Foi difícil tomar aquela atitude. Mas, um dia, encheu-se de coragem e arrancou de seu dedo a aliança que insistia em lembrá-la dos muitos e muitos anos em que se dedicara a um só. Ela estava lá em seu dedo apenas como enfeite fazia uns seis, sete, oito meses... Perdera as contas. Seu homem saíra de casa cansado da rotina, foi o que disse. E ela achou que seria passageiro. Pra que tirar a aliança então? Ele vai voltar.
O aro dourado em seu anelar era o símbolo da esperança. Olhava-o sempre com a certeza do retorno daquele a quem amava. Ou a quem se acostumara.
Não demorou muito para vê-lo desfilando com uma outra. Tipinho interessante, tão diferente dela. Tão cheia de vida! E ela ali... Como vela apagada com cera seca escorrida.
Ainda assim, não tirou a aliança. Fazia parte de seu corpo. Retirá-la seria tão violento quanto uma amputação. Não se sabia mais onde acabava a aliança e onde começava a pele. Era tudo uma coisa só.
Numa manhã, abriu os olhos e a primeira coisa que viu, pousada sobre seu travesseiro, foi a aliança-dedo. Esticou ainda mais o olhar e viu o travesseiro dele vazio. Por que ainda teimava em colocá-lo na cama? Sentiu náuseas. Levantou-se e o enjôo só fez piorar. Pensou em tomar um remédio, mas, a cada vez que olhava para sua mão esquerda, seu mal-estar se acentuava. Não era caso de remédio...
Foi aí que a coragem lhe subiu à cabeça, pegando um atalho pelo lado direito do peito, para não esbarrar no coração. Havia chegado a hora. Com os dedos da outra mão, começou a puxar aquele elo que não a ligava a mais ninguém. O elo insistia em ficar. Mas ela estava resoluta. Nada que um pouco de água e sabão não resolvessem. E foi com alívio que se deu a extirpação. O enjôo passou.
Mas nem deu tempo de comemorar a vitória sobre seus sentimentos. Seus olhos se arregalaram de pavor ao ver que, em lugar da aliança, restou em seu dedo um sulco. Profundo. Quase tão profundo quanto o sulco deixado por ele em seu íntimo.
Esfregou, esfregou, esfregou. Massageou toda aquela cavidade circular deixada pela aliança, mas nada de desaparecer. Ela era impotente perante a força daqueles anos e anos passados com alguém. Impossíveis de se apagar.
Passaram-se dias, semanas, meses... Como tatuagem, lá permanecia a marca de sua aliança.
Cansada de olhar para o símbolo do que não existia mais, resolveu colocar uma prótese: um belo anel com uma tremenda ametista se fixou por sobre o sulco.
Não o tirava para dormir. Não o tirava para tomar banho. A aderência foi total, sem rejeição da pele.
Começou a se sentir leve. Sua chama voltou a se acender. Decidiu se amar.
Um dia, resolveu arrancar a prótese. Não precisava mais dela. E que surpresa: a pele havia se regenerado. O sulco se preencheu de alegria de viver. As únicas marcas em seu corpo, agora, eram duas linhas de expressão no rosto que surgiam a toda hora, a cada novo sorriso.
O aro dourado em seu anelar era o símbolo da esperança. Olhava-o sempre com a certeza do retorno daquele a quem amava. Ou a quem se acostumara.
Não demorou muito para vê-lo desfilando com uma outra. Tipinho interessante, tão diferente dela. Tão cheia de vida! E ela ali... Como vela apagada com cera seca escorrida.
Ainda assim, não tirou a aliança. Fazia parte de seu corpo. Retirá-la seria tão violento quanto uma amputação. Não se sabia mais onde acabava a aliança e onde começava a pele. Era tudo uma coisa só.
Numa manhã, abriu os olhos e a primeira coisa que viu, pousada sobre seu travesseiro, foi a aliança-dedo. Esticou ainda mais o olhar e viu o travesseiro dele vazio. Por que ainda teimava em colocá-lo na cama? Sentiu náuseas. Levantou-se e o enjôo só fez piorar. Pensou em tomar um remédio, mas, a cada vez que olhava para sua mão esquerda, seu mal-estar se acentuava. Não era caso de remédio...
Foi aí que a coragem lhe subiu à cabeça, pegando um atalho pelo lado direito do peito, para não esbarrar no coração. Havia chegado a hora. Com os dedos da outra mão, começou a puxar aquele elo que não a ligava a mais ninguém. O elo insistia em ficar. Mas ela estava resoluta. Nada que um pouco de água e sabão não resolvessem. E foi com alívio que se deu a extirpação. O enjôo passou.
Mas nem deu tempo de comemorar a vitória sobre seus sentimentos. Seus olhos se arregalaram de pavor ao ver que, em lugar da aliança, restou em seu dedo um sulco. Profundo. Quase tão profundo quanto o sulco deixado por ele em seu íntimo.
Esfregou, esfregou, esfregou. Massageou toda aquela cavidade circular deixada pela aliança, mas nada de desaparecer. Ela era impotente perante a força daqueles anos e anos passados com alguém. Impossíveis de se apagar.
Passaram-se dias, semanas, meses... Como tatuagem, lá permanecia a marca de sua aliança.
Cansada de olhar para o símbolo do que não existia mais, resolveu colocar uma prótese: um belo anel com uma tremenda ametista se fixou por sobre o sulco.
Não o tirava para dormir. Não o tirava para tomar banho. A aderência foi total, sem rejeição da pele.
Começou a se sentir leve. Sua chama voltou a se acender. Decidiu se amar.
Um dia, resolveu arrancar a prótese. Não precisava mais dela. E que surpresa: a pele havia se regenerado. O sulco se preencheu de alegria de viver. As únicas marcas em seu corpo, agora, eram duas linhas de expressão no rosto que surgiam a toda hora, a cada novo sorriso.
7 comentários:
Passei para ler e deixar um beijo.
Oi, gostei deste texto, muito significativo, interessante e que reflete o dia a dia de muita gente, embora uns vivam esta situação em seu subconsciente somente e, outros, de uma forma um pouco modificada, mas o conteúdo é forte e marcante. Realmente a fase mais difícil é a remoção do elo, que se faz presente de diversas formas e nomes, mas que quando não está mais presente nos dá a sensação de leveza de uma alegria quase infantil e, depois vem o vazio e a necessidade do preenchimento de uma parte do coração que se encontra com a placa "vende/aluga", e as pedras vão rolando ... vida que segue.
bjos
Sou um leitor curioso, quase inconveniente. Por isso costumo explicar no meu blog a origem dos textos. E fiquei curioso pra saber de onde veio a inspiração para esse seu novo post. Porque eu já fui casado duas vezes e senti algumas das sensações que você descreveu tão bem. E fiquei mais feliz ainda porque, assim como a personagem de sua história, hoje eu também só tenho marcas de sorrisos... É mais gostoso viajar pelo texto quando nos identificamos em algum ponto.
Olá!! Lendo e relendo a sua crônica não pude evitar de recoradar o caso de um amigo meu que, para evitar "a marca", coloca em sua vida afetiva prazo de validade que, no máximo, chega a 24 meses e olha que conheço o cara tem mais de 10 anos. Talvez seja uma forma de proteção, pois a marca, é muito mais que um detalhe profundo no dedo, mas é uma dilaceração da alma provocada por uma patada de urso pardo. Quando tentamos nos livrar da mesma... mas ela traz tanta coisa... boa, ruim, péssima, maravilhosa e é aí que percebemos que tivemos as nossas entranhas dilaceradas com extrema voracidade... Mas a vida renasce como um rio caudaloso que vem de um pequeno córrego na montanha... como fazer para se proteger das "marcas"? Como evitar a dor?
Oi, amei esta crônica, tudo de bom, e nos faz refletir sobre algumas coisas.
Parabéns por este dom maravilhoso que você tem de escrever. Adoro tudo que você escreve.
bjs,
Muito bom! O texto é tão intenso que dispensa, inclusive, a vivência desta situação para se identificar e se emocionar.
Ando trabalhando meus pensamentos. Substituir os que existem por outros novos e leves que me levem a ser menos ansioso. Assim como a marca de uma aliança, espero por um milagre semelhante. Seu belo texto só confirmou que, embora certos objetivos parecam impossíveis, o tempo cura todas as marcas, mesmo que sejam cicatrizes no pensamento.
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