Ela fechou a porta de casa ainda sem saber se havia feito o certo. Foi para a cama, tirou sua roupa toda e sentiu o lençol carinhando sua pele. Apenas o lençol... Ficou lembrando das últimas horas passadas junto àquela pessoa que mexia tanto com suas emoções. Numa mesa de bar. Conversas jogadas ao vento. Uma banda começou a tocar músicas que remetiam à adolescência deles, agora quarentões. Levantaram, dançaram. Evitaram trocar olhares. Melhor assim.
Ambos tinham ‘donos’. Usavam uma coleira invisível com o nome de pessoas que já estavam na estrada com eles há anos. A estrada andava empoeirada, é bem verdade. Mas ainda existia. Naquela noite, estavam sós. Encontraram-se ao acaso, se é que o acaso existe. E por que não tomar um chope, bater um papo? Mal algum... Quase nenhum... O problema era esse ‘quase’.
Já fazia um tempo que se sentiam atraídos. Um sentimento abrasivo, inquietante, de tirar o prumo. Mas a bússola da razão os colocava na direção exata que tinham que seguir. Um caminhar reto, sem olhar para o lado. Só que ali, naquele instante, eles não tinham outro lado a olhar que não eles mesmos. Sem um toque sequer, sem uma troca profunda de olhares, conseguiam o inacreditável: olhar profundamente no íntimo de cada um...
Na pista de dança, cada letra de música transmitia um recado:
‘I wanna hold your hand…’
‘Eu te abraçava do you wanna dance…’
Mas ele não pegou nas mãos dela. E o abraço entre os dois não veio. As bocas ficaram sedentas por um beijo.
A sede foi morta em mais uma rodada de chope. Desceu quadrado. Se as suas línguas tivessem se conhecido, o chope escorreria garganta abaixo levando com ele o sabor gostoso do proibido.
A falta de coragem foi um tempero ruim para o fim de noite. Melhor voltar pra casa. A graça daquele encontro casual ficou perdida entre um passo de dança e outro. Formavam um casal que não era casal, embora, se fosse, talvez fosse um casal e tanto.
Com a pele roçando nos lençóis, agora frios, ela questionava-se qual o sabor que aquele beijo teria. Doce... Voluptuoso... Enérgico... Molhado... Transcendental... Normal... Apenas conjecturas.
Adormeceu. E foi então que teve a resposta. Suas almas se encontraram e se beijaram. Sentiu o calor quente subir por sua espinha, como se acordada estivesse. E então constatou. Bom, muito bom... Bom demais. Melhor ainda por fazer parte dos sonhos. Sem pecado, sem juízo alheio.
Acordou sem dor de cabeça. E seguiu sua vida.
4 comentários:
OLá!!! Execelente crônica, como sempre, parece que a vida é cheia dessas histórias de "quase"... o maior problema das pessoas é que teimam de se arrepender pelo não feito ao invés de se arrependerem pelo feito....
Concordo com o Fox... Eu sempre fui chegado a um bungee-jump na vida. Eu caio dentro mesmo, mergulho com vontade. Bebo em goles grandes essa vida louca.
A história é linda - quem nunca passou por isso na vida? Com minha doce Carolina foi assim. Eu olhei e pensei "Eu quero!". Por sorte estávamos solteiros...rs
Amei o novo visual, bem mais atratente, assim como a foto!
Beijõa e sucesso!
ai, ai, ai... fogo é quando a pessoa se sente culpada até em sonhar que beija... Eu conheço gente assim!
Adorei, querida!!!
Bjks
Geo
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