domingo, 13 de setembro de 2009

O fantasma das Bienais passadas volta a assombrar


Eu não queria ir. Juro que não queria! Mas, ao ler no jornal pela manhã que um certo estande estava recebendo contos dos visitantes pra publicar os melhores em um livro, fiquei tentada. Os planos eram ir à praia com a família. Domingão de sol tipicamente carioca. Pensei em deixar essa história de conto pra lá e cheguei até a botar o biquine. Só que, quando todos já estavam prontos, me deu a louca: “Não quero mais ir à praia. Vou pra Bienal!” Iria só até o tal estande do concurso de contos e, de lá, daria meia-volta pra casa. Nada contra a Bienal (amo livros, todos sabem), mas tudo contra muvuca, ainda mais num dia de domingo. Programinha de índio...
Ainda de olhos esbugalhados por minha brusca mudança de rumo, meu marido me desembarcou em frente ao portão D do Riocentro e seguiu pra Reserva com nossas filhas e um bolsa térmica cheia de Skol. Deixei isso tudo pra trás em troca da Bienal... Comecei a caminhar rumo ao portão, quando fui avisada por seguranças pouco simpáticos: entrada de pedestres só pelo portão H. Faltavam, portanto, o E, o F e o G. Cada um a quilômetros de distância do outro. Não perdi a linha. Aproveitaria pra fazer o meu footing do dia. Do alto de minhas sandálias de salto alto anabela, sob um sol escaldante, caminhei pela ciclovia no entorno do Riocentro achando que o portão H não existia, fazia parte apenas de um conto de fadas. Mas lá cheguei e, em frente a ele, nada de carruagens. Apenas vários ônibus, de onde descia o povão. E eu fazia parte do povão!
Andei mais um bocado até chegar à fila pra comprar meu ingresso. Nossa, o que era aquilo? Sabe fila única das Lojas Americanas, que vai serpenteando sem parar em meio a guloseimas e outros produtos pra compra por impulso? Mil vezes pior! E com o agravante de não ter nenhum docinho pelo caminho pra aliviar aquela depressão... Bem, até que o fim daquele martírio chegou rápido. Não fosse o fato de, ao final dele, eu ainda ter que ir pra outra fila diante de um dos vários guichês. O que não se faz por amor aos livros?
Ao entrar na Bienal, fiquei aliviada ao ver que aquela multidão se dispersava bem ao longo das largas alamedas entre os estandes. E logo de cara vi um grande mapa no qual procurei onde ficava a tal editora. Eu estava no pavilhão laranja. Era no verde. O último de todos... Lá fui eu, decidida a tomar uma única reta pra não perder tempo. Caminho suficiente pra presenciar algumas cenas bizarras, como uma fila gigantesca repleta de mulheres na faixa dos 20 anos – eu disse 20 anos! –, todas usando uma coroa de princesa. Efeito Meg Cabot! Só poderia ser pra assisti-la...
Continuei minha peregrinação. Os estandes estavam bonitos, mas eu não tinha vontade de parar em nenhum. Mas o da Livraria Saraiva me chocou. LOTADO! Daí vi que a camisa dos vendedores já anunciava que TODOS os livros ali estavam com desconto. Bem, sinceramente, prefiro comprar pela Internet, com a ajuda do Bondfaro, do que me acotovelar em busca de 10% a menos no preço do livro.
Segui adiante e um pequenino estande todo dark chamou minha atenção: editora Intrínseca e seus livros de vampiros teen... Também lotado! Cheio de adolescentes tirando fotos na frente das paredes revestidas pelas capas dos livros de Stephenie Meyer, como se ali estivesse o próprio Robert Pattinson. Fenômeno interessante... Vi também a maior palavra-cruzada do mundo no estande da Ediouro e quase fui lá dar minha contribuição. Mas estava obstinada a seguir meu caminho sem cair em tentações.
Até que elevei meu campo de visão e me deparei com um grande espaço privê flutuando sobre os estandes com a seguinte inscrição: SALA DOS AUTORES. Um frio subiu pela minha espinha. Será que algum dia eu teria a oportunidade de adentrar esse espaço vip? OK, chegou a hora de eu contar um segredinho pra vocês: NÃO GOSTO DE FEIRAS DE LIVROS, NÃO GOSTO DE BIENAL! Fico mal-humorada como o Scrooge, sentindo-me assombrada pelos fantasmas das bienais passadas: por que não tem nenhum livro meu ali naquelas prateleiras? Tá bom, contei meu ponto fraco. Sou uma escritora com dor-de-cotovelo. Mas ainda uma escritora e, por isso, continuava com meu conto debaixo do braço rumo ao estande da tal editora.
Finalmente cheguei ao pavilhão verde. O meu estande-alvo era bem ao lado da Floresta de Livros, onde as crianças poderiam ver árvores falantes e outras cositas más. De perto, achei tão pobre... A mídia parecia mostrar algo mais majestoso. Mas, tudo bem, vamos deixar as coisas majestosas pra Meg Cabot... Ufa, encontrei o estande almejado. Entreguei meu conto. Deu tudo certo. Hora de tomar o longo caminho de volta. Segui pela mesma alameda principal – meus pezinhos não aguentariam ziguezaguear por nem mais uma quadra. E, agora, confissão número dois: sucumbi diante de um estande de livros infantis, deixando lá 43 reais em troca de nove livros de boa qualidade pras minhas filhas. NOVE LIVROS POR 43 REAIS. Magias da Bienal...
No trajeto de volta, algum fenômeno deve ter acontecido. Eu caminhava contra uma horda de gente que não havia antes. Meu Deus, a hora do almoço tinha passado e todos resolveram ir pra Bienal! Socorro, me tirem daqui! Parecia a rua da Alfândega na véspera do Natal. Me senti como um salmão nadando contra a correnteza pra desovar. Num corredor ao lado, vi outra enorme fila de adolescentes. Aproveitei pra sair daquela hola humana e fui ver quem era o autor que havia conseguido tamanha proeza. No caminho, ouvi um rapazote dizer pra outro:
“Pô, essa Thalita Rebouças é boa mesmo, hein?” Senti que eles não estavam comentando sobre os dotes literários da autora. Cheguei bem perto e... fala sério, Thalita! Você realmente é uma gata e uma sortuda! Autora pop star no Brasil é raridade. Que venham muitos outros e outras! (E que eu seja uma delas, haha, sonhar não custa!)
Agora faltava pouco, bem pouco pra eu sair daquela situação constrangedora que é Bienal em dia de domingo. Avistei novamente o pavilhão laranja e um táxi amarelinho me esperando. Peguei um tremendo engarrafamento pra voltar, mas tudo bem: estava sentadinha num banco macio, ar refrigerado congelante, folheando os livrinhos que havia comprado e com o coração cheio de esperança de que meu conto será selecionado. Se não for, tudo bem. Valeu pela experiência e pelo fato de a Bienal ter me impulsionado a quebrar o jejum e voltar a escrever no meu blog.

BLOG QUERIDO, ESTAVA COM SAUDADES DE VOCÊ!!!!!!

Momento de reflexão – Se a Bienal consegue reunir tanta gente, por que o mercado editorial no Brasil é tão sofrido?