Estávamos, eu e um grupo de pessoas, fugindo desesperadamente de homens que nos perseguiam. Era uma sensação de angústia muito grande. Embrenhávamos pelo verde muito bonito das montanhas, mas tinha aquele cinza no ar de quem tem medo. No momento eu que eu corria sobre uma frágil ponte feita de bambus, tendo ao meu encalço um chinês fardado aterrorizante, vi aquela onda imensa surgindo por trás de uma montanha. Volumosa, barrenta, escurecendo o dia... Eu e o chinês corremos para dentro de um casebre à nossa frente, onde já se escondiam outras pessoas. Todos se agacharam e ficaram encolhidos, esperando, sem direito à defesa, o destino final. Mas a água não nos cobriu. E o som ensurdecedor da big hola parou.
Eu fui a primeira a me levantar. Coloquei uma das mãos pela janela, sem coragem de olhar o que havia lá fora, e senti meus dedos transpassando uma água não fluida, mas pegajosa, oleosa... Tomei fôlego e olhei: a extensão da onda havia chegado apenas à altura da casa em que nos abrigáramos. Agora, podíamos abrir a porta e ter um mar aos nossos pés. O que antes era montanha havia virado praia.
Gritei de felicidade: “Estamos salvos! A onda não nos atingiu!” Todos – perseguidos e perseguidores – vibraram e se abraçaram. Começaram a trocar sorrisos, carinhos e até presentes. A dor do medo havia unido a todos nós. Não havia mais ódios, nem guerras. Apenas a felicidade diante do fato de que tínhamos sobrevivido àquela revolta da natureza. Apenas a certeza de que nossa fé havia nos salvado. Porque, agachada, lembro que rezei pedindo a Deus que me ajudasse...
Saí da casa e vi a montanha agora envolta pelo mar. Mas a água não era mais a mesma... Havia realmente óleo nela. Teria sido uma catástrofe ecológica? Algo relativo à ganância dos homens em explorar petróleo nas camadas mais profundas da Mãe Natureza? Vi, ao longe (mas perto o suficiente para meus olhos e meu coração entenderem tudo), pessoas felizes nadando naquela água. Elas haviam descido de uma embarcação muito estranha, semelhante a um disco voador, que sugava todo aquele óleo com grandes aspiradores.
Sem que eu saísse de onde estava, um dos tripulantes dessa nave-embarcação me enviou a mensagem telepática de que estava ali em paz, para aproveitar todo aquele óleo tão vital para seu planeta, uma vez que agora não precisaríamos mais dele. Disse, também, que nos resgataria, para que pudéssemos ficar em seu planeta enquanto a Terra se reconstituiria da catástrofe sofrida.
E acordei...
Sim, isso foi um sonho. Tão real quanto a maioria dos sonhos que tenho. Tão cheio de simbolismos e mensagens. Será preciso que aconteça uma grande catástrofe natural para que os homens parem de guerrear e se unam fraternalmente? Será preciso que seres mais evoluídos de outros orbes resgatem os poucos sobreviventes para que a Terra se recomponha e, mais tarde, possamos voltar a habitá-la?
Dizem que, no estágio em que nos encontramos, o homem aprende pela dor, não pelo amor. Esse sonho reflete bem isso... Gostaria que nenhuma catástrofe fosse necessária para que todos nós aprendêssemos que, para melhorar o nosso planeta, basta nos amarmos, nos aceitarmos... Basta termos coragem de perdoar... Basta sermos mais solidários... Basta que deixemos de lado o egoísmo, a ganância... Basta que cada um faça a sua parte, para que o todo se transforme.
Mas, em vez disso, esperamos estaticamente pela grande onda que se aproxima...
2 comentários:
Putz, Ana... Você me deixou com um nó na garganta e um desconforto no peito com o relato do seu sonho e mais ainda com o que escreveu depois. Você está absolutamente certa. Estamos parados esperando, como que torcendo apenas para estar na lista dos "escolhidos". Eu evito pensar em 2012, mas é quase inevitável, principalmente quando olho o mundo louco a minha volta. Seu texto me sacudiu. E eu gosto disso. Beijos!
Amei, Ana. Como tudo o que você escreve. Coloque mais sonhos, serão muito bem vindos. Beijos!
Flávia Côrtes
Postar um comentário