Lá vinha ele, empurrando sua carrocinha. Um homem franzino, costas já um pouco curvadas pela idade. Todos os dias parava na mesma praça e vendia seus produtos: doces, caramelos, biscoitinhos e... sorrisos.
– O que vai hoje, freguesa? Bombom recheado com avelã?
– Hoje não quero nada... Tô de dieta...
– Mas então leve o meu sorriso. É de graça!
E a cliente saía de lá com as mãos vazias, mas com o coração cheio.
Um menino chegou correndo até o “velho” amigo. Abraçou as pernas do vendedor e lhe abriu os lábios, mostrando a janelinha.
– Que belo sorriso, Dedé! Do jeitinho que eu te ensinei... Seu dentinho caiu, mas você continua muito bonito – disse o vendedor, entregando ao seu cliente fiel o saquinho de jujuba de sempre. Não sem antes, claro, de retribuir a gentileza.
Todo mundo lá na praça sabia que o vendedor era assim. Com chuva ou com sol, gripado ou saudável, em dia triste ou em dia feliz, lá estava ele compartilhando seu semblante amigo com toda a freguesia.
Mas, numa manhã nublada, ele não apareceu para iluminar a praça. O açougueiro do bairro estranhou. O padeiro também. E as crianças e suas babás tiveram que levar o dinheiro do docinho de volta pra casa. Dia seguinte foi a mesma coisa... Por onde andava o vendedor sorridente?
Para as crianças, a praça perdeu um pouco de sua cor. Para os adultos, não havia mais aquela pessoa querida que já fazia parte do cenário. Era como se a praça não fosse a mesma. Como se um atração turística tivesse deixado de existir.
Todos começaram a pensar que ele havia morrido... Até que o vendedor de balões, que só batia ponto na praça nos fins de semana, chegou com a notícia:
– Ele é meu vizinho. Ouvi dizer que está muito doente... Internado...
Foi uma tristeza só! Mas, naquele sábado, a tarde na praça foi diferente. Ela ficou vazia. Açougueiro, padeiro, vendedor de balões, babás, mamães e crianças seguiram para o hospital. Todos estavam muito preocupados, com medo de que aquele sorriso se apagasse de vez.
Chegando na grande enfermaria, porém, que surpresa... Vestindo o camisolão hospitalar, lá estava o velho vendedor de balas, indo de leito em leito dividir o seu sorriso...
9 comentários:
Ora ora, senhora Ana Proa, vejo uma grande similaridade entre o vendedor da praça com você!
A moça que leva sorrisos na UFRJ.
Que saudades de vc!!
dityonybNossa Aninha,
Que lindo!
Já estava ficando triste, pensando que ele tinha ido pro céu!
Mil beijos
Quem é esse simpático anônimo da UFRJ que deixou tão lindo comentário? Nossa, fiquei lisonjeada...
Beijos!!!!!
Aninha, como sempre vc nos faz viajar... Lembrei de minha pobre (paupérrima, eu diria)infância; veja bem, paupérrima apenas no sentido financeiro, porque do resto, ou seja, do principal, eu era muiiito bem nutrida pois minha mamãe era "maravilhosa"
Tinha uma senhora, vendedora de "suspiros" chamava´se Dona Maria, quando nos a cercávamos e em coro pedíamos "Dá um suspiro Dona Maria" ela, brincalhona, parava, respirava bem fundo e suspirava!!! ríamos muito e ela nos oferecia um suspirinho branquinho, branquinho, o melhor que já degustei em toda a minha vida. Agora que tenho recursos para adquirir pacotes e mais pacotes, ele já não é tão saboroso e ainda tenho que me preocupar com a estética corporal Bua!!! Amei Aninha, parabéns.
Muito bonito!
Gostaria que o mundo fosse mais simples... assim seria bem mais fácil isso se repetir...
Fui eu Ana, Raquel!!
Que surpresa!!! o anônimo era menina? ao ler o texto idealizei um galã rsrsrsrs
Tive o prazer de trabalhar com um cidadão assim no hospital. Era um faxineiro do Lourenço Jorge, que fazia questão de distribuir palavras amigas e sorrisos para os internados. E um dia ele próprio ocupou um dos leitos por conta de uma apendicite complicada e a maior briga era mantê-lo em repouso no leito. Ele insistia em mater sua rotina, perambulando com seu frasco de soro nas mãos, tal qual uma estátua da liberdade tupiniquim, levando o mesmo sorriso aos parceiros de enfermaria...
Obrigado por me lembrar dele. Saudade gostosa.
Beijos!
Caraca mãe q foffy
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