terça-feira, 24 de agosto de 2010

E-book: invenção do mundo espiritual?

Estou relendo o livro Violetas na Janela, do espírito Patrícia, que foi lançado em 1993. Para quem não sabe, é um best-seller da literatura espírita que narra a vida pós-desencarne de uma jovem de 19 anos. Patrícia conta como é a vida na colônia espiritual onde é recebida, e muito do cenário é cópia quase fiel de tudo o que temos na Terra. Só que, na verdade, é justamente o contrário: a vida aqui é que uma é cópia do que há no mundo espiritual. Existem planos muito evoluídos e, aos poucos, vamos sendo merecedores de incorporar os avanços de lá nas descobertas de cá. No momento adequado, o grande arquiteto do Universo foi nos permitindo descobrir a roda, a carruagem, o carro, o avião, o foguete... A água oxigenada, a penicilina, o coquetel anti-HIV, as terapias com células-tronco... O papiro, o pergaminho, o livro, o computador, o e-book...

Sim, o e-book! Lendo ontem o livro para minhas filhas – a cada semana, estou lendo um pouco para elas –, me deparei com um capítulo que falava sobre algo muito semelhante à leitura digital que temos agora. Quando devorei Violetas pela primeira vez, nos anos 90, me surpreendi com isso, mas nem me lembrava mais... E, ontem, fiquei de queixo caído: Patrícia descreve sua ida a uma biblioteca, na qual entra em contato com livros tradicionais e com livros os quais ela lê numa espécie de tela de TV! Como essa tecnologia ainda não existia aqui, ela não consegue transcrever exatamente em palavras o que é aquilo. Mas comenta que é muito prazeroso ler os livros daquela maneira.

Isso me fez pôr por terra a ideia de que os e-books talvez não caiam no gosto popular... Um dia, vão sim! Patrícia conta que livros físicos, digamos assim, convivem bem com os tais e-books nas bibliotecas. Isso também me faz respirar aliviada quanto a um receio que ronda os amantes do livro tradicional: é possível, sim, uma convivência pacífica entre ambos. Se lá no mundo espiritual isso ocorre naturalmente, tem tudo para dar certo aqui entre nós, encarnados.

Há partes do livro de Patrícia, porém, que beiram à inverossimilhança. Ainda na biblioteca, ela conta que pediu um livro ao bibliotecário, mas não havia no local e ele disse que iria solicitar a outra biblioteca. Ela então fala: “Volto outro dia pra pegar.” Mas o bibliotecário diz que basta esperar dez minutos. E assim, numa espécie de troca de e-mails 4D, ele faz o pedido e, na outra biblioteca, o livro é colocado num aparelho que o desintegra e o envia ao solicitante, reintegrando-se novamente para ser emprestado a Patrícia. Minha caçula – sempre ela – lançou a pérola (até que bem inteligente): “Mas, mãe, esse livro também tem umas mentiras, né?” Sinceramente, acho que não... Patrícia escreveu: não vai demorar muito, os encarnados terão essa tecnologia à sua disposição. NÃO VEJO A HORA!

E sabe por que eu acho que Violetas na Janela não é mentiroso? Vou contar... Isabel trabalhava na casa de meu ex-namorado e era (ou é? Por onde anda você, minha querida?) uma pessoa humilde, com pouco estudo... Dona de um coração enorme, ela era dotada de um dom: tinha sonhos premonitórios (ou, no mínimo, muito significativos). Fazia pouco tempo que a irmã de Isabel tinha desencarnado e ela me contou que, num sonho, a irmã lhe disse que assistiu a todo seu velório e enterro numa espécie de televisão. Quando Isabel me contou isso, fiquei arrepiada: eu havia lido há pouco tempo o livro de Patrícia e ela descrevia, justamente, essas TVs que permitiam aos desencarnados verem o que acontecia aos encarnados. Emprestei o livro a Isabel e ela me confirmou: “É isso mesmo que vi no sonho...

Verdades ou mentiras? Crenças de uns, descrédito de outros? Bem, eu faço parte da turma que acredita. E me deu um conforto muito grande saber que, quando eu fizer a minha passagem, terei à minha espera uma biblioteca tão especial. E muito mais coisas boas, como descreve Patrícia em seu livro. Um mundo espiritual onde há cinemas, teatros, aerobus (uma espécie de ônibus confortável e não poluente que flutua rente ao solo), uma arquitetura bem planejada, ruas arborizadas... Um local onde estudamos e trabalhamos. Sim, trabalhamos... E onde recebemos bônus-hora como salário para ser gasto, exclusivamente, com o lazer. Ou, se já somos mais evoluídos, onde trabalhamos apenas pelo amor, pelo prazer de servir.

Essa semana fui a um enterro. O padre terminou suas preces dizendo: “Descanse em paz.” Descansar? Quem quer descansar num mundo espiritual como o pintado por Patrícia?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Diga-me que roupa usas que eu te direi quem és

Alex era um típico garotão carioca, acostumado a usar bermuda e camisa de malha. Nos pés, havaianas, claro. Como já estava deixando de ser garotão faz tempo, seu pai deu a prensa: “Vai trabalhar, vagabundo!” E o rapaz, lamentando o fato com seus amigos da praia, ouviu de um deles: “Pô, cara, ontem mesmo meu pai disse que tem uma vaga de auxiliar de escritório na empresa dele. Se quiser, a vaga é sua.”

– Já é!

– Formô! Mas tem um lance... O pessoal lá no trabalho do meu pai só anda na beca. Vai ter que caprichar.

Alex topou o desafio. No dia da entrevista, abriu seu armário e se perdeu no meio de tantos bermudões e camisas de malha. De melhorzinho havia calça jeans e camisa pólo. O jeito foi assaltar o armário do pai e confiscar uma calça preta e uma camisa social azul. Para os pés, afanou um sapato preto estilo Vulcabrás (“Nossa, meu pai nunca ouviu falar em Mr. Cat?” – pensou Alex).

E lá foi ele para o ponto de ônibus, todo engomadinho. Fez sinal. O ônibus parou, mas o motorista não abriu a porta dianteira para que Alex entrasse. Sem dizer nada, gesticulou para que o rapaz entrasse por trás. Alex ficou com aquela cara de que não era com ele. E o motorista insistindo. Até que o rapaz, pensando em se dar bem, aceitou o convite. Dentro do ônibus, ouviu:

– Pô, parceiro, tá querendo dar dinheiro pro dono da empresa por quê? Já não basta a porcaria de salário que a gente recebe?

Alex engoliu em seco. O motorista havia achado que ele também era da classe.

– Podecrê, mano... Valeu merrrmo – era melhor agradecer do que deixar aquela situação ainda mais constrangedora.

Chegando ao prédio onde ficava a empresa do pai de seu amigo, entrou no elevador cheio e ficou posicionado bem ao lado das teclas dos andares. Apertou o 15 e nada de o elevador subir. Poucos segundos depois, um velhinho entrou no elevador e, mesmo também estando perto das teclas, virou-se para Alex e disse:

– Vigésimo-terceiro, por favor.

Alex achou que não haveria mal algum em fazer a gentileza, mas não entendeu o porquê. Se o velhinho também estava próximo do comando, não poderia ele mesmo tocar no andar que queria ir?

E o elevador lá parado, esperando-se sabe o quê.

Mas eis que veio correndo um senhor de uns 50 anos, vestindo calça preta, sapatos Vulcabrás e camisa social azul. Pediu desculpas pela demora e assumiu seu posto no alto banco ao lado do controle dos andares. E só assim o elevador subiu.

Alex já estava pra lá de bolado... Chegando na entrevista, conseguiu a vaga, lógico. Seu pistolão da praia era forte. Ao ir embora, porém, ouviu uma recomendação do seu futuro chefe:

– Olha, rapaz.... No setor que você vai trabalhar, não precisa vir assim vestido de motorista de ônibus, nem de ascensorista. Pode vir de jeans e camisa de malha mesmo.

Alex foi embora p. da vida, preferindo descer as escadas e voltar a pé pra casa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Paixão primeira

Aos 8 anos de idade, vivi intensamente a minha primeira paixão. Não, não foi por um coleguinha da escola. Ele era um homem maduro, que cantava uma poesia linda... E que só vivia cercado por mulheres jovens e bonitas, por muitos amigos e por um copo de uísque. Vinicius... O nome dele era Vinicius... de Moraes! Sim, acredite: eu tinha 8 anos e queria me casar com Vinicius de Moraes! Eu o achava lindo, encantador. Seu sorriso, sua alegria, sua jovialidade naqueles cabelos brancos arrebatavam meu coração. Sinceramente, não sei dizer como essa paixão teve início. Só sei que ela era real e não apenas uma chama. E continua infinita, porque ainda dura...

E como sofri, dois anos depois, quando o “meu” Vinicius foi tomar seu uísque no andar de cima. Poxa, eu queria ter sido a décima esposa dele! Ou a décima-primeira, a décima-segunda... Mas, como uma boa viúva, cultuei esse amor ao longo de minha vindoura vida. Nos anos 80, fui uma adolescente que curtia Bossa Nova e que, em vez de comprar apenas os livros da moda, lia as poesias de Vinicius. Quando me casei, meu marido teve que aceitar esse “outro” entre nós. Um dos primeiros CDs que comprei pra nossa casa foi o de Vinicius. Mas, como meu marido não é ciumento, no meu aniversário desse ano me deu de presente mais um CD do Poetinha.

Apesar de todo o meu amor, cometi uma gafe terrível com o meu querido Vinicius. Não fui assistir ao documentário sobre a vida dele no cinema, lançado com sucesso há cinco anos. Não me pergunte por quê... Nem eu sei... Mas hoje aluguei o DVD e o assisti. E estou aqui deleitada! Não era à toa que eu amava esse homem. Seu estilo de vida parecia um prenúncio de mim mesma. Eu me reconheci em vários detalhes da personalidade de Vinícius: um homem que fazia questão de ter mais e mais amigos, que abria as portas de casa para recebê-los, que não suportava preconceitos, que vivia sorrindo, que era muito generoso, que estava sempre endividado por achar que dinheiro era pra se curtir a vida, que adorava a boemia, que era desbocado (ai, meu Deus, me esforço pra corrigir isso!), que seduzia pelo seu jeito de ser (não por sua aparência), que via sempre o lado bom das coisas. Peço desculpas ao amigo leitor se estou me achando ao me comparar a Vinicius. Mas quem me conhece sabe que eu sou assim mesmo.

Sei que também nasci com um talento para as letras – e este, sim, eu não ouso comparar ao talento do poetinha! Mas chego a pensar que, se não ando mais pra frente com meus escritos, é justamente por seguir a linha de Vinicius num momento em que o mundo não é mais um cantinho, um violão. É como bem definiu Chico Buarque no documentário: “Não sei onde estaria Vinicius de Moraes hoje em dia, porque ele é o contrário de muita coisa que hoje é vitoriosa. Ele tinha essa coisa muito genorosa, às vezes ingênua, às vezes porra louca. Coisas que não existem mais hoje: nem a porra louquice, nem a generosidade, muito menos a ingenuidade. Há sempre um resultado que se busca, um objetivo, uma coisa pragmática, tudo o que Vinicius não era. Talvez ele não pudesse estar vivo hoje, sendo Vinicius, no mundo que a gente vive.

E aí eu pergunto, meu querido Vinicius, o que faço agora se sou tão parecida com você, mas vivendo os tecnológicos anos 2000, e não a doce década de 50? Acho que você responderia em versos: “Ando onde há espaço. Meu tempo é quando.

O meu tempo é quando... Quando?

Enquanto o quando não chega, vou seguindo sua fórmula: é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe!


Um brinde a você, Vinicius! Saravá, onde que quer esteja!


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Um sorriso que não se apaga

Lá vinha ele, empurrando sua carrocinha. Um homem franzino, costas já um pouco curvadas pela idade. Todos os dias parava na mesma praça e vendia seus produtos: doces, caramelos, biscoitinhos e... sorrisos.

– O que vai hoje, freguesa? Bombom recheado com avelã?

– Hoje não quero nada... Tô de dieta...

– Mas então leve o meu sorriso. É de graça!

E a cliente saía de lá com as mãos vazias, mas com o coração cheio.

Um menino chegou correndo até o “velho” amigo. Abraçou as pernas do vendedor e lhe abriu os lábios, mostrando a janelinha.

– Que belo sorriso, Dedé! Do jeitinho que eu te ensinei... Seu dentinho caiu, mas você continua muito bonito – disse o vendedor, entregando ao seu cliente fiel o saquinho de jujuba de sempre. Não sem antes, claro, de retribuir a gentileza.

Todo mundo lá na praça sabia que o vendedor era assim. Com chuva ou com sol, gripado ou saudável, em dia triste ou em dia feliz, lá estava ele compartilhando seu semblante amigo com toda a freguesia.

Mas, numa manhã nublada, ele não apareceu para iluminar a praça. O açougueiro do bairro estranhou. O padeiro também. E as crianças e suas babás tiveram que levar o dinheiro do docinho de volta pra casa. Dia seguinte foi a mesma coisa... Por onde andava o vendedor sorridente?

Para as crianças, a praça perdeu um pouco de sua cor. Para os adultos, não havia mais aquela pessoa querida que já fazia parte do cenário. Era como se a praça não fosse a mesma. Como se um atração turística tivesse deixado de existir.

Todos começaram a pensar que ele havia morrido... Até que o vendedor de balões, que só batia ponto na praça nos fins de semana, chegou com a notícia:

– Ele é meu vizinho. Ouvi dizer que está muito doente... Internado...

Foi uma tristeza só! Mas, naquele sábado, a tarde na praça foi diferente. Ela ficou vazia. Açougueiro, padeiro, vendedor de balões, babás, mamães e crianças seguiram para o hospital. Todos estavam muito preocupados, com medo de que aquele sorriso se apagasse de vez.

Chegando na grande enfermaria, porém, que surpresa... Vestindo o camisolão hospitalar, lá estava o velho vendedor de balas, indo de leito em leito dividir o seu sorriso...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Bons tempos eram aqueles?


Percebo à minha volta uma fase saudosista meio generalizada. No meu Orkut, vira e mexe tenho postado fotos antigas, de um PB amarelado ou com a cor totalmente diferente das imagens digitais de hoje. E essas fotos fazem sucesso! Muitos amigos comentam e aproveitam para também divulgar suas fotos do ontem. Até minha filha, do alto de seus 12 anos, curte escanear e postar suas fotos de quando bebê ou menorzinha. Ela também sente saudades do tempo que ficou pra trás. E olha o tanto que ela ainda tem pra viver pela frente, né?
No Facebook, reencontrei uma amiga de adolescência muito querida e ela ontem adicionou uma foto de sua turma de colégio. No meio de tantas carinhas jovens, identifiquei minha amiga, com seus cabelos longos e sorriso franco. Aquela mesma amiga que vivia comigo pelas ruas do Flamengo e pelas noitadas na Barra. Uma imagem que ficou perdida nos idos anos 80. Então escrevi o seguinte comentário: "Ai, que linda! A Tati da minha adolescência." E ela respondeu: "Saudades destes bons tempos, Aninha..."
Bem, alguém me chamar de Aninha atualmente já é um saudosismo! Hoje escuto mais senhora, dona Ana, tia... Só os amigos antigos (xiii, "antigos" é brabo!) lembram que esse era o meu apelido. O que mais me chamou a atenção, porém, foi o "Saudades destes bons tempos...". Pensei se eles foram bons mesmos. Espinhas, cabelo difícil de arrumar, amores platônicos, hormônios a mil, incertezas... Mas tinha também uma liberdade pulsante (apesar de ter que dizer pra mãe cada passo que a gente ia dar), corpos rijos (e seios em riste, isso sim dá saudade!!!), a certeza de tudo saber (hoje, só sei que nada sei...), um mundo pela frente! É... Foi uma fase boa mesmo!
Só que eu não sou do tipo que diz: "Aqueles é que eram bons tempos..." Pra mim, todo tempo é bom. Teve a infância, a adolescência, o início da fase adulta. Faculdade, primeiro emprego, formatura, primeiro emprego duradouro, casamento, gravidez, filhos... Para alguns teve o divórcio e um novo casamento. E todos nós - da geração 80 - estamos vivendo agora a força da gravidade sobre nossos corpos, a mudança das linhas de nosso o rosto e da cor de nossos fios de cabelo. Mas com isso tem vindo também um delicioso amadurecimento que faz, justamente, a gente achar que o O BOM É O AGORA. O ontem foi uma delícia, mas ainda era meio capenga de maturidade. E o amanhã... Ah, o amanhã... Estaremos no auge da sabedoria nesta existência!
O amanhã tem tudo para ser ótimo se nos permitirmos viver o hoje com alto astral, com o plantio de boas sementes, com exercícios físicos, com alimentação saudável (regada a um vinhozinho, pra desentupir as artérias e porque ninguém é de ferro!), com muito lazer, com menos trabalho, com a prática da fé e... com a prática de muita palavra-cruzada!!! Só assim pra gente manter a mente afiada e jamais esquecer de quem fomos ontem. E lembrar sempre que, com todos nossos erros e acertos, tivemos bons tempos em todas as fases de nossas vidas.


Foto 1 - Eu com 7 meses, sempre sorrindo...
Foto 2 - Meus amigos da escola no churrasco que comemorou nossa formatura. Eu sou a de maiô preto, no canto direito da foto, sempre rindo...
Foto 3 - Eu hoje, com minhas ruguinhas, meu corpo transformado, mas sempre rindo...