segunda-feira, 31 de maio de 2010

Novos tempos...


Tem duas coisas na vida que estou precisando urgentemente me acostumar: com o fato de que meu marido se tornou um homem do mar e com as demonstrações de amor em público de pessoas do mesmo sexo. O que uma coisa tem a ver com a outra? Nada. E tudo. Ontem à noite fui pescar com o Rômulo no quebra-mar da Barra. Ou melhor, acompanhei meu marido em seu mais novo hobby de infância e fiquei lá ao lado dele, com aquela cara de pastel, sem entender que tanto prazer é esse que ele encontra em jogar a linha e ficar um tempão segurando a vara. O lugar é lindo! Cheio de pescadores, de casais de namorados, de famílias passeando com seus carrinhos de bebê... Cenas bucólicas do meu Rio de Janeiro querido, que ainda por cima ostentava uma lua cheia incrível.

Logo que chegamos e começamos a andar pela passarela de pedras portuguesas, vi um casal dando um beijo daqueles de novela das nove. Um verdadeiro desentupidor de pia. Ambos tinham cabelos longos, até aí tudo bem. Foi quando minha caçula – sempre ela! – disparou com os olhos esbugalhados:

– Mamãe, você viu? Duas mulheres se beijando!

– Que duas mulheres o quê, filha! O homem tem cabelo comprido também, só isso.

Do alto de sua sabedoria e serenidade, minha filha mais velha virou pra mim com seu olhar blasé e disse com toda a calma:

– São duas mulheres sim, mãe.

– Como assim??? Não pode! Isso aqui é um lugar público. São 7 da noite. Que doideira é essa?

– Você é que tá doida, mãe. Não é você que vive dizendo que a gente não pode ter preconceito?

Milana, como sempre, puxou minhas orelhas e me chamou à realidade.

O fato é que o casal feminino ficou lá um tempão, às vistas de todo mundo, no maior carinho. Era um casal de namorados como outro qualquer. E eu, de vez em quando, dava uma olhadinha pra lá pra ver se era miragem ou se era aquilo mesmo... Famílias passando na frente delas e nem se abalando. Tudo muito normal.

Lembrei dos meus avós e até mesmo dos meus pais. Na época em que eles eram jovens, beijos (hetero, claro) em público eram um absurdo. Se alguém desse um amasso numa praça à luz do dia ou mesmo à luz da lua, era capaz de levar um carão das pessoas ao redor (pra quem não sabe, levar um carão é o termo antiguinho pra dizer “tomar um esporro messssssssmo!”). Pois meus avós e meus pais tiveram que se acostumar a andar pelas ruas e ver casaizinhos se beijando em qualquer esquina. E agora é a minha vez de me adaptar. Se não bastasse eu ter sido personagem vivo da mudança da máquina de escrever para o computador, também teria que entrar para a história como integrante dos anos em que o beijo gay em público se tornou a coisa mais natural do mundo.

E, quer saber, tô gostando disso!!!! Assim como hoje não imagino minha vida sem o computador, acho que também não vejo a hora em que o mundo viva sem a hipocrisia de achar que só existe homem com mulher. Chega dessa história de que homem com homem dá lobisomen, mulher com mulher dá jacaré. Homem com homem, mulher com mulher... pode dar uma linda história de amor! E se o amor está no ar, por que não mostrar????

Mais difícil do que eu me acostumar com o beijo homo ao ar livre vai ser me adaptar à nova fase de meu marido, que virou um pescador e velejador... No meu “contrato de casamento”, essa cláusula deveria estar em letrinhas bem, bem, bem pequenas. Li não... Mas assinei e vambora seguindo feliz pela vida com o meu homem-metamorfose.

E viva o amor sob todas as suas formas!


PS: Aproveitei o tédio da pescaria pra praticar o meu legítimo hobby de infância, herdado do meu vô Zé: fotografar. O clique que ilustra esse post é meu.

sábado, 22 de maio de 2010

Os cães também vão para Hollywood

Fiz uma descoberta bombástica essa semana: cãezinhos abandonados têm veia artística! Isso mesmo! Na próxima novela da Globo, ao invés de labradores ou shitzus, melhor compor o elenco animal com um bom vira-lata de rua. Eu fui vítima da arte da interpretação de um deles. Não é que eu me arrependa... Mas levou quase três anos pra minha ficha cair de que a Mel, uma vira-lata linda com jeitinho de setter (como você vê na foto), tinha feito uma pegadinha comigo e eu caí bonito!

Num belo sábado de verão, desci para ir ao mercado quando, na porta do meu prédio, dei de cara com a tal atriz (que até então eu não sabia de seu talento!) estatelada no chão, com a língua pra fora e o olhar mais triste do que o de Demi Moore no filme Ghost. Não resisti e fui carinhá-la. Foi então que a danadinha levantou a cabeça e olhou bem fundo nos meus olhos. Sim! Ela dardejou aquele olhar cor de mel dentro dos meus olhos castanho-esverdeados e eu cheguei a sentir um calor no peito. Era como se ela dissesse: “Me salva, me tira daqui!” Tinha decorado o texto direitinho!

Liguei pras minhas filhas descerem com água e ração. Oferecemos à bichinha e nada. Ela parecia semidesmaiada, com aquela cara de “meu mundo caiu”. Minhas filhas, vendo a cena, eram a extensão da dor da cadelinha (na verdade, cadelona, porque a vira-lata era grande!). Eu precisava fazer alguma coisa. Sem pensar duas vezes, mesmo morrendo de medo de ser mordida, peguei a atriz no colo decidida a levá-la para meu apartamento. Ela nem mostrou resistência. Ao contrário, fez o que talvez fosse o ponto alto de seu espetáculo: amoleceu o corpo nos meus braços e, após uma respiração profunda, pendeu sua cabeça para trás. Merecia o Oscar, não merecia?

Bastou cruzar a minha porta para a máscara cair. A bichinha danou a pular, a correr pela casa, a abanar o rabo, a comer a ração da minha cachorra, a beber água... Estava tão agradecida que dava altos pulos em mim. E eu me sentindo a reencarnação de Francisco de Assis na Terra! Mas e agora? Eu não poderia ficar com aquele animal imenso no meu pequeno apartamento (sem contar que ela tinha colocado minha gata pra correr!). Comecei a ligar pra algumas pessoas e nada. Parei, rezei pra Chico de Assis me ajudar e então, como um milagre, me veio a luz: meu irmão Paulo, que mora numa casa com um quintal maravilhoso! Não deu outra! Melzinha está com ele até hoje e é a alegria de todos. Um doce de cadela, que não precisa mais representar pra conseguir um lar.

Mas como foi que eu descobri que havia sido vítima de uma “Fernanda Montenegro” de quatro patas? Ontem, conversando com uma amiga que adora cuidar de cachorros abandonados, ela me contou a história do Black, uma cão preto que ela viu mancando na rua e não resistiu, acolhendo-o em sua casa. Durante alguns dias, o cãozinho continuou a mancar. Mas às vezes, do nada, andava direitinho, até perceber o olhar de minha amiga e voltar a recolher a suposta patinha machucada. O jeito foi levá-lo ao veterinário. E aí veio a revelação: “Isso é teatro!!! É muito comum os cães abandonados fazerem isso e outras artimanhas pra conquistarem um lar. Ele ainda está mancando porque quer ter certeza de que você não o devolverá pras ruas.” A veterinária estava certa: Black nunca mais mancou e virou o xodó de minha amiga.

Enquanto ela narrava essa história digna de um Globo Repórter, eu fui ficando azul, lilás, rosa-choque... Quer dizer que a danada da Melzinha tinha me passado a perna? Me usou pra sair das calçadas? Filha de uma cadela!!!!!

Sorte da Mel que eu adoro teatro e sou uma grande apreciadora da arte de representar. Para ela, dou o prêmio de atriz revelação. E, em troca, Melzinha me dá muito carinho até hoje, sempre que vou à casa de meu irmão. Palmas que ela merece!!!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

É tão lindo...

Demorei muito pra entender o que a música da Turma do Balão Mágico queria dizer com “se tem bigodes de foca, nariz de tamanduá e orelhas de camelo, mas se é amigo de fato a gente deixa como ele está”. Achava a melodia bonitinha, contagiante, mas não parava pra pensar na grande filosofia por trás dessa canção infantil. Até que um dia a ficha caiu... Ah, tá, essa música está dizendo que não importa se a pessoa é magra ou gorda, bonita ou feia, com muitas qualidades ou com muitos defeitos. Se ela for nossa amiga, ela é boa do jeito que é! Nós a aceitamos, gostamos dela de qualquer maneira e enchemos a boca de orgulho ao pronunciar o nosso atestado de riqueza: ELA É MINHA AMIGA!

E, olha, nesse aspecto eu não tenho do que reclamar. Eu posso viver eternamente no vermelho no banco, mas, se tiro meu extrato de amizades, ele está sempre no azul. Tenho amigos de todos os jeitos: evangélico, espírita, judeu, católico e até muculmano (sem falar nos ateus); os que moram no meu bairro e na minha cidade e os que vivem em São Paulo, em Brasília, nos Estados Unidos, em Israel, em Portugal; os que são talentosos e bem-sucedidos e os que são talentosos mas ainda não foram descobertos; hetero e homossesuxais; caretas e doidões; os que são educadinhos e falam baixo e os que de tão histriônicos chegam a ser chamados de ogros. E é sobre um amigo ogro que vou escrever agora.

Você já teve ou tem um amigo assim? Que chega nos ambientes roubando a cena, falando alto, gesticulando muito? Que quando abre a boca diz tanta barbaridade que acaba fazendo todo mundo morrer de rir? Que tem a capacidade de escrever comentários no seu blog que te deixam de cabelo em pé, mas você nem liga (e até acha graça)? Que ainda assim é amado???? Se você não tem um amigo assim, que pena. Eu tenho! E o nome dele é Roger (comigo na foto), um amigo da legítima espécie “ame ou odeie”. Não tem meio-termo! Depois de tentar odiá-lo por um tempo, me rendi. Eu amo esse cara! Grosso, inconveniente, sem papas na língua... Mas inteligentíssimo, engraçadérrimo e um amigo de verdade! E quer saber o que mais amo nele? Algo que eu sempre odiei, rsrs. Basta ele me ver ao longe (onde quer que seja) para gritar:

Prôôôôôôôaaaaaaaaaaaaaa!!!!

Já fugi desse grito nas calçadas de Botafogo, na casa de amigos, em festas, na praia... Queria enfiar minha cabeça na areia pra ninguém saber que o Prôôôôôaaaaa que aquele maluco berrava era pra mim. Hoje não fujo mais. Se agora o Roger não grita o meu nome, fico até magoada, rsrsrs!

Está duvidando de mim? Não deu conta da dimensão da coisa? Então veja o “Prôôôôôôôaaaaaaaaaaaaaa!!!!” no vídeo abaixo. Mas não fica com inveja não, tá? É só pra mim.

Pois é... Se você não tem um ogro pra chamar de seu amigo, não sabe o que está perdendo. O Roger pode ter bigode de foca, nariz de tamanduá e orelha de camelo, mas é um amigo de fato. Então eu deixo como ele está. Se mudar, estraga.

PS: Conheça mais a mente privilegiada desse ogro em http://rogergorini.blogspot.com/

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Guichê diferente por um dia





No domingo das mães, resolvi me dirigir a um guichê diferente: por livre e espontânea vontade, fui à missa.

E o que isso tem a ver com “guichês”? Muito simples... Sou espírita há 22 anos. Mas fui católica por imposição desde o dia em que nasci até os 19, quando dei adeus à Bíblia por ter passado a encontrar mais sentido no Evangelho Segundo o Espiritismo. Eu não deixei de acreditar em Jesus Cristo, nem de ter fé em Deus. Apenas mudei de guichê, como certa vez disse Chico Xavier a respeito das diferentes religiões: “Os guichês são diferentes, mas o patrão é o mesmo.” Ou seja, todos que têm uma crença estão na mesma fila que conduz a Deus, mas cada um se dirige ao guichê-religião que mais se afiniza.

Aproveitando o fato de que minha mãe tinha dormido na minha casa, decidi dar a ela este presente: acompanhá-la à missa, como eu fazia quando criança. Muito embora missa para mim sempre tenha sido uma tortura... Um verdadeiro trauma: todo santo domingo, meus pais me obrigavam (sim, obrigavam!) a ir com eles a uma missa extremamente sacal, na qual um padre velho e gringo falava com uma sonífera voz coisas que eu não entendia. Eu tinha que ficar uma hora sem fazer barulho, me levantando e sentando o tempo todo, entoando frases repetitivas. Muito duro pra uma criança! O jeito foi inventar uma brincadeira: eu fixava os olhos em alguém sentado nos bancos da frente e apenas mudava o foco quando a pessoa se mexesse, partindo em seguida para outra “vítima”. Eu passava a missa toda me “distraindo” dessa maneira. Um saco...

Aos 11 anos, aflorada pelos hormônios da puberdade, saquei minha carta de alforria e, num belo domingo, fui veemente com o meu pai: “Não irei mais com vocês à missa. Só quando eu quiser.” E apenas aos 15 ou 16 anos quis voltar a uma missa, quando passei a fazer parte de um grupo jovem. Mas, cá entre nós, meu principal interesse era fazer amigos e arrumar namorado do que propriamente me aproximar de Deus!

E agora, aos 41 anos, lá estava eu na Igreja do Loreto com minha mãe. Engraçado é que, pela manhã, eu havia acordado muito angustiada. Parecia que todos os meus problemas tinham resolvido fazer uma convenção em pleno Dia das Mães, instalando-se bem nas minhas costas... Ir à missa, então, passou a ser uma vontade real, e não apenas para agradar minha mãe. Logo na porta da igreja, disse pra ela: “Olha, vim decidida a soltar meus bichos. Tô me sentindo carregada e é aqui mesmo que vou melhorar.”

Não deu outra... Senti emoções fortíssimas no grande galpão anexo à igreja – ela havia ficado pequena para tantos fiéis –, onde muita, muita gente estava lá porque queria. Logo me surpreendi ao ver que o chatíssimo órgão de outrora havia sido substituído por uma banda! Maior surpresa ainda tive quando, no início da missa, o padre e seus ajudantes entraram igreja adentro sob o canto animado entoado por vozes em uníssono e muitas palmas. A música dizia: “Deixa a luz do céu entrar, deixa a luz do céu entraaaaaar...” E eu cantando junto, batendo palmas amarradona e dançando quase num tímido rebolation! Sim, a luz estava ali. Senti isso.

Durante vários momentos percebi ondas de energia percorrendo meu corpo, entrei em meditação profunda e, acredite, não bocejei repetidas vezes durante a homilia como sempre fazia. E na hora de comungar? Iria ou não? No início da missa, disse a mim mesma que não iria. Minha mãe já tinha me avisado: “Só pode comungar quem se confessa uma vez por ano e quem vem sempre à missa.” Fiquei com essa sentença ao purgatório martelando na minha cabeça. Mas eu estava totalmente integrada àquele momento. Se eu não comungasse, seria como ir a uma festa e não comer o bolo. Seria como ir a um centro espírita e não tomar o passe.

Sem pensar duas vezes, me lancei avidamente à fila da comunhão logo que ela começou a se formar. Mesmo que estivesse cometendo uma heresia, eu queria a hóstia! Na hora de recebê-la, o padre olhou bem dentro dos meus olhos. Deve ter pensado: “Quem é essa tatuada que eu nunca vi por aqui?” Mas se pensou isso mesmo, não teve o menor efeito, porque senti um amor muito grande vindo dele. E voltei para o meu banco em êxtase, me ajoelhei e deixei o pranto rolar. Entreguei todas as minhas questões mal resolvidas naquela prece molhada. Ao fundo, ouvia uma música linda que dizia que Jesus estará com a gente sempre que sofrermos, mas que mesmo assim o que ele quer é um sorriso no nosso rosto.

Então me recompus e sorri. Minha alma sorria! Estava leve e agradecida por ter recebido tantas bençãos naquele guichê. O mais engraçado é que achei a missa muito parecida com as sessões espíritas de que participo. No Movimento de Amor ao Próximo (MAP), as pessoas chegam em desequilíbrio (como eu estava me sentindo), cantam músicas e ouvem palavras edificantes, desaguam suas emoções e saem de lá fortalecidas para encarar as dificuldades da vida.

Não tive dúvidas de que Chico estava certo... Diferentes guichês conduzindo a um mesmo lugar... Espero que um dia exista um guichê único. Quando os homens não precisarão se dividir em diferentes religiões, criando tanta animosidade. Peço a Deus que este dia chegue logo... Amém.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O primeiro a gente nunca esquece...

Quase todas minhas amigas já tinham beijado... E eu, do alto dos meus 12 anos, ainda era BV (boca virgem). Se bem que, nos anos 80, essa expressão nem existia... Eu ainda não tinha beijado de língua e ponto final! Selinho eu já tinha dado aos montes, porque sempre fui muito namoradeira. Meus namoros de criança nunca eram inocentes, tinha que rolar selinho. Lembro do meu primeiro namorado, o Marlan, quando eu tinha uns sete ou oito anos. Minha mãe – esse poço de inocência – me deixava ir brincar sozinha na casa dele. Chegando lá, o menino me atacava, rsrsrs. Mas não passava do selinho, claro.

Depois de muitos namoradinhos na escola, tive o último da minha fase inocente, o Cacá. Ele havia sido meu ex, mas, aos 11 anos, voltamos a namorar. E eu, já mocinha, estava crente que agora a coisa ia esquentar. Um belo dia, o Cacá me pediu um beijo. E eu, cheia de má intenção, levei minha boca até pertinho do rosto dele. E não é que ele me deu apenas um selinho? Fiquei passada! E mais passada ainda fiquei quando ele, no dia seguinte, terminou comigo alegando que eu não sabia beijar. Vai entender os garotos!!!

Um ano depois, então, eu ainda amargava a aridez da minha boca, que ansiava por um beijo real, um beijo de língua! Com apenas 12 anos, eu já tinha muita liberdade. Ia sozinha com minha turma de amigos à praia do Flamengo (o famoso Brejão) e, lá, conheci mais e mais gente. Parte desse pessoal era do grupo jovem da Igreja Santíssima Trindade. E, para a minha mãe, não havia mal algum eu estar sempre com eles. Galera de igreja, sabe como é. (Sabe como é coisa nenhuma! Esses são os piores, haha!)

Pois bem, a turma da praia era formada por jovens de todas as idades. Eu devia ser uma das mais novinhas. Mas tinha também gente com 17, 18 anos... E um deles era o Márcio. Um cara charmosinho que começou a me dar o maior mole. Eu tinha 12; ele, 18. Nos dias de hoje, Márcio correria o risco de ir preso como pedófilo. Mas, naquela época, eu era uma mulher de 12 anos (com corpo e cabeça de mulher) e ele era um garoto de 18 anos (infantil como a maioria dos rapazes...).

Reparei que ele estava a fim de mim. Comecei a dar condição. E foi ali, sobre as areias escaldantes do Brejão, em plena luz do dia, que eu dei o meu primeiro beijo. Esquisito como todos os primeiros beijos. Áspero e tenso como todos os primeiros beijos. E dado muito mais para mostrar às amigas que eu também já beijava, do que propriamente para atender a um anseio do coração.

Como acontece com a maioria dos adolescentes na sua despedida de BV, tinha uma plateia assistindo à cena. Depois, voltando para casa, não demorou para minhas amigas me pilharem: “Ana, você tá maluca? O Márcio tem mau hálito!!!” E eu: “Maluca estão vocês! Se eu, que cheguei a menos de um centímetro de distância dele, não senti mau hálito algum, como é que vocês sentiram?”

O fato é que tomei um balde de água gelada. Como assim? O cara que eu beijei pela primeira vez tinha mau hálito???? Caí na pilha... É claro que elas estava me zoando, mas fiquei atordoada... No fim de semana seguinte, não fui à praia porque estava morrendo de vergonha. Mas resolvi ir à missa dos jovens, no domingo à noite, decidida a tomar uma atitude muito importante. Ao final, quando todos os jovens se reuniram para bater papo no pátio interno da igreja, fui falar com o Márcio. Ele me recepcionou com um lindo sorriso e um grande abraço, já querendo partir para mais beijinhos. Mas eu sentenciei: “Não me leva a mal não... Mas quero ser apenas sua amiga...”

Burra, burra, burra!!!!! Mil vezes burra! Eu podia ter tido meu primeiro namorado aos 12 anos, mas, por pilha dos outros, adiei o projeto... Depois do Márcio, acho que fiquei uns dois ou três anos sem beijar novamente. O maior vacilo!!! Mas depois que retomei a prática, não parei mais, rsrsrs...

Por que eu escrevo estas reminiscências da minha adolescência no Flamengo, nos saudosos e deliciosos anos 80? Devia esse post à minha filha Milana, de 12 anos, que tantas vezes riu quando contei para ela sobre minha primeira experiência desastrosa. Desejo que, quando chegar a hora do primeiro beijo dela, que seja um momento mágico e menos atrapalhado! Vai que é tua, filhota!

PS: Achei linda essa ilustração de Maurício Pierro, que encontrei em http://cimitan.blogspot.com/2007_07_01_archive.html. Retratou muito bem o beijo entre adolescentes e suas espinhas... Espero que Pierro considere aqui uma homenagem ao trabalho dele, e não um roubo de direito autoral...