
O telefone tocou e, poucos segundos depois, o chão se abriu sob meus pés. Em seguida, arrepios e mais arrepios percorreram o meu corpo. Era como se ela estivesse ali ao meu lado, me amparando no instante em que eu recebia a notícia. O choro não veio na hora. O choque foi tamanho que estancou minhas lágrimas.
O que você faria se descobrisse que uma grande amiga sua, parceira de tantos momentos, se despede da vida aos 30 e poucos anos? Sem dar nenhum sinal de que isso estava prestes a acontecer, para que você se preparasse... O que você faria se visse os sonhos de alguém que você ama muito serem interrompidos por conta de um coágulo que migra pelas suas veias até entupir sua respiração? Assim, do nada...
Há um ano tive que enfrentar essa situação e não foi nada agradável. Minha amiga Martha Lavenère – uma das pessoas mais doces, prestativas, engraçadas, solidárias, companheiras, agregadoras que eu já conheci... – fez a passagem e nos deixou aqui, boquiabertos. Tenho certeza de que ela, em sã consciência, jamais planejaria fazer uma coisa dessas com seus amigos. Logo ela, que movia céus e terras para nos ver sempre felizes. Não, esse não foi um plano da Marthinha. Foi um plano de Deus. E, quanto a isso, só temos que acatar os seus desígnios e saber que, se aconteceu, é porque foi o melhor para ela dentro de um contexto que está muito longe da nossa compreensão.
Ainda assim, foi um dos momentos mais tristes da minha vida. Mas, para sofrer menos, fiz o contrário do que Vinícius diz em seu poema. Do pranto, fiz o riso. Não choro mais, apenas sorrio. Cada vez que penso nela, lembro dos bons momentos. Chego a dar gargalhadas lembrando das nossas bobeiras juntas. E quando me sinto desesperançada, me recordo de suas frases de incentivo me valorizando, me fazendo enxergar o meu verdadeiro potencial.
Às vezes sonho com a Marthinha... O último foi na noite do meu aniversário, na semana passada. Virei-me para ela e disse: “Você não está me devendo nada, não?” E ela, então, me dava um grande abraço: “Claro! Feliz aniversário!” Hoje, amiga, sou eu quem te deseja feliz aniversário. Sim, porque acredito que, agora, dia 6 de março é o dia do seu renascimento. Você renasceu para o mundo espiritual, que, a meu ver, é o nosso lugar de origem e de destino. E, quando você voltou praí, deve ter sido recebida em festa, por conta do tanto de coisa boa que fez aqui nos seus poucos anos de vida.
Sabe, amiga, talvez você tenha até se revoltado por ter ido tão cedo. Mas, veja bem, num dos últimos e-mails que nós trocamos, você se queixou de que não estava fazendo todo o bem pelos outros quanto gostaria de fazer. Ora bolas, Martha! Claro que estava! Senão, você ainda estaria aqui com a gente. Sua missão na Terra havia chegado ao fim. Uma missão bem-sucedida, com certeza! Bom é saber que você continua ajudando a todos nós daí mesmo, onde se encontra, e ainda com mais força! Afinal, pertinho de Deus fica mais fácil pedir pela gente, não é?
Apenas te peço que não se preocupe excessivamente com seus amigos e amores que ficaram... Nós aqui vamos tocando nossas vidinhas, enfrentando nossos desafios, curtindo nossas alegrias e aprendendo com nossas tristezas e decepções. Quanto a você, bela, cuide-se bem por aí. Lembre-se do seu velho ditado: tudo flui, tudo flui, tudo flui...
Para nós, há um ano, tudo está fluindo...
Beijos com amor, minha querida! Nunca se esqueça que o amor não morre nunca e permanece nos unindo!
PS: Sua afilhada Marie te manda um beijo, um miado e uma lambida!