terça-feira, 5 de outubro de 2010

Comer, rezar, teclar

Chegou na minha caixa postal (e na dos meus irmãos) um e-mail que jamais imaginei receber:

“Socorro! Não consigo escrever nada, não sei como vocês conseguem, acho que foram trocados na maternidade!

Vou tentar outra hora, cansei.

Até domingo, se eu sobreviver.

Beijos, Guilhermina”

Caí na gargalhada quando li isso. Guilhermina vem a ser nada menos que minha mãe. Aos 74 anos, ela teimou em fazer curso de computação e, depois de muito reclamar das aulas arrastadas, finalmente chegou ao ponto que queria: usar a Internet. Mas, pelo visto, ela vai continuar reclamando enquanto não domar esse touro bravo – pra ela – que é o mundo virtual.

Em poucos minutos na rede, minha mãe logo cansou. E eu me pergunto: cansou de quê? Tem algo melhor do que navegar na Internet, gente? Bem, se você está lendo meu blog NA INTERNET, tenho certeza de que a resposta é sim. Você – assim como eu – deve fazer parte da turma dos dependentes cibernéticos que, se logo cedo não ler os e-mails, entrar no Facebook e acionar o Twitter começa a ter síndrome de abstinência. Daqui a pouco vão criar mais um grupo de ajuda mútua: os I.A., internéticos anônimos. E nos encontraremos todos lá na reunião... Só por hoje não vou ligar o computador! É ruim, hein?

Meu amigo Aloísio Aguiar conseguiu essa proeza. Durante sua viagem de férias, não chegou perto de computador! Quando o reencontrei, perguntei como haviam sido suas férias. Ele abriu um sorrisão e disse: “Maravilhosas! Tirei férias, principalmente, do computador.” É verdade... Ele estava satisfeito com isso. E eu, só de pensar, começo a ter delirium tremens...

Mas taí um desafio que seria interessante para todos nós, dependentes internéticos. Ficar off durante uma semana – ou um dia, pelo menos. Quando fui obrigada a passar por essa tortura, durante um pau no meu computador, ouvi de uma das minhas filhas: “Poxa, mãe, você sem computador é outra pessoa... Você brinca com a gente...” Engoli em seco. Minha filha estava certa. Ainda assim, bastou a máquina ficar pronta e eu voltei pra mesma vida desregrada.

E o pior é que o problema parece ser genético. Meu irmão Luiz – outro que foi trocado na maternidade! – me escreveu dizendo que estava sem tempo de fazer uma determinada coisa, porque suas “necessidades internéticas” o estavam consumindo. E ele bem definiu: “Internet agora virou coisa fisiológica, cada vez menos virtual...” Bingo! É isso! Eu acordo, faço uma prece, escovo os dentes, vou ao banheiro, tomo café e ligo o computador! Não consigo sair de casa sem cumprir essa rotina. E não raro chego atrasada aos compromissos porque fiquei teclando.

Falando nisso... caraca, vou chegar atrasada de novo! Fui!

22 comentários:

Carolina Martínez disse...

Agora que comprei um smartphone minha dependencia cybernetica aumentou 10 graus. A primeira coisa que faço quando acordo é olhar o twitter e FB, afinal pode ser que alguem que não faça nada durante a semana post alguma coisa interesante no meio da madruga.
Com certeza nos encontraremos no IA.
beijos
Carol.

Fernando Freire Jr. disse...

Só pra vc saber, lindona, o vício em internet já foi classificado nos USA como um distúrbio psiquiátrico e estima-se que até 10% dos usuários sofrem desse mal. Já há estudos que mostram a estreita ligação entre o vício e divórcios, perda de emprego entre outras coisas.
Eu sou um "heavy user" de internet há 10 anos, trabalho conectado e sou daqueles que, ao chegar em casa, liga o computador antes de tirar os sapatos. Mas amo quando tenho a chance de ficar desconectado, como numa viagem a Visconde de Mauá, sem computador e sem celular. Sinal de que estou fora desse grupo! Graças a Deus!
Bjs!

Fernando Freire Jr. disse...

Ah, e só pra complementar, em alguns países já existem grupos de ajuda mútua para esses viciados. Na China isso tem sido discussão de saúde pública já que o volume de viciados é maior e o deslumbramento com a internet tb, por conta da coisa ser recente lá. Recentemente houve rebeliões em clinicas de reabilitação por conta dos métodos utilizados. Ou seja: o bicho tá pegando geral! Ou vc se despluga de vez em quando, ou corre o risco de acabar se enforcando com um cabo de rede... kkk

Tais Prôa disse...
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Tais Prôa disse...

Tia, não acredito que minha vó já tá mandando e-mail!! Engraçado que ela tava doida pra aprender a mexer na internet e agora ficou sem paciência!!! Mas quando ela comprar o pc dela, vai ser outra coisa, pq vai poder treinar melhor!! Ainda mais se a gente ajudar ela!!
Bj

Tais Prôa disse...
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JPassaro disse...

Sou mais um do grupo... Mas acredito que o pior já passou. Quando eu era mais novo e usava o bom e velho ICQ, nossa, aquilo me fazia ficar horas e horas no pc... Era ICQ aberto, jogos eletrônicos, sites esportivos... Sério, acho que eu passava, em média, 8 horas do meu dia online.
Hoje diminuiu bastante, até por conta das 24h do dia terem o preenchimento de horas de trabalho, coisa que não havia naquela época hehehe
Mas quando eu viajo... é bom, sabe? Você se dar conta que não está amarrado a essa rede... Pelo menos eu assim me sinto. Não fico ansioso, angustiado por não poder dar uma "logadinha".
Mas é aquilo, né? Sem o computador é complicado hoje... Seja para trabalhar, seja para qdo se está em casa...

Mila Mittos disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk mt engraçado! Mesmo sendo uma viciada em internet eu nunca entraria no I.A. pq eu amo(AMO) meu PCzinho
rsrs bjs

P.S. adorei a foto

Malu Machado disse...

Ei Ana, isto é um vício menina! Mas tento colocar alguns limites, embora o micro ande ligado o dia todo aqui em casa. Entre uma coisa e outra, navego, como você be mdescreveu em seu título.

Mas ainda consigo tirar férias e ficar fora da net. Será um sinal de que ainda tenho cura??

A propósito, quase postei sobre este filme, você foi assistir?

Anônimo disse...

Li seu blog... delicioso...vários textos pra lá de interessantes.

Décio Pereira

Luiz Fernando Prôa disse...

Cumprindo minhas necessidades fisiológicas, antes de dormir dei uma checada nos emails e dei de cara com mais esta bela crônica. Não dava para deitar sem deixar meu comentário. Bem, agora vou ter olhar meus emails, facebook, etc, outra vez.

Marcio Bruno disse...

Nao chego a ser tao ligado assim, vivo tranquilamente sem computador, mas costumo conferir e-mails e passear na internet algumas horas por dia. Acho que com meu blackberry diminui um pouco a dependecia, afinal recebo e-mail direto no celular, dou uma olhada e deleto. Nao da pra ficar navegando na telinha pequena. Quando chego em casa dou uma olhada e só. Cada um com suas dependencias. hahaha

ira disse...

Sabia que não sou dependente do PC? Estou um pouquinho condicionada a ver se tem mais alguma crônica da Ana Proa me aguardando.... e cada vez gosto mais do que ela escreve, porque ela sempre trabalha temas interessantes em que a gente se identifica! Agora, a foto escolhida parailustrar o texto foi fantástica! Não esqueça de lavar as mãozinhas com sabonete e passar alcool gel (rs) Parabéns mais uma vez. P.S. Estou no intervalo do meu trabalho na AACD, entrei no computador só para bisbilhotar, se havia novidade... e HAVIA!! beijinhos

Unknown disse...

Dona Guilhermina a senhora só me dá orgulho!!

Delícia de ler esse texto...
Beijos.

Glória Britho disse...

Dizem que o hábito do cachimbo é que entorta a boca. Eu não sei mais nem escrever a mão, acredita? Bem, mas ainda fico em paz com a minha consciência ao perceber que mesmo dependente crônica da maquininha infernal, não dispenso e nem troco por ela ou por nada, um beijo, um abraço apertado e um olho no olho. Ainda bem! E, por falar nisso, estou com uma saudade da porra de você.

Anônimo disse...

Pô, engraçado que é isso mesmo.
Sabemos mas continuamos os mesmo..

É isso ai, vamos a luta ..legaL

Anônimo disse...

KKKKKK....Que coisa mais engraçada! Ter que assumir e compartilhar essa dependência em público. Procuro não me escravisar tanto, consigo ficar 1 dia sem ligar o PC, acho que tô bem, não é? Você, como sempre, muito oportuna! Bjs.
Rosi.

Thiago Quintella de Mattos disse...

Acho que é porque "O internet" e a digitação são os meios que temos de nos comunicarmos. Além de um vício temos a necessidade. Eu nem quero ter os phones internet por enquanto.

Roger Gorini disse...

Então, a espécie humana que durante séculos tenta debelar epidemias, curar doenças e remediar seus males físicos e emocionais revela-se pródiga em mais uma coisa: criou uma doença para si mesma!

Chris Araújo Angelotti disse...

kkkkk AMEI

Também sofro desse mal/bem.
Tenho um amigo ainda pior... fez uma cirurgia para retirar uma hérnia e ficou conectado, twittando até a hora me que foi levado para a sala de cirurgia e logo após sair da observação.
Bom, não posso falar nada pois até meu coração está online, se é que me entende...
bjs

Anônimo disse...

ME PAREÇO UM POUCO COM SUA MÃE kkkkkkkkkkkkkkkkk
ADOREI SEUS CONTOS, BJS DO PESCADOR

João Silva

Anônimo disse...

Adorei sua mãe! Que senso de humor! ushushuahsuahs

parabéns pelo blog.
Emocionante!