sábado, 14 de novembro de 2009

Deus numa esquina


Ela olhava o relógio a cada minuto. A hora passava muito lentamente. Era mais uma viagem a trabalho e ela estava a postos numa esquina de Belo Horizonte, esperando os ponteiros chegarem às 14 horas para poder tocar na casa do cliente. Antecipar a visita seria deselegante. O jeito era aguardar...

Parou numa esquina, a poucos metros do prédio aonde iria. Recostou na murada de uma casa antiga – que destoava dos prédios modernos daquele bairro chique – e acomodou as nádegas num banco improvisado formado entre o muro e a grade. Começou a reparar na vida ao seu redor. Estava num cruzamento entre duas ruas muito bonitas e arborizadas. Viu por ali desfilarem domésticas passeando com minicães da moda, quarentonas saradas aparentando vinte anos e alguns carros com design arrojado. Mas naquela esquina, por dentro dela, não havia beleza nem modernidade.

Há duas semanas, ela havia sofrido um baque emocional muito forte. Uma perda familiar. Mas uma perda que se mantinha viva, respirando. Por trás das grades. Não há nada a fazer quando alguém que se ama segue um caminho torto. A não ser derramar lágrimas de dor e tentar retomar o caminho reto, ainda que a passos trôpegos. Era o que ela tentava fazer agora. Retomar as viagens a trabalho, seguir sua rotina. Mas ali, parada naquela esquina, foi obrigada a ficar vários minutos em silêncio consigo mesma. Inevitável a dor emergir, como a comida em refluxo, queimando a garganta e deixando um gosto extremamente ácido na boca.

Suspirou. Respirou fundo. Olhou para o chão. De repente, teve vontade de olhar para o céu. Os prédios altos serviam como moldura para uma fresta de céu em forma de cruz. Engraçado... – ela observou. Um lado estava bem azul. O outro ostentava uma nuvem cinza bem carregada, que choraria a qualquer momento – tal como ela. Quem dominaria aquela paisagem: a luz do céu claro ou a tristeza plúmbea? Pensou: “Meu Deus, faça com que minha vida volte a ser azul como vejo parte deste céu. Afasta de mim, Pai, essas nuvens pesadas que insistem em me dominar.”

Suspirou novamente. Respirou fundo outra vez. Olhou para o relógio: 13h59. Desacoplou-se da murada e foi andando lentamente para o prédio-destino. Ao atravessar a rua estreita, sentiu subitamente um perfume muito conhecido. O de seu pai. Quantas vezes, antes de ele morrer, ela o presenteara com aquela fragrância... Olhou para os lados e não havia ninguém por perto que pudesse estar usando aquele perfume. Ninguém. De repente, um cheiro de flores invadiu o ar ao seu redor, formando uma atmosfera de aroma indescritível. Olhou para as árvores, olhou para os canteiros, olhou para os prédios daquele pequeno trecho em que caminhava. Não havia flor em canto algum.

Sentiu-se amparada. Sentiu-se ouvida. Naquela esquina, olhou para o céu e conversou com Deus. E Ele, por meio dos aromas, a respondia: “Estou com você, minha filha. As nuvens cinzas irão passar. Mesmo enquanto ainda estão com você, também Eu sigo ao teu lado.”

Tocou no interfone do prédio chique de Belo Horizonte às 14 em ponto. Seguiu trabalhando, ainda um pouco pesada. Mas aprumou-se para a vida. Entendeu que, na batalha entre o azul e o cinza, o azul haveria de ganhar.

domingo, 13 de setembro de 2009

O fantasma das Bienais passadas volta a assombrar


Eu não queria ir. Juro que não queria! Mas, ao ler no jornal pela manhã que um certo estande estava recebendo contos dos visitantes pra publicar os melhores em um livro, fiquei tentada. Os planos eram ir à praia com a família. Domingão de sol tipicamente carioca. Pensei em deixar essa história de conto pra lá e cheguei até a botar o biquine. Só que, quando todos já estavam prontos, me deu a louca: “Não quero mais ir à praia. Vou pra Bienal!” Iria só até o tal estande do concurso de contos e, de lá, daria meia-volta pra casa. Nada contra a Bienal (amo livros, todos sabem), mas tudo contra muvuca, ainda mais num dia de domingo. Programinha de índio...
Ainda de olhos esbugalhados por minha brusca mudança de rumo, meu marido me desembarcou em frente ao portão D do Riocentro e seguiu pra Reserva com nossas filhas e um bolsa térmica cheia de Skol. Deixei isso tudo pra trás em troca da Bienal... Comecei a caminhar rumo ao portão, quando fui avisada por seguranças pouco simpáticos: entrada de pedestres só pelo portão H. Faltavam, portanto, o E, o F e o G. Cada um a quilômetros de distância do outro. Não perdi a linha. Aproveitaria pra fazer o meu footing do dia. Do alto de minhas sandálias de salto alto anabela, sob um sol escaldante, caminhei pela ciclovia no entorno do Riocentro achando que o portão H não existia, fazia parte apenas de um conto de fadas. Mas lá cheguei e, em frente a ele, nada de carruagens. Apenas vários ônibus, de onde descia o povão. E eu fazia parte do povão!
Andei mais um bocado até chegar à fila pra comprar meu ingresso. Nossa, o que era aquilo? Sabe fila única das Lojas Americanas, que vai serpenteando sem parar em meio a guloseimas e outros produtos pra compra por impulso? Mil vezes pior! E com o agravante de não ter nenhum docinho pelo caminho pra aliviar aquela depressão... Bem, até que o fim daquele martírio chegou rápido. Não fosse o fato de, ao final dele, eu ainda ter que ir pra outra fila diante de um dos vários guichês. O que não se faz por amor aos livros?
Ao entrar na Bienal, fiquei aliviada ao ver que aquela multidão se dispersava bem ao longo das largas alamedas entre os estandes. E logo de cara vi um grande mapa no qual procurei onde ficava a tal editora. Eu estava no pavilhão laranja. Era no verde. O último de todos... Lá fui eu, decidida a tomar uma única reta pra não perder tempo. Caminho suficiente pra presenciar algumas cenas bizarras, como uma fila gigantesca repleta de mulheres na faixa dos 20 anos – eu disse 20 anos! –, todas usando uma coroa de princesa. Efeito Meg Cabot! Só poderia ser pra assisti-la...
Continuei minha peregrinação. Os estandes estavam bonitos, mas eu não tinha vontade de parar em nenhum. Mas o da Livraria Saraiva me chocou. LOTADO! Daí vi que a camisa dos vendedores já anunciava que TODOS os livros ali estavam com desconto. Bem, sinceramente, prefiro comprar pela Internet, com a ajuda do Bondfaro, do que me acotovelar em busca de 10% a menos no preço do livro.
Segui adiante e um pequenino estande todo dark chamou minha atenção: editora Intrínseca e seus livros de vampiros teen... Também lotado! Cheio de adolescentes tirando fotos na frente das paredes revestidas pelas capas dos livros de Stephenie Meyer, como se ali estivesse o próprio Robert Pattinson. Fenômeno interessante... Vi também a maior palavra-cruzada do mundo no estande da Ediouro e quase fui lá dar minha contribuição. Mas estava obstinada a seguir meu caminho sem cair em tentações.
Até que elevei meu campo de visão e me deparei com um grande espaço privê flutuando sobre os estandes com a seguinte inscrição: SALA DOS AUTORES. Um frio subiu pela minha espinha. Será que algum dia eu teria a oportunidade de adentrar esse espaço vip? OK, chegou a hora de eu contar um segredinho pra vocês: NÃO GOSTO DE FEIRAS DE LIVROS, NÃO GOSTO DE BIENAL! Fico mal-humorada como o Scrooge, sentindo-me assombrada pelos fantasmas das bienais passadas: por que não tem nenhum livro meu ali naquelas prateleiras? Tá bom, contei meu ponto fraco. Sou uma escritora com dor-de-cotovelo. Mas ainda uma escritora e, por isso, continuava com meu conto debaixo do braço rumo ao estande da tal editora.
Finalmente cheguei ao pavilhão verde. O meu estande-alvo era bem ao lado da Floresta de Livros, onde as crianças poderiam ver árvores falantes e outras cositas más. De perto, achei tão pobre... A mídia parecia mostrar algo mais majestoso. Mas, tudo bem, vamos deixar as coisas majestosas pra Meg Cabot... Ufa, encontrei o estande almejado. Entreguei meu conto. Deu tudo certo. Hora de tomar o longo caminho de volta. Segui pela mesma alameda principal – meus pezinhos não aguentariam ziguezaguear por nem mais uma quadra. E, agora, confissão número dois: sucumbi diante de um estande de livros infantis, deixando lá 43 reais em troca de nove livros de boa qualidade pras minhas filhas. NOVE LIVROS POR 43 REAIS. Magias da Bienal...
No trajeto de volta, algum fenômeno deve ter acontecido. Eu caminhava contra uma horda de gente que não havia antes. Meu Deus, a hora do almoço tinha passado e todos resolveram ir pra Bienal! Socorro, me tirem daqui! Parecia a rua da Alfândega na véspera do Natal. Me senti como um salmão nadando contra a correnteza pra desovar. Num corredor ao lado, vi outra enorme fila de adolescentes. Aproveitei pra sair daquela hola humana e fui ver quem era o autor que havia conseguido tamanha proeza. No caminho, ouvi um rapazote dizer pra outro:
“Pô, essa Thalita Rebouças é boa mesmo, hein?” Senti que eles não estavam comentando sobre os dotes literários da autora. Cheguei bem perto e... fala sério, Thalita! Você realmente é uma gata e uma sortuda! Autora pop star no Brasil é raridade. Que venham muitos outros e outras! (E que eu seja uma delas, haha, sonhar não custa!)
Agora faltava pouco, bem pouco pra eu sair daquela situação constrangedora que é Bienal em dia de domingo. Avistei novamente o pavilhão laranja e um táxi amarelinho me esperando. Peguei um tremendo engarrafamento pra voltar, mas tudo bem: estava sentadinha num banco macio, ar refrigerado congelante, folheando os livrinhos que havia comprado e com o coração cheio de esperança de que meu conto será selecionado. Se não for, tudo bem. Valeu pela experiência e pelo fato de a Bienal ter me impulsionado a quebrar o jejum e voltar a escrever no meu blog.

BLOG QUERIDO, ESTAVA COM SAUDADES DE VOCÊ!!!!!!

Momento de reflexão – Se a Bienal consegue reunir tanta gente, por que o mercado editorial no Brasil é tão sofrido?

sexta-feira, 6 de março de 2009

Um ano sem Marthinha


O telefone tocou e, poucos segundos depois, o chão se abriu sob meus pés. Em seguida, arrepios e mais arrepios percorreram o meu corpo. Era como se ela estivesse ali ao meu lado, me amparando no instante em que eu recebia a notícia. O choro não veio na hora. O choque foi tamanho que estancou minhas lágrimas.
O que você faria se descobrisse que uma grande amiga sua, parceira de tantos momentos, se despede da vida aos 30 e poucos anos? Sem dar nenhum sinal de que isso estava prestes a acontecer, para que você se preparasse... O que você faria se visse os sonhos de alguém que você ama muito serem interrompidos por conta de um coágulo que migra pelas suas veias até entupir sua respiração? Assim, do nada...
Há um ano tive que enfrentar essa situação e não foi nada agradável. Minha amiga Martha Lavenère – uma das pessoas mais doces, prestativas, engraçadas, solidárias, companheiras, agregadoras que eu já conheci... – fez a passagem e nos deixou aqui, boquiabertos. Tenho certeza de que ela, em sã consciência, jamais planejaria fazer uma coisa dessas com seus amigos. Logo ela, que movia céus e terras para nos ver sempre felizes. Não, esse não foi um plano da Marthinha. Foi um plano de Deus. E, quanto a isso, só temos que acatar os seus desígnios e saber que, se aconteceu, é porque foi o melhor para ela dentro de um contexto que está muito longe da nossa compreensão.
Ainda assim, foi um dos momentos mais tristes da minha vida. Mas, para sofrer menos, fiz o contrário do que Vinícius diz em seu poema. Do pranto, fiz o riso. Não choro mais, apenas sorrio. Cada vez que penso nela, lembro dos bons momentos. Chego a dar gargalhadas lembrando das nossas bobeiras juntas. E quando me sinto desesperançada, me recordo de suas frases de incentivo me valorizando, me fazendo enxergar o meu verdadeiro potencial.
Às vezes sonho com a Marthinha... O último foi na noite do meu aniversário, na semana passada. Virei-me para ela e disse: “Você não está me devendo nada, não?” E ela, então, me dava um grande abraço: “Claro! Feliz aniversário!” Hoje, amiga, sou eu quem te deseja feliz aniversário. Sim, porque acredito que, agora, dia 6 de março é o dia do seu renascimento. Você renasceu para o mundo espiritual, que, a meu ver, é o nosso lugar de origem e de destino. E, quando você voltou praí, deve ter sido recebida em festa, por conta do tanto de coisa boa que fez aqui nos seus poucos anos de vida.
Sabe, amiga, talvez você tenha até se revoltado por ter ido tão cedo. Mas, veja bem, num dos últimos e-mails que nós trocamos, você se queixou de que não estava fazendo todo o bem pelos outros quanto gostaria de fazer. Ora bolas, Martha! Claro que estava! Senão, você ainda estaria aqui com a gente. Sua missão na Terra havia chegado ao fim. Uma missão bem-sucedida, com certeza! Bom é saber que você continua ajudando a todos nós daí mesmo, onde se encontra, e ainda com mais força! Afinal, pertinho de Deus fica mais fácil pedir pela gente, não é?
Apenas te peço que não se preocupe excessivamente com seus amigos e amores que ficaram... Nós aqui vamos tocando nossas vidinhas, enfrentando nossos desafios, curtindo nossas alegrias e aprendendo com nossas tristezas e decepções. Quanto a você, bela, cuide-se bem por aí. Lembre-se do seu velho ditado: tudo flui, tudo flui, tudo flui...
Para nós, há um ano, tudo está fluindo...

Beijos com amor, minha querida! Nunca se esqueça que o amor não morre nunca e permanece nos unindo!

PS: Sua afilhada Marie te manda um beijo, um miado e uma lambida!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Fotos da vida

Era apenas uma foto. Em preto e branco. Amarelada. Beiradas gastas pelo tempo, passada de mão em mão. Não havia álbum luxuoso para guardá-la. Nem álbum simples. Ficava escondida entre as páginas de um velho livro. Nela, duas crianças. Um bebê gordinho, lindo. Mas não vestia roupas fofas como qualquer bebê. Sequer fraldas tinha, muito menos cueiro. Bumbum sentado direto num chão de terra batida. No rosto, um grande sorriso alheio a tudo.

Ao lado dele, um menino de uns três anos. Com shortinho de malha simples e uma camisa na altura do umbigo, nitidamente rota. Já devia ter passado por muitos outros corpos de criança antes de chegar àquele. Estava de pé – pés no chão –, ao lado do irmãozinho como um guardião. Menino bonito! Cabelos alvos lisos, perninhas ligeiramente tortas... Seus lábios não sorriam. Seus olhos falavam por ele. Eram fundos, escuros. Escondiam ali segredos que só uma infância difícil pode saber. Havia um ar de maturidade, num corpinho de pouco mais de um metro.

E lá estava ela com aquela foto nas mãos. Mãos trêmulas. Uma lágrima rolou e quase caiu sobre o papel amarelado. Numa manobra rápida, ela evitou estragar ainda mais a envelhecida fotografia. Passou os dedos sobre o rosto para estancar qualquer outra emoção fortuita que ousasse sair. Sentiu sua pele tão amarrotada quanto aquela foto. Que passado era aquele, tão distante, que abrigava duas belas crianças numa pobreza tão doída?

Era o passado dela. De uma mãe que deu à luz não dois, mas sete filhos. Apenas os meninos mais novos haviam sido clicados por um vizinho, que depois lhe ofertou o fragmento daquele momento cristalizado em papel. E ela o guardava como relíquia protegida entre as páginas daquele livro sagrado, que permanecia sobre sua penteadeira em meio a alguns frascos de perfume e uma caixa com poucas jóias. Ela não era muito de jóias. Suas jóias mais preciosas estavam na sala, à sua espera.

Fechou o livro, olhou-se no espelho, retocou o batom cor de boca, ajeitou os fios brancos e levantou-se. De pé, passou as mãos sobre o corpo para assentar ainda mais o vestido de corte simples, mas elegante, que usava. Aquele era um dia especial e queria se sentir bem. Oitenta anos fazia... E a foto amarelada já devia acompanhá-la há quase sessenta. Por isso, não poderia ir para a sala encontrar seus convidados sem antes olhar a velha companheira que não a deixava esquecer quem ela era. Quem ela havia sido.

Mulher de vida dura, mulher batalhadora. Criou seus filhos praticamente sozinha, porque era como se companheiro não tivesse. Até que, um dia, realmente não o teve mais. Foi embora com outra. Pouca diferença fez. Trabalhava o dia inteiro, à noite ia à escola tentar aprender a ler, escrever e fazer conta. Conseguiu. Sua escadinha de filhos segurava a barra em casa. O mais velho tomava conta do mais novo, que tomava conta do mais novo, que tomava conta do mais novo... No fundo, todos os irmãos olhavam uns aos outros enquanto ela lutava pelo arroz e feijão de cada dia.

Parentes vendo aquilo quiseram dividir seus filhos. Cada um criaria um. Todos ouviram não como resposta. E ela continuou tocando sua vida. Quando se deu conta, os meninos já eram homens, as meninas já eram mulheres. E mais do que homens e mulheres, eram pessoas com força, garra, determinação. Haviam herdado da mãe. Mergulharam na vida sem medo e prosperaram. Formaram suas próprias famílias e a encheram de netinhos com fraldas descartáveis, roupas de grife e berços de ouro.

E todos a esperavam na sala. Quando ela saiu do quarto da boa casa em que hoje morava, foi recebida pela melodia do Parabéns entoada por corações cheios de amor e gratidão. Seus filhos, sua família! Sua razão de ainda estar viva para saborear mais este momento. Lá para trás ficaram os dias difíceis, em que aniversários, quando comemorados, eram regados a bolo barato e groselha. A mesa agora era farta. Mas isso era o que menos importava naquela hora.

O neto mais velho tratou logo de armar um tripé no meio da sala, no qual atarraxou uma moderna máquina digital. Ajeitou toda a família por trás da grande mesa. Ela ao meio. Apertou um botão, correu para unir-se aos outros e, cinco segundos depois, o flash espocou eternizando aquela cena. Inúmeros sorrisos, inclusive o dela.

Dois dias depois, o neto voltou com um presente nas mãos. Era um porta-retrato com moldura toda trabalhada, um luxo só! Por trás do vidro, a foto da família toda reunida, impressa em papel brilhante. Mas quem brilhava mais eram os olhos dela.

Quando o rapaz se foi, ela correu para o seu quarto, sentou-se na penteadeira e arrancou a foto de dentro do porta-retrato. Pegou seu antigo livro, abriu na página em que se encontrava a foto amarelada e, por trás dessa, acomodou a atual. Antes de fechá-lo, não resistiu e acariciou com seus dedos frágeis a foto de seus pobres meninos. Agora, esboçou um leve sorriso.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O meu sangue ferve por um careca

Nunca diga dessa água não beberei... E isso posso garantir, com grande conhecimento de causa, a qualquer mulher que ousar dizer que os carecas jamais serão merecedores de seus olhares apaixonados. Tá certo que, no clima de azaração, os olhos da mulherada tendem sempre a pender pro lado de um cabeludo do que de um careca. Mas, se você se permitir conhecer um, cuidado: o cupido pode te flechar.
Passei minha adolescência e início da fase adulta achando todo e qualquer careca um ser desprezível, de outro planeta. Pra mim, coitados, aqueles homens deviam ter um carma muito pesado para terem perdido seus fios tão cedo... Até que, aos 23 anos, conheci o Rômulo. Um cara malhado, gostoso... e com cabelos abaixo do pescoço. Nossa, ele me causou um outro efeito aversivo que sempre tive: falta de tesão por homens de cabelos compridos (e também por homens de terno e de farda, mas esse tema fica pra outro post...). Alguns meses depois, surpresa! Esse (então) amigo passou máquina 1 nos fios. Foi amor à segunda vista! Se Sansão perdeu a força quando Dalila cortou seus cabelos, o efeito contrário aconteceu comigo... Rômulo ganhou força e um lugar no meu coração. O qual ocupa há 15 anos...
A partir de então, tudo mudou no meu faro feminino. Descobri um novo universo de masculinidade que não passava necessariamente por uma vasta cabeleira. Bruce Willis foi o primeiro... Gente, o que era (e ainda é) aquele homem????? Adorava vê-lo em todo e qualquer filme, sobretudo naqueles em que ele aparecia sem roupa. Era duro de olhar... 1, 2, 3, 4...
Depois veio aquela moda dos que estão começando a perder os fios aderirem à gilete. Nossa, nunca fui tão grata assim a um modismo... O que é Marcello Antony de cabeça raspada? E Malvino Salvador? Uiiiiiiiiiiiiii!!!! Alguém tem um leque aí pra me abanar? Há também os gatos que estão começando a perder os fios, mas não perdem a formosura. Bons exemplos são Nicolas Cage e Jude Law. Continuando por Hollywood, Sean Connery é um exemplo de coroa charmoso. Mas esse, sei não... Andou aparecendo com implante em seus últimos filmes, mostrando que nem ele é chegado num careca. Preconceito puro!

Passando pro esporte, o fato é que, no Brasil, a maioria dos jogadores de futebol carecas são feios pra chuchu. Melhor nem dar nome aos bois, pra evitar qualquer processo de calúnia e difamação contra mim. Na natação, porém, temos um espécime raro: o Xuxa. Gatinho com ‘g’ maiúsculo. Partindo pro futebol internacional, o deus David Beckham já andou raspando os cabelos, embora não seja exatamente um careca. Deu prova de que é bonito de qualquer jeito. E tem um francês... um carequinha chamado Zidane... Ah, esse que se dane!

Para terminar minha singela listagem, vou falar de um amigo, grande blogueiro (http://mordeeassopra.blogspot.com/) que, em seu último post, homenageou as gordinhas (categoria em que me encaixo) e, por isso, está tendo minha homenagem em retorno. Fernando Freire Jr., meu brother, é um ótimo representante da categoria ‘carecas cheios de charme’.
E se você ainda não se convenceu de que há muita graça e beleza entre aqueles que vivem bem com suas cabeças brilhantes, tenho mais um argumento. Já reparou que a maioria dos homens que começam a perder os fios correm pra academia? Como lei da compensação, enchem o corpo de músculos e aí, caramba, quem vai querer saber de olhar para a cabeça deles? Quem se importa com a falta de algo em cima, se o restante é pura ‘dilícia’? Eu não me importo. E é por isso que digo: quem tem seu careca gostoso em casa, agarre-o bem! Depois desse post, acho que vai ter muita mulher à solta por aí em busca de um careca pra chamar de seu.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

De volta às aulas

Nunca achei que pudesse ser tão doloroso... Tanto tempo parada... As máquinas evoluíram, o ambiente agora tem ar-condicionado. Para entrar, tenho que digitar uma senha. E, para que eu pudesse iniciar as aulas, tive que primeiro ser avaliada por um professor. Mas, em vez de me passar uma prova escrita, ele tinha em suas mãos um estranho aparelho que beliscava minhas dobrinhas.

Para piorar a situação, o professor achava que tinha mais de uma pessoa na sala me avaliando. “Nós vamos estar te fazendo algumas perguntas.” Nós quem, cara pálida? Doeu mais ainda em meus ouvidos quando constatei que, em vez de erudição, só saía de sua boca frases de telemarketing: “Agora estaremos medindo sua coxa. Agora estaremos verificando sua postura.”

Ué, coxa, postura? Que escola é essa??????

É, pessoal... Beirando os 40 anos, estou de volta às aulas... numa academia! E é tudo muito estranho... Acho que desde a adolescência não freqüentava uma sala de musculação. Mas, da mesma forma que minha mente tem sede por conhecimento (fico devendo a vocês relatar como foi, no ano passado, minha volta à faculdade), meu corpo tem fome (e que fome, meu Pai!) em voltar a ter um corpo, digamos assim, apreciável. Foi uma fome descontrolada que me fez chegar aonde estou quando subo na balança (não digo meu peso nem sob tortura!). E agora tenho que lidar com a fome, com a ânsia, com o desejo de poder voltar a usar uma calça jeans com blusa justa sem que me dêem o lugar no ônibus para eu sentar. Mas, como nada acontece por milagre, o jeito foi me matricular nessa escola que promete moldar o corpo em 12 lições.

Só que, como disse na primeira frase, nunca achei que pudesse ser tão doloroso... No primeiro dia (ontem), fiz 30 minutos de esteira e uma hora de aula de... IOGA! Acredite: sofri mais na aula de ioga do que na esteira. Meu corpo enferrujado não conseguiu aceitar os comandos da professora que nos pedia para esticar, torcer, alongar... Achei que fosse sair da aula com um nó no corpo todo. À tardinha, já comecei a perceber que minhas pernas, sobretudo os glúteos, estavam doloridos. Tudo culpa de uma simples aula de ioga...

Hoje fiz uns 35 minutos de esteira e estreei minha série de tortura, digo, de musculação. Me senti ridícula naqueles aparelhos. No meu entorno, só via homens e mulheres com corpos sarados e roupas de ginástica da moda. E eu com um shortinho de cotton e uma blusa de malha larga. Francamente!!! Paguei muito mico... Não sabia entrar nem sair dos aparelhos e o professor me olhava com cara de pena, como se estivesse lidando com a avó dele.

Fui embora da academia tendo feito apenas a metade das repetições da minha série. Mesmo assim, já na escada de saída, percebi que havia algo errado com minhas pernas. Elas não obedeciam ao meu comando. Pareciam rochas trêmulas. Se é que existem rochas que tremem... Mas era exatamente isso o que eu sentia: pernas pesadas e vacilantes. Cheguei em casa varada de sede (ainda bem que não era de fome) e fui direto abrir a geladeira. Pra quê... O simples esforço de abrir a porta me fez lembrar que meus braços tinham músculos, agora imensamente doloridos. Bem, pelo menos isso irá evitar que eu ataque esse depósito de guloseimas ao longo do dia de hoje.

É, querido leitor... Você não sabe o esforço que estou fazendo pra escrever este post... Até meus dedinhos doem. (Espero, então, que você reconheça o meu sofrimento e deixe um comentário pra mim.) Faço isso, porém, porque quero deixar aqui registrado que posso vir a me tornar uma quarentona daqui a 19 dias, que posso estar acima do peso que já tive até mesmo quando estava grávida, mas sou brasileira e não desisto! Quero (e preciso) fazer as pazes com o meu corpo se quiser chegar aos 50, aos 60, aos 70... E se para isso tenho que passar por sessões pagas de tortura, vamos lá!!!!

Como diria o velho Paulo Cintura nos anos 80 (época em que eu adorava ir à academia): içaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O caminho de Adriana e o meu caminho

Dizem que santo de casa não faz milagre. É a mais pura verdade! Sou uma blogueira que não tem escrito em seu blog. Sou uma blogueira que não tem aproveitado esse espaço abençoado – e gratuito – que é a Internet para divulgar o trabalho que eu considero o mais importante na minha vida nos últimos anos. Mas, como também dizem, nunca é tarde...

Muitos amigos meus sabem que meu sonho é ter uma editora. Ou melhor, a minha meta. No ano passado, eu cheguei perto disso: me uni a uma (ainda) pequena editora, a LR, para lançar um livro que vi nascer desde a idéia: Meu Caminho, de Adriana Bragança. Me uni como? Dividi todos os custos com o Luiz Ricardo Escobar, dono da editora, e espero, em breve, dividir também os lucros. Antes disso, fiz todo o trabalho de coordenação editorial, aconselhando as melhores formas de a Adriana escrever e fazendo o preparo de originais (reduzindo um calhamaço a quase a metade). Depois foi a hora de encher o saco do meu amigo-irmão-sócio Sidney Ferreira para ele fazer toda a parte gráfica do livro (a capa e o miolo ficaram lindíssimos), coordenar os revisores, bater mil e uma bolas com o Luiz Ricardo a respeito de gráfica e papel, organizar tarde de autógrafos, distribuir releases para a imprensa, etc. Foi um grande aprendizado para mim.

No dia 18 de outubro, o livro chegou prontinho para nós ao meio-dia (sendo que o lançamento estava marcado para as 14 horas – uma adrenalina!). A tarde de autógrafos foi mágica, a Adriana autografou mais de cem livros sem parar, superando suas dificuldades para escrever. Tivemos alguma resposta da mídia, mas ainda não o que desejamos (a batalha continua quanto a isso). E agora, no início de janeiro, aconteceu o que mais queríamos: o livro, finalmente, chegou às prateleiras (inclusive a virtual) da rede Saraiva/Siciliano. Para mim, são pequenas vitórias que estão me fazendo uma profissional mais feliz.

Bem, só falta falar do livro, né? Adriana Bragança, aos 31 anos, se viu vítima da esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença incurável que tira os movimentos dos músculos progressivamente e, em cerca de quatro anos, conduz à morte – é a mesma doença do físico inglês Stephen Hawking, autor do best-seller Uma Breve História do Tempo. Os músculos da fala de Adriana foram os primeiros a enfraquecer, privando-a de seu trabalho como professora e do contato verbal com as filhas, Júlia, na época com quatro anos, e Luisa, ainda bebê. Aos poucos, foi perdendo a capacidade de andar. Mas nunca deixou de correr atrás de sua cura. Embora todos falem que é impossível.

Mesmo com o comprometimento dos movimentos de braços e mãos, ela escreveu o livro Meu Caminho, onde conta como era sua vida ativa antes da doença, como lidou com os primeiros sintomas (perda da fala, tombos, limitações físicas...) e como resolveu percorrer o caminho inverso ao de outros portadores de ELA, que se entregam ao abatimento à espera da morte.

O caminho de Adriana passa pela sua fé e pela sua alegria de viver; pela busca de ajuda em religiões e crenças, descobrindo que cada uma pode contribuir positivamente; pelas pesquisas com células-tronco, onde reside sua esperança de cura; e pelo estudo do poder da mente, a fim de atrair as mudanças pelas quais tanto luta.

Adriana traça um caminho que surpreende médicos, fonoaudiólogos e fisioterapeutas, por fazer avanços surpreendentes para um paciente com ELA. Sete anos após o diagnóstico da doença, continua trabalhando sua mente, seu corpo e suas emoções. E, em Meu Caminho, compartilha os segredos de onde tira tanta garra para reverter seu quadro e ensina grandes lições a quem esteja enfrentando qualquer tipo de problema.

Querido leitor, amigo ou não, compre o livro da Adriana e confira essa história de força e fé. Você vai gostar! Veja o que as pessoas estão achando do livro na comunidade “Livro Meu Caminho" (http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=72137305). E, se puder, me ajude a divulgá-lo!

Beijos em todos!