquele elo que não a ligava a mais ninguém. O elo insistia em ficar. Mas ela estava resoluta. Nada que um pouco de água e sabão não resolvessem. E foi com alívio que se deu a extirpação. O enjôo passou.
Mas nem deu tempo de comemorar a vitória sobre seus sentimentos. Seus olhos se arregalaram de pavor ao ver que, em lugar da aliança, restou em seu dedo um sulco. Profundo. Quase tão profundo quanto o sulco deixado por ele em seu íntimo.
Esfregou, esfregou, esfregou. Massageou toda aquela cavidade circular deixada pela aliança, mas nada de desaparecer. Ela era impotente perante a força daqueles anos e anos passados com alguém. Impossíveis de se apagar.
Passaram-se dias, semanas, meses... Como tatuagem, lá permanecia a marca de sua aliança.
Cansada de olhar para o símbolo do que não existia mais, resolveu colocar uma prótese: um belo anel com uma tremenda ametista se fixou por sobre o sulco.
Não o tirava para dormir. Não o tirava para tomar banho. A aderência foi total, sem rejeição da pele.
Começou a se sentir leve. Sua chama voltou a se acender. Decidiu se amar.
Um dia, resolveu arrancar a prótese. Não precisava mais dela. E que surpresa: a pele havia se regenerado. O sulco se preencheu de alegria de viver. As únicas marcas em seu corpo, agora, eram duas linhas de expressão no rosto que surgiam a toda hora, a cada novo sorriso.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

E o inevitável aconteceu...

Cansei de fazer matérias, para as revistas de saúde em que trabalhei, sobre os problemas da visão. Um deles não era especificamente um problema, e sim um carma que todo cidadão que passa dos 40 anos precisa carregar: a presbiopia. Nomezinho nada elegante cujo sinônimo é, pura e simplesmente, ‘vista cansada’. Se homens e mulheres na casa dos 40 atualmente são sarados e cheios de disposição, isso não quer dizer nada em relação aos olhos: o corpo pode até não se cansar, mas a vista – essa danada – se cansa sim, senhor!
Aos 20 e poucos anos, eu pensava: “Que nada, sempre tive uma visão ótima! Leio até as letras menores de bula de remédio!” Mas eis que, cerca de dois meses atrás, me deparo dentro da Drogaria Popular lutando contra o rótulo de um produto para cabelos. Caramba, não conseguia ler nada... Embaçava tudo! Queria um produto que – milagrosamente – alisasse meus cabelos cacheados. Mas e se aquele fosse para encaracolar ainda mais os fios??? Achei melhor largar o produto na prateleira e ir embora antes que alguém percebesse o meu embate.
De lá pra cá, a coisa só foi piorando... Ler jornal, ler livro, ler qualquer porcaria a menos de dois palmos do meu nariz era como se eu tivesse bebido todas: eu só via um embaralhamento de letras, transformando o papel branco em cor cinza.
Foi então que fiz um flashback às redações das tais revistas de saúde. Meu Deus! Foi duro acreditar! Em fevereiro, comemorei (comemorei?) os 39 anos vividos até então. Estava eu agora percorrendo o meu quadragésimo ano de vida. Eu disse quadragésimo? Sim! E então, em letras colossais dentro da minha mente (esta sim, enxergando muito bem ainda!), li em néon a palavra: PRESBIOPIA!
Pior que praga de ex-sogra, não passei impune por ela... Corri para o meu amado Google:

PRESBIOPIA OU VISTA CANSADA
É um problema de visão para perto, inevitável após os 40 anos de idade, onde o indivíduo tem dificuldade para ver imagens próximas e vai precisar de óculos para enxergar de perto (menos de 45 cm).

Como assim, INEVITÁVEL???? Não gostei dessa inevitabilidade, mas tive que engolir em seco. Lá estava eu... presbíope! Cansada – não apenas da vista, mas principalmente dela.
Não tive alternativa a não ser correr ao oftalmologista, o mesmo que consultei há uns três anos e que havia dito que minha visão estava MARAVILHOSA! Tinha esperança de que ele continuasse achando o mesmo... Saí do consultório com uma receita de óculos na bolsa e com a seguinte sentença retinindo em meus ouvidos: “Você não tem doença alguma. É apenas fisiológico!” Pois bem, caro leitor, fique sabendo disso: assim como o número 1 e o número 2 (e também como o número 3, forma como sabiamente minha filha caçula nomeou o ‘pum’), ter presbiopia também é fisiológico. Atravessou a casa dos 40? Prepare-se!
Escrevo estas linhas agora portando no rosto lindos óculos fashion, com hastes estilosas e armação num lilás metálico divino, com lentes megaisso e superaquilo! (Eu não iria deixar por menos: tudo o que a moça da ótica disse que era o melhor, eu fiz! Parcelava em dez vezes, né? Tinha que aproveitar...) Neste momento, me sinto muito bem-vinda ao mundo dos quatro olhos! Ser presbíope é ruim, mas pior ainda é ficar sem esse acessório indispensável a uma mulher de cabelos encaracolados. Paro por aqui, porque vou correndo até a drogaria comprar o tal produto para alisar minhas madeixas! Sem medo de ser feliz.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Uma carta para Zélia


Zélia se foi... E eu fiquei. Ela estava com 91 anos... Eu estou com 39. Começou a escrever tarde suas histórias. E eu tenho achado que está tarde demais para mim... Tenho demorado demais a fazer o que também demorou com Zélia. Mostrar ao mundo quem eu sou. Por anos e anos, ela viveu à sombra dos escritos do marido, o grande Jorge. Salve Jorge! Tão amado... Por ela, por mim, por todos. Era a primeira leitora dos livros do marido – que escrevia tudo à mão. Datilografava os originais. Dava pitaco. Às vezes aceitos, outras vezes não. Primeira revisora do marido? Pode ser... Preparadora de originais dele? Com certeza a primeira.
E eu sigo como Zélia, ao longo dos anos... À sombra dos mais diversos autores. Dos medíocres e dos brilhantes. Pelos medíocres (aqueles que separam com uma vírgula o sujeito do predicado, que escrevem ‘enquanto escritor’...), faço com que pareçam brilhantes. E pelos brilhantes? Bem, a esses concedo meus aplausos. E uma pitadinha de inveja.
Sinto que está na hora de sair do armário! Ou melhor, sair do Word e conquistar o mundo! Assim como Zélia fez. Aos 63 anos. Mas, se a mim fosse permitido escrever uma missiva a ser entregue por anjos, falaria assim para ela, que foi e sempre será uma das minhas escritoras preferidas:

“Zélia, minha querida, te adoro muito. Sempre te adorei. Sempre li suas histórias como se fosse uma tela de cinema passando pela minha mente. Mas, dessa vez, terei que discordar de você... Não quero esperar os sessenta para ser lida pelo grande público. Por mais respeito que eu tenha pelos mais velhos, por mais que eu saiba que a expectativa de vida não pára de aumentar, quero chegar aos quarenta já sendo lida e querida. Como você, minha querida Zélia.
Sabe, não fiquei mais triste do que deveria pela sua partida porque sei que uma pessoa como você não foi feita para ficar ligada a tubos e aparelhos. E porque sei também que, agora, você está com seu amado Jorge.
Em vida, quis tanto te entrevistar... Cheguei perto, mas a pauta foi para outra pessoa. Não deu para te conhecer pessoalmente... Espero, ainda assim, que você receba agora o meu amor e a minha gratidão por tudo de lindo que fez pela literatura no Brasil. E que daí, do paraíso que deve ser o mundo celestial dos escritores, você me abençoe, Zélia querida. Que peça a Deus (de quem está tão pertinho agora) que me ajude a ser pelo menos um pouquinho igual a você. Que meus caminhos se abram. Que eu tenha a sua coragem. Que eu tenha a sua simpatia. Que eu tenha o seu carisma.
De resto, deixa comigo!”

Uma salva de palmas para Zélia. E nem uma pitadinha de inveja. Ela fez por merecer!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Palito apaixonado

Ela se sentou diante da penteadeira e ficou admirando-se ao espelho por alguns instantes. Era linda! Pele alvíssima, cabelos longos de um preto jamais visto por aquelas terras. Passou a escova de pêlos por entre os fios mansamente. No rosto, aplicou um pó que deixou a face ainda mais branca. Tingiu a boca de carmim e desenhou o canto dos olhos com tinta preta, salientando seu formato oriental.
Eu olhava tudo com veneração. Pousado sobre a penteadeira. Aquele era um ritual que ela seguia todas as manhãs. Mas, não sei bem explicar o porquê, hoje sua aura, seu olhar, seus gestos estavam diferentes, indicando que algo novo estava para acontecer. Com suas mãos finas e delicadas, ela uniu e torceu seus espessos e lisos cabelos com habilidade, resumindo-os a um grande coque no alto da cabeça. Foi então que entrei em cena. Comprido, liso, pontiagudo, adornado por desenhos de extrema delicadeza. E ela me transpassou pelo volumoso coque. Com maestria, eu prendi aqueles cabelos que tanto admirava. Podia sentir seu volume, peso, perfume.
Ela deixou seus aposentos com passos rápidos, mas leves, para não ser percebida. Entrou na carruagem e partiu pelas ruas ainda toscas de uma Paris que não existe mais. Para onde estaria indo? Eu não me agüentava de curiosidade, embora pouco pudesse observar da posição em que me encontrava.
Ela desceu da carruagem. Deslizou para dentro de uma casa bonita, mas sem o luxo de onde morava já há alguns anos com seu pai, nobre oriental a serviço em terras européias. Lá dentro, vi que um homem a esperava. Cabelos tão louros, quase brancos, que destoavam dos fios negros que eu sustentava. Num abraço, aqueles fios desbotados encostaram-se em mim e pude sentir como eram diferentes. Masculinos, brutos, sem perfume.
Percebia que os dois não se desgrudavam. Até quando duraria aquele abraço? A cabeça dela pendia de um lado para o outro, ao sabor de um beijo demorado. Sem pressa, ele a guiou pelas escadas. Abriu uma porta, onde havia uma grande cama emoldurada por filós. Gentilmente, conduziu-a para dentro dos filós e, sentados, pude novamente sentir aquele balanço gostoso: pra lá, pra cá, pra lá, pra cá... Eu dançava preso aos fios negros mais cheirosos que já pude sentir.
De repente, uma mão grossa, com dedos largos, puxou-me asperamente de dentro do coque. Assim como a força do vento empurra as folhas árvore abaixo, os longos fios negros penderam por sobre sua pele de mulher, agora nua. E eu caí por sobre lençóis macios. Mas não tão macios quanto aqueles cabelos.
Permaneci ali, inerte, observando a mistura do negro e do louro, da pele alvíssima com a tez morena de sol.
Horas mais tarde, tornei a prender o coque que tanto amava. Voltamos para casa. E, ao cair da noite, retomei meu posto na penteadeira. Sedento para que o dia seguinte logo chegasse e eu pudesse retornar para o perfume daqueles fios negros e espessos. Antes intocados. Agora descobertos. Mas ainda tão dependentes de mim.
(Essa "doida" criação foi feita para a Oficina de Crônicas, do Novaes, que nos deu como tema da semana algo inacreditável: faça uma crônica sobre um palito. Ele queria, na verdade, que fosse um palito de dentes... Mas eu dei minha viajada e, no final das contas, ele gostou muito do resultado.)