Adoro andar de táxi, isso não é mistério pra ninguém – muito menos para o meu marido, que acha um absurdo eu gastar esse dinheiro tendo carteira de motorista renovadíssima na bolsa. Quando estou de bom humor e o papo do motorista é interessante, acabo dando corda à conversa. Hoje foi um desses dias. Mal entrei no táxi, um senhorzinho (ou seria um sinhôzinho? Você vai me entender...) de pele branca, rosto enrugado com barba por fazer e, na cabeça brilhante, últimos fios brancos espetados indicando que ali, algum dia, houve uma cabeleira lisa – e talvez loura – iniciou o diálogo da maneira mais tradicional possível:
– Quer que eu ligue o ar?
– Olha, tá meio abafado, mas pode deixar as janelas abertas mesmo... – respondi, completando com outro clichê: – Certamente vai chover mais tarde...
– Vai chover hoje, sábado, domingo e feriado!
– Feriado? Quando? – Me empolguei.
– Tô brincando com a senhora... Modo de dizer...
– Ah, tá.. Porque feriado de Zumbi só no final do mês – completei, desapontada.
Logo em seguida, me desapontei mais ainda. Fugindo completamente de qualquer frase feita, o taxista me dardejou:
– Sou contra o feriado de Zumbi. Pra que homenagear os negros? Olha, vou confessar, sou racista mesmo. Não gosto de crioulo!
Respirei fundo. Procurei não esboçar qualquer alteração no meu semblante. Eu estava de bom humor, lembra? Não seria um mané que iria alterar meus ânimos...
– É mesmo? Que interessante o senhor assumir isso... Está cheio de racistas por aí que fingem que não são, mas, pelas costas, metem o malho nos negros...
– Ah, é... Eu assumo que sou racista mesmo! Já até respondi processo por conta disso. Mas não posso mudar meu jeito de ser.
E daí ele desatou numa verborragia, essa sim cheia de clichês politicamente incorretos: “crioulo é que é racista... crioulo que chega ao poder só faz merda... basta um crioulo se dar bem na vida que já quer se casar com uma loura pra apresentar pros outros como um troféu...”
Daí interrompi:
– Êpa, mas e o Obama? Ele é casado com uma negra!
– Mas não demora muito ele vai largar ela e trocar por uma loura, você vai ver só!
A essa altura, eu já estava rindo. Achando tudo aquilo uma grande piada.
– Mas o senhor acha que ele vai fazer um mau governo só porque ele é negro?
– Olha, esse aí parece ser uma exceção... Acho que ele vai fazer algo bom sim. Mas escreve o que estou te dizendo: em breve, a primeira dama dos Estados Unidos vai ser uma louraça!
Ainda bem que a corrida era curta. Um minuto a mais, não sei se a minha paciência agüentaria. Desci do táxi parabenizando o velhinho com ares neonazistas por sua sinceridade.
– A melhor coisa do mundo são as pessoas sinceras...
Pena que eu não fui sincera com ele.
– Quer que eu ligue o ar?
– Olha, tá meio abafado, mas pode deixar as janelas abertas mesmo... – respondi, completando com outro clichê: – Certamente vai chover mais tarde...
– Vai chover hoje, sábado, domingo e feriado!
– Feriado? Quando? – Me empolguei.
– Tô brincando com a senhora... Modo de dizer...
– Ah, tá.. Porque feriado de Zumbi só no final do mês – completei, desapontada.
Logo em seguida, me desapontei mais ainda. Fugindo completamente de qualquer frase feita, o taxista me dardejou:
– Sou contra o feriado de Zumbi. Pra que homenagear os negros? Olha, vou confessar, sou racista mesmo. Não gosto de crioulo!
Respirei fundo. Procurei não esboçar qualquer alteração no meu semblante. Eu estava de bom humor, lembra? Não seria um mané que iria alterar meus ânimos...
– É mesmo? Que interessante o senhor assumir isso... Está cheio de racistas por aí que fingem que não são, mas, pelas costas, metem o malho nos negros...
– Ah, é... Eu assumo que sou racista mesmo! Já até respondi processo por conta disso. Mas não posso mudar meu jeito de ser.
E daí ele desatou numa verborragia, essa sim cheia de clichês politicamente incorretos: “crioulo é que é racista... crioulo que chega ao poder só faz merda... basta um crioulo se dar bem na vida que já quer se casar com uma loura pra apresentar pros outros como um troféu...”
Daí interrompi:
– Êpa, mas e o Obama? Ele é casado com uma negra!
– Mas não demora muito ele vai largar ela e trocar por uma loura, você vai ver só!
A essa altura, eu já estava rindo. Achando tudo aquilo uma grande piada.
– Mas o senhor acha que ele vai fazer um mau governo só porque ele é negro?
– Olha, esse aí parece ser uma exceção... Acho que ele vai fazer algo bom sim. Mas escreve o que estou te dizendo: em breve, a primeira dama dos Estados Unidos vai ser uma louraça!
Ainda bem que a corrida era curta. Um minuto a mais, não sei se a minha paciência agüentaria. Desci do táxi parabenizando o velhinho com ares neonazistas por sua sinceridade.
– A melhor coisa do mundo são as pessoas sinceras...
Pena que eu não fui sincera com ele.
10 comentários:
Ana, que coisa.... Lembro de um amigo meu, ainda nos tempos de colégio, dizendo que não gostava de negros. Nós tínhamos um professor negro, aí na mesma hora a gente perguntou para ele: "E o BA, tu não gosta dele?" (BA pq o professor era parecido com aquele ator do Esquadrão Classe A hehhe).
Eis que o cara nos responde: "Gosto, pô. Gente boa pra caramba."
Começamos a rir... E aí, ele parou e pensou que não fazia sentido o que ele falara anteriormente. Mas... seguiu racista, hoje nem sei mais, porque perdi o contato. Mas lembro que a irmã dele, certa vez, namorou um negro. Imagina como foi para ele e para a família dele (tb era racista).
Aliás, eu já peguei táxi com a Ana! Na volta da visita da Record hehehhe
Estou gestando um post sobre essa "virada" que os negros deram, falando de Hamilton e Obama. Eu sei bem como é sofrer preconceito racial porque, embora seja branco como cera, em 1991 namorei uma mulata, que era clara, mas tinha nariz largo e cabelo ruim. O quiprocó familiar que isso me causou só reforçou ainda mais as minhas convicções. Definitivamente não tenh nada contra eles, ou ninguém. Aliás, citando o Michael Moore em "White Stupid Men", assim como ele, eu também fui muito sacaneado, pisado e enganado por muitos homens. E todos eram brancos. Jamais um negro tentou me ferrar. Ok, os assaltantes todos eram negros ou pardos. Mas isso é outra história.
Beijos!
Ana, parabéns! Adoro ler o que você escreve. Flui gostosamente.
Beijo e saudade,
Nadia
E eu só fui assaltada por brancos!!!!!!!!!!!!!! PODEM ACREDITAR!!!!!!!!!!!!
Ana seu blog está mara... me diverti muito por aqui.
Parabens, sou sua fã!!!
Beijos
Ei blogueira rica em comentários, obrigada pelo update!
Trata-se daquele taxista que eu dei boa tarde? heheheh
O mundo e suas diversidades...
BEIJO!
Aninha
Uma crônica leve, fácil de digerir e bem atual.Uma conversa com motorista de taxi é sempre um bom recurso para se expor um tema.
Valeu!
Bjs
Fabio
Aninha!
Que boa sacada! Os motoristas de táxi são fontes inesgotáveis, não é? Adorei.
Bjs, The
Fazia tempo que não passava por aqui e tinha certeza que teria algo bem legal pra ler. :)))
É lamentável que essas histórias ainda existam mas adorei a crônica.
Achei engraçado que nos primeiros segundos era senhor de alguns fios brancos e de repente virou um mané...rs.
Eu "votei" no Obama!
E se não conseguem ver a igualdade numa boa, vão ver na marra!!!! Iurru!!!
Quero mais!
bjo!
Realmente suas palavras são como calmantes para olhos com depressão. Na atual situação do mundo, o velho ainda dá uma de racista!!! Gostaria de parabeniza-la de forma dupla: Primeiro pelo excelente trabalho tanto em seu blog, como em toda a sua vida; e depois pela sua reação para com o velho, pois eu naum teria a mesma!
bjus!!!
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