sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Paixão primeira

Aos 8 anos de idade, vivi intensamente a minha primeira paixão. Não, não foi por um coleguinha da escola. Ele era um homem maduro, que cantava uma poesia linda... E que só vivia cercado por mulheres jovens e bonitas, por muitos amigos e por um copo de uísque. Vinicius... O nome dele era Vinicius... de Moraes! Sim, acredite: eu tinha 8 anos e queria me casar com Vinicius de Moraes! Eu o achava lindo, encantador. Seu sorriso, sua alegria, sua jovialidade naqueles cabelos brancos arrebatavam meu coração. Sinceramente, não sei dizer como essa paixão teve início. Só sei que ela era real e não apenas uma chama. E continua infinita, porque ainda dura...

E como sofri, dois anos depois, quando o “meu” Vinicius foi tomar seu uísque no andar de cima. Poxa, eu queria ter sido a décima esposa dele! Ou a décima-primeira, a décima-segunda... Mas, como uma boa viúva, cultuei esse amor ao longo de minha vindoura vida. Nos anos 80, fui uma adolescente que curtia Bossa Nova e que, em vez de comprar apenas os livros da moda, lia as poesias de Vinicius. Quando me casei, meu marido teve que aceitar esse “outro” entre nós. Um dos primeiros CDs que comprei pra nossa casa foi o de Vinicius. Mas, como meu marido não é ciumento, no meu aniversário desse ano me deu de presente mais um CD do Poetinha.

Apesar de todo o meu amor, cometi uma gafe terrível com o meu querido Vinicius. Não fui assistir ao documentário sobre a vida dele no cinema, lançado com sucesso há cinco anos. Não me pergunte por quê... Nem eu sei... Mas hoje aluguei o DVD e o assisti. E estou aqui deleitada! Não era à toa que eu amava esse homem. Seu estilo de vida parecia um prenúncio de mim mesma. Eu me reconheci em vários detalhes da personalidade de Vinícius: um homem que fazia questão de ter mais e mais amigos, que abria as portas de casa para recebê-los, que não suportava preconceitos, que vivia sorrindo, que era muito generoso, que estava sempre endividado por achar que dinheiro era pra se curtir a vida, que adorava a boemia, que era desbocado (ai, meu Deus, me esforço pra corrigir isso!), que seduzia pelo seu jeito de ser (não por sua aparência), que via sempre o lado bom das coisas. Peço desculpas ao amigo leitor se estou me achando ao me comparar a Vinicius. Mas quem me conhece sabe que eu sou assim mesmo.

Sei que também nasci com um talento para as letras – e este, sim, eu não ouso comparar ao talento do poetinha! Mas chego a pensar que, se não ando mais pra frente com meus escritos, é justamente por seguir a linha de Vinicius num momento em que o mundo não é mais um cantinho, um violão. É como bem definiu Chico Buarque no documentário: “Não sei onde estaria Vinicius de Moraes hoje em dia, porque ele é o contrário de muita coisa que hoje é vitoriosa. Ele tinha essa coisa muito genorosa, às vezes ingênua, às vezes porra louca. Coisas que não existem mais hoje: nem a porra louquice, nem a generosidade, muito menos a ingenuidade. Há sempre um resultado que se busca, um objetivo, uma coisa pragmática, tudo o que Vinicius não era. Talvez ele não pudesse estar vivo hoje, sendo Vinicius, no mundo que a gente vive.

E aí eu pergunto, meu querido Vinicius, o que faço agora se sou tão parecida com você, mas vivendo os tecnológicos anos 2000, e não a doce década de 50? Acho que você responderia em versos: “Ando onde há espaço. Meu tempo é quando.

O meu tempo é quando... Quando?

Enquanto o quando não chega, vou seguindo sua fórmula: é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe!


Um brinde a você, Vinicius! Saravá, onde que quer esteja!


15 comentários:

Anônimo disse...

Tia Ana Adoreeeeei essa sua Primeira Paixão !!!

ira disse...

Ai quem me dera ver nascer o anjo, ver brotar a flor...
Ah! se as pessoas se tornassem boas
e cantassem loas e tivessem paz!
Belo curriculo seu e do Vinícius!
beijinhos

Cláudia Lima disse...

Amo seus posts!
Bjssssssss

patdantas disse...

Adorei! Ouvi muitos LPs dos meus tios. E quando se juntou ao Tom Jobim e Chico não tinha pra ninguém. Eu me apaixonei pela músicas, pelos poemas e certamente me apaixonaria por ele, se o conhecesse.
Acho que ele se sentiria mesmo um peixe fora d´água no dias atuais.
bj

Marcio Bruno disse...

Eh apaixonada pelo Vinicius mas casou com o Toquinho? hahaha

Poesia pura Aninha...
Bjs

Fabio Bastos disse...

Ana
Hoje vc seria mais uma viúva do poeta. Ele que escreveu - eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar - casou-se 7 ou oito vezes.
Bjs
Fabio

Fernando Freire Jr. disse...

Nossa, como te entendo! Eu tb me apaixonei precocemente por alguém mais velho. Era Madonna. E até hoje a "tia" exerce um poder sobre mim de uma forma que não sei explicar. Talvez por isso nunca tenha namorado loiras. Só gosto das morenas, pq loira na minha vida só há uma. A Material Girl. Bom saber que vc tb cultiva um amor platônico desses. Fico me achando menos freak!!!
Ah, desculpe a ausência por estas paragens, mas os dias aqui tem sido complicados.
Bjs!

Luiz Fernando Prôa disse...

Maravilhosa crônica! Mas não se sinta viúva. Vinicius é vivo e eterno para quem o ama!

Glória Britho disse...
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Glória Britho disse...
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Glória Britho disse...

Ai, amiga, você tem essa mania besta de fazer a gente chorar, né?
Convivi com o Poetinha no tempo em ambos morávamos em Ipanema, eu num quartinho apertado. Quantas vezes o vi atravessando a paraça General Osório quase carregado, mas sempre pelos braços de lindas mulheres. No tempo em que o "Garota de Ipanema" ainda se chamava Veloso, sentei muitas vees na mesa ao lado, bebericando um chopinho (e só podia ser um), só para curtir aquela figura docemente bêbada. Concordo com ele: "É melhor ser alegre que ser triste". E que essa alegria seja "infinita enquanto dure". Viu só? Fiz tantos erros de português que tive que reescrever o post duas vezes. Feia! Te amo!

Mila Mittos disse...

KKKK achei mt foffy
Só que é mt engraçado te imaginar com 8 anos "casada" com um idoso
kkkkkkkkkkk
haushaushaushaus
rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

Mila Mittos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MISS TALBET disse...

Liiindo! Amei e concordei com quase tudo. So acho que em vez de ser mais uma esposa de Vinicius vc com certeza teria sido alma-gemea. Parceira de boemia e talvez levasse o velhote pra casa de taxi, depois de uma noitada com o pessoal no bar. Tambem conheci Vinicius cedo gracas a colecao "Para gosta de ler". Me lembro que aquilo abriu meus horizontes ali pelos 8, 9 anos tambem. Andava com o livro debaixo do braco, pra todo lugar.Obrigada por dividir essa paixao com a gente.

Unknown disse...

Que lindo Ana!
O documentário eu assisti no cinema, é maravilhoso!!
Fiquei emocionado com seu texto e, mais ainda, por saber que como criança você já tinha um bom gosto gosto e era atraída por pessoas interessantes. Aplausos para o poeta e para o seu lindo texto.
Adoro seu blog!